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Super combinado!

Posted by Eve Rojas on 2:15 PM
Vento de praias largas, deixa os pés no mar. A terra é firme e o sal frescor. Caminha com força e delicadeza, com o sofisticado exclusivo em cada pétala. Sorriso doce em gratidão aos seus, generosidade para aqueles que as lentes comuns não vêem. Longe de ser o mesmo, o diferente não difere tanto assim. Olhos a dirigir o rosto, paredes quase transparentes. Beleza em preto e branco. Gota de orvalho a deliciar-se na madrugada da alegria. Serenidade a repousar em conjunto com a gentileza da certeza. Lugares suavemente perfumados, banquetes suntuosos...Ela se faz conhecer pelo que não se vê. Felicidade sem nenhum toque de estimulante artificial. Se encanta com a noite, o dia, o belo. Combustível do eterno. No centro do seu tempo, sabe do conjunto de suas cores. Reconhece limite e possibilidades. Eu quero, eu posso, eu entendo. Do tu, se extrai experiência. Dos desejos a satisfação, das dificuldades, a consciência. Duplicidade relacional, ser e amar o outro. Para perguntas enormes, respostas pequenas. Na metrópole, ares de interior. Ser ou não ser nunca foi a questão. Família, amigos, namorada. Casamento. Cumplicidade, respeito. “Eus” e Ela. Sonhos de esperança, a vida entre montanhas e subterrâneos e Ela a deslizar sobre os arcos de íris. Mistério dos anjos. Essência da Natureza. Que alvoreça novas ocasiões. O espetáculo continua. Flui o destino, vento do sul e do norte, no encontro liberto das almas encantadas. Equilíbrio entre a outra amiga e sua amada. Meu encontro é breve para tua companhia singular. Conto do enfeite da caixa, estou a puxar o laço. Mas no brilho dos olhos de quem conheço, reinar é pouco para a luz anunciada pelo teu sol num sorriso. No fraterno do meu querer, uma taça erguida com pura água. Um brinde a tua estrela, a constelação das amizades. Então, tá super combinado?

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Entre a luz e a sombra

Posted by Eve Rojas on 11:25 AM in , , , ,
Em uma manhã comum, senti uma brisa refrescante e quente, o céu tinha uma luz inigualável. Logo a natureza envolveu meu corpo num aconchego desconcertante. Quis tirar meus pés do chão, fazer meus pensamentos dançarem. O flutuar é tentador. Voar, sem extra par, sensação aterradora. Caminho como se pequenas asas no meu calcanhar diminuíssem o peso do meu corpo tornando a estrada branda sem tirar a profundidade das marcas. Passeio nos arcos luminosos, navego em águas-de-ângeles. A vontade é de transformar pedra em arte. Grãos de areia se misturam tentando formar o teu nome enquanto a água de sal irrompe. Aquele pedaço de sombra num canto de chão, parece atrair mais do que qualquer raio de sol. Intermitentemente infiel. Desleal, mata por excesso de memória. Te tomo emprestado e outros me emprestam. Leve e breve no emergir e no desaparecimento. Surgimento do que era, o pior ou o melhor do que será? Reflexo da verdade ou do julgamento? Chantagem discreta e patética. Angústia aceita no perdido. Centralização do espaço, do ser, descentralização da narrativa. Fico por te querer. Necessária e desejada, tudo ainda ficção. Ou-ou por e-também. Vícios vistos, virtudes expressas. Guarda o avesso daquilo que não é. Se lança na frente do espelho. Estou no entre-lugar. No corpo breve e no leve do prazer. Nunca se sabe as cores de chegada. Delícia clara de delírio, saboreada em tom de impulsos com gotas de hesitação. Cenográfico tem sentimento? Representação assassinato do real, catarse quase “ab-reação”. Eu sou o múltiplo e o teu único. Novos em credo. Privilégio do presente do dom, receio sem impedir o fluir no apreciar do afeto. Transita da recepção direta da luz para a sombra fresca da árvore frondosa. Nada pede pressa. Solidão em romance. Com uma pluma começo a te desenhar entre as nuvens do nosso imaginário. Na experimentação entre os diferentes, a comunicação é chave. Terra e água em harmonia. Equilíbrio fino em sentimento de beleza. Fonemas, aliterações, rimas, ritmo. Formas em nuvens. Línguas em coexistência ambígua. Tudo, em pouco, muito. Mesmos erros nunca serão perdoados em outro. Não sou ninguém de ir, fico. Fico na certeza de amanhecer dentro das noites inimagináveis. Mas sem angústias de amanhã, quando o mesmo agora alimenta as veias-chamas do viver. Tempo, impulso, pulso no amor. Olha e vê: Em todo plano, arcifínio. No meu corpo tua pele, na minha boca, tua língua. Entre meus lábios o teu gosto, no meu peito tua partida. Descabida sátira de Eros. Teu caráter, minha poética. Dança no compasso, a nossa música toca na cadência do dilatar e contrair do ar a invadir os nossos pulmões. Sintonia em existência. Fábula inconclusa. Falta, paradoxo de presença. Alento estático, sossego em alegria esfuziante. Afeto inaudito a eclodir nos pequenos toques. Entre verdades, opostos, conjugações e prognóstico, eu poderia escrever um poema perfeito. Hoje. Mas quedo inerte, entre a luz e a sombra, te olhando, te olhando, te olhando... Recitando versos de sílabas conhecidas e banais para definir o extraordinário. Minúsculas eternidades. Os céus guardam o mistério e revelam minha contemplação. Bodas celestes para a essência, realidade para o desaparecimento. Besteiras consumidas, decreto a esperança.

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Cheiro

Posted by Eve Rojas on 6:11 AM in , , , ,
Ontem pus meu corpo cansado na cama com a certeza do sono. Escolhi a melhor posição, fechei meus olhos vermelhos e senti o teu cheiro. Cheirei o lençol, abracei o travesseiro, tirei as cobertas. Nada. Senti minhas roupas, meu cabelo, lavei o meu rosto. Nada. O cheiro parecia tomar o quarto, o corredor, a casa. Parei nas lembranças. Perguntei aos mecanismos psíquicos, indaguei a loucura. Sem entender como, me restava buscar o por que. Nada. Em agonia, agora era tua presença. Tua figura incólume, tua pertubação sem essência. Os poucos anos contigo se expandiram em terror e alívio. O fim sempre esteve longe. Horas de análise em um corpo em transe. Inércia motora, vida imaginária. Roteiro escrito com lápis de cera, personagens criados com massa de modelar. Anos de solidão em casa cheia. Mais uma ficção do quarto secreto, do cinza dos livros, das promessas em pó. Na gentileza brutal dos teus braços, meus olhos fechados em cada página. Ativação do sublime pelo caminho dos pensamentos para resgatar matéria em desespero. Pedaços violados, perdidos no afã por serem esquecidos. Folhas de outono para o inverno passado. Partida desejada e comemorada em culpa. Culpa paga à juros altos de uma dívida tua. Perecestes como eu. Pedaço a pedaço destruído aos poucos. Os teus no corpo, os meus na alma. Ansiei pelo teu colo, pedi a tua mão. Pervertestes meu desejo. Vias paraíso e me deixavas o grilhão. Estais a milhas de distância. Nessa publicidade esvaziada, a decomposição das formas de sociabilidade. Intimismo progressivo, equilíbrio conveniente. Infame promiscuidade sagrada. Por muito desativei meu aparelho pulsatório humano. Mas não terminei ainda. Todas as manifestações são fundamentais, todo bem espelho do mal. Problematizo a moral do desejo mas não perco o referencial. Consciência de si sem ansiedade, docilidade sem submissão. Transcendam o conhecimento. Quem mostra limite e finitude ao indivíduo? Eu só queria uma vida simples. Prescrições e procrastinações. Prepare-se que tudo está para vir. O ontem só é morto para quem não vê futuro. Desafios constantes aos modos de existência. Vontade de alteridade e uniformidade. Paradoxos sutis nas demarcações do ser. Corpos almejados, sefs possíveis. Práticas de si no conformismo e egoísmo do seu outro. Meus velhos valores para tua quase moral. Virei perita no processo reflexivo, me tornei censura para retóricas de risco. Fracasso do ato, sobrevivência do fato. Marcas da aversão, máscaras da aparência. Maquiados os sinais, o corpo é saudável. O cuidado é auto. Compensações aos deslocamentos, voltas ao mesmo lugar. Dores universais. Teus tapas doem como meus cortes. Sentimentos ambivalentes para contrários únicos. Fardos são trocados em uma soma sempre de zero. Erguem-se defesas, mas fronteiras são inseguras por definição. Nos usamos em um vício decaído, eu inocente e tu perdido. Abrem-se as portas, da sombra à luz. Partistes para a existência livre, mas ressoas no meu novo ser que não te ouve mais. Causa mortis? Acrasia. Todos donos do próprio destino em contato ou não com a divindade. Achem os supérfluos, os indispensáveis se perderam na curva de normalidade e o distúrbio virou padrão. Atirada ao mundo, me agarro a imaginação. Cansei de me roubar. Não te quero mas me preciso de volta. Queria lembrar com prazer do teu cheiro.


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Aço

Posted by Eve Rojas on 11:50 AM in , , , ,
Dia desses a moralidade bateu na minha porta reclamando humanidade. Ou será que fui eu que a bati na porta da honestidade? Ato moralmente correto, pessoa moralmente correta...a reflexividade é tão grande, a prática tão imagética que reconhecimento e imputabilidade viraram praticamente sinônimos. Descrever, normatizar, elucidar, onde se perdeu o significado da boa ação? Não sou a favor de requisitos ou prescrições, mas topar com exigências próprias dos outros é simulacro de juízo quando a intolerância se apresenta basilar. Juízos particulares sim, mas aliados ao bem. E não me venha polemizar sobre o conceito do bem, porque bem não é conceito, é preceito sentido na vibração de cada músculo. Nessa tábua de valores, eu não sou frios. Não pereço, me reinvento sem tornar essência norma, sem acreditar na variedade como totalidade. Em cada canto novas misturas, cerveja com chocolate, pimenta com chá. Multiculturalidade é permissiva, minha passividade ofensiva. Nenhuma neutralidade é existente. Dizem por aí da simbiose entre moral e caráter, eu prefiro olhar para intenções e motivações mesmo sabendo da incerteza da percepção. O mundo anda tão implausível. Agir humano cada vez mais se aproxima do aço, enquanto o aço corrói nas entranhas do, um dia, dito humano. Eu queria poder fazer boas colheitas sem duvidar da vistosa perfeição das frutas. É tão ingênuo ou mesmo imbecil acreditar em pomares onde hajam apenas frutas boas? Me abate com temeridade a crueza da resposta. Falíveis princípios, finitos modernos. Perambulamos na falta da raridade em sair de si e guiar o outro sem apontar caminho. É fácil ampliar limite quando a fronteira do outro não tem cerca elétrica ou armas de fogo. Hedonistas utilitários e suas segundas ordens. Exceções e singulares desrespeitados no cruzamento do perverso. Transvalorações do “Eu quero”. Pecados contra a alma nesses des-centros de gravidade, onde afirmação da vida é coisa ruim e sensualidade, atentado. Instinto é sobrevivência, mas tem de haver faro para maldade. Desejo virou instrumento, o extraordinário, ordinário. Em momentos esquecidos, nascimentos póstumos. Mergulho profundo sem sentir apinéia. Farsas desmistificadas em um amanhã que não me pertence e em um depois tudo que tenho. O constrangimento do hoje vivido por ontem imita o ser do devir e submergi ao ser jamais possível. Repugnantes boas razões de um êxito vivido em prefácio. Creia. Espírito, razão, não importa. Faça dele coração de desejo e mãos de coragem. A dor é viril e o futuro imaginado, castrado. Sofrimentos universais articulados, cortes únicos abertos. O sangue se esvai em gotas no caminhar cotidiano enquanto o conviva maior admira o vermelho. Violência dissimulada e dissolvida na ignorância da comodidade. O rei destrói o seu próprio império. Dignificam as fraudes, psicopatizam opinião. Arrogância da fábula. Petulância do patético. A exceção tornou-se fugitiva, a lealdade vã. Cada um move os eixos a sua volta de um mundo vago e inchado como odre. A regra é o véu da convenção. Lisonjas e comédias, o circo é perpétuo. Nessa vitrine iluminada, costelação em papel de parede, brilho em spray e fibras em iorgute de caixa. Vibrações a pilha, bom humor em pílulas e sonhos de supermercado. Tédio insaciável, infortúnios ávidos. Tudo se conjuga em primeira pessoa. Deve ser por isso a solidão dos verbos, dos sujeitos, dos predicados. Direto ou indireto, certo é há muito andarmos no intransitivo. Intransigentes corpos vagos detentos no ócio das convenções. Excitação de serpente ou ousadia de verme? Vou nem responder. Quero palavra e pão como feminino. Meu gêneros são de arbítrio próprio. Meus cânones desgenerizados. Meu vôo, alto. Alto. Salto completo entre atmosferas. Acústicos e estéreos na minha trilha de neve. Acalma língua! Xinga sem esforço no encontro da coisa em si. A corda do violão partiu e o acorde ficou inatingível. Acorde! Dores eternas com cantos constantes. Celestes ou não, há escala, há estrada. Há trilha conhecida e enigmática ao tocar o céu que não desaba, apenas inclina buscando a tua mão enquando o chão afunda.




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Pouco mais de trinta

Posted by Eve Rojas on 7:01 PM in , , , ,
Idéia-estrela, conheço o dado a mim por intuição. Inteligível e supra-sensível. Noutros tempos soube do sensível, nestes passeio no supra-inteligível. Não há domínios ou ditos mitos. A fábula é cotidiana, escrita com suor e olhares de chamas. Urde, rompe, estreita, laço valioso. Inclinação irresistível, cálculo irracional. Vitrine é pouco na amplidão do teu prisma de luz. Arquitetura do sublime admirada cá da terra em toda sua firmeza de vontade. Traduz, deixa eu te traduzir. Teu instinto por proteção, teu equilíbrio complexo. Tua simplicidade corriqueira, tua defesa de opinião obstinada. Doçura apimentada, criança a observar além da cegueira diária. Abre as portas para o mundo, apercebe o sussurro das brisas, mas sem endurecer a ternura. O tempo é curto, as dores inevitáveis e a esperança eterna. Escolha. Atrás da tua primeira capa, a flexibilidade. Aperta entre os braços, liberta a raiva, sente as lágrimas, diminui os espaços. Equilíbrio complexo. Meu controle disperso. Nas tuas mãos a lembrança do passado, delicadeza preservada na conquista da força nos teu anos de mulher. No teu olhar a busca inesgotável de uma retina a captar sentimento e transmitir tuas verdades. Coração que se abre aos poucos na aventura valiosa do conhecer. Na tua moleza gostosa, o embalar dos meus sonhos. Na quietude ou excitação, a tua presença de divino sândalo. Menina-Mulher a emocionar-se com outras épocas. A ser fiel aos seus, a acolher-se entre os raros. Vive seus desejos, sobrevive a experimentação de novos limites. Rasgos férteis. Onde houver pedra te ajudarei a plantar flores. Teu tamanho é infinito, tua coragem a ser descoberta, incomensurável. Estende a mão em apoio e em pedido. Virtude da Dama de pés descalços. Se tu mercúrio, minha mão aberta. As escolhas são de agora, os avanços advindos dos recuos. Nada é certo, a não ser o possível. Te destemo sem pressa saboreando o compreensível. Eu, de coração aberto. Curiosidade sem nenhum cinismo, superações de mim no ainda rascunho de nós. Tu, de coração aberto. De pele mergulhada na minha, de mãos entrelaçadas, de toque do profundo sensível. Impulsos inconscientes, subconsciente predecessor da atração, não importa. Encontro. Tateio teu corpo buscando o desnudar da tua alma, adormeço com ele entrelaçado ao meu sentindo cada noite única. Inebriada no teu cheiro, flertando com a instância de transcendência. Fortes, leves afagos. Sentido gerado nas pequenas descobertas. São pouco mais de trinta dias. Tudo inicia reescrevendo. Da intensidade poética circundante, ao desvendar dos interditos. Sentimento nada mítico, inexplicável pela natureza do afeto. Puro inocente imerso em transe de estesia. Nesse turbilhão meu interior silencia. Diante da essência do lírico, sujeito a unir-se a divindade. Surgimento do novo. Criação do um-com-outro. Nas minúcias do teu jeito, meu prazer rompendo em vermelho, amarelo, azul, verde, violeta. Rastros de borboleta. Roubada de Rafael, minha madona prima de Maria moldada em humanidade. Arte reencantando universo. No frescor da surpresa, nutro a minha paixão de desejo. Desejo de dissipar suas cores no ar, de te deixar soar alto. De te ter sempre entre os braços, de te amar irradiando alegria. A vida pulsa em êxtase, a própria poesia ocupou o lugar. Poucas são as palavras, poucos são os dias.

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Profundo (?) e inexplicável (!)

Posted by Eve Rojas on 2:19 PM in , , , ,
Essa existência irredutível, essa leitura impossível das palavras que saltam desconexas e polissêmicas da tua boca. Ah Capitu e esses seus, meus, olhos de ressaca, oblíquos mas nada dissimulados. Meu olhar passeia vigorosamente pelo teu corpo, anseia e se delicia apenas por tocar tua mão. Sinto a palma, admiro os dedos, descubro os contornos, entrelaço entre os meus. Não há pressa. Lado a lado nunca há percepção das horas, dos limites do exaustivo, do perecível. Foco no prazer de encontrar o teu olhar com o meu por aquele indecente milésimo de segundo antes do sol, dele, tomar conta. Minha criança não quer ir dormir. Tudo pode acabar... ou seria, nada vai se consumar? O problema mesmo é esse estranho desejo urgente de te amar devagar, suavemente. Visto meu corpo de pétalas para tocar cada poro da tua pele, ouso sentir Tom e chegar a Chico numa jornada sem tempo, nem data. Me perco no percurso e topo com Noel, descubro o ordinário sofisticado. O corriqueiro de encaixe perfeito para as singularidades, mas talvez o jantar não dê para dois. Enquanto isso Cartola me tem nos ombros, culpa tua, romântica senhora tentação. Quero romper sem me tornar insensata, desnudar as tuas frases, saber do exato. Não possuo mais tintas para pintar bem o medíocre. Pode chamar de cartesiano, defesas são construídas em bloco, amores em pequenos biscoitos da sorte. Sem figuração do real, sou tua idealista trovejante. Nada de exacerbação da estética ou da pouca conversa. Eu quero ver, mergulhar, apreciar, me entregar e te receber. Acredito. Risos homéricos para almas poéticas. A vida não ousaria ironizar os distintos. Estúpidos juntos na conjugação ingrata do verbo amar. O caminho é longo, ainda nem soletrei o “eu”, ou mesmo compreendo o verbo, mas confesso estupefata a descoberta do gosto por querê-lo. Futuro do presente de um particípio perfeito de passado definido. Queria fazer uma paráfrase de todas as tuas expressões, escândalo sensato, consciência do insano. Encontros estranhos. O efêmero não me assusta quando o ilógico guia e eu prefiro o mágico em cumplicidade. Pausas para os meus ouvidos perplexos no fluxo continuo da desarticulação dos teus fonemas. Meus olhos mal cabem em tanto brilho, tomado pelos teus num sorriso ridiculamente bobo. A embriaguez agora é outra. Timidez irremediavelmente bela, surpresa de uma estrela que eu avistei cadente. Mas tudo foi ontem, nem mesmo é remota lembrança. Inicio a questionar meus delírios, a maldizer a suposta ligação. De repente o negar de uma a outra, um esconder-se de nós duas. Frágeis ou autênticas alegrias, nada começou. Todo veneno tem antídoto, e todo real é teatro do fantástico. Incoerente ou louco, quero abraçar teu corpo como o mar, sentir teu cheiro aos poucos, acariciar teus cabelos, afagar teu rosto, mergulhar sentindo tua mão segurando a minha... Ou quem sabe remover o imã, perder a memória e te amar amiga. Já não sei mais quais foram meus ditos absurdos, mas... eu sei e você sabe.

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Vício inesperado

Posted by Eve Rojas on 5:57 PM in , , , ,
Lembro de quando amar um dia foi simples, quando aceitar o bem fazia sentido. Ultimamente o mundo não parece tão honesto. Anulo a metafísica e a moral? Talvez o tempo não seja de decadência mas de especulação. Ah, o transcendente e o eterno, nada mais que uma preparação para a morte. Está afim de usar a hermenêutica? Diálogos...Completos de vazio. Um dia ainda alcançarei a sabedoria do desapego da ação e do afeto. Embora suspeite ser mais diminuição do que aumento de valor. Elementar função negativa defensora. Só consigo encontrar a grandeza verdadeira no conhecido mais desconhecido amor. Quem sabe vejo a sua face além-túmulo. Piedade Wagner, piedade, porque sofro nas repetições e acordes isolados de Debussy. Dentro de uma dependência entorpecente, um dia por vez. Nunca disse muito, por temer não ser o bastante e o nada virou excesso. Te conheci com os dados imediatos do sentido. Logo me movi irracionalmente, encontrei o vício e a angústia latente. Os estóicos diriam: Aniquila! Paixão é substância má. Mas renuncio as honras do mundo, se tu vieres comigo a fortaleza dos loucos. Insanos por este afeto devastador, por essa vontade incessante de ter-te entre os braços. Fecho meus olhos, reconheço e louvo a tua respiração, vejo o teu sorriso-levado através dos teus olhos que me buscam por baixo. Não há como escapar, não há mais torre de marfim e julgamento é suicídio voluntário. Declaro a virtude corrosiva e a morte da moral. Todos falhamos. Tento salvar o meu pensamento, no percurso meus músculos dilatam até o romper, sinapses perdem a cadência, comunicações são interrompidas. Corpos livres em divisa, vozes presas em anseio. Agora, prefiro rimas à enigmas, escrevo músicas em clave de fá. Deus há de me mostrar o caminho, porque meu corpo se move para onde está o teu ar. É um mergulho sem orgulho, por uma descarga emocional breve e violenta, de um prazer descomunal. Palavra jamais será pura na colisão de nossas almas. Grito uma prece ao infinito, seguro minhas lágrimas, rogo por solo fértil para essa flor linda, cujas raízes estão a flutuar sobre a aridez silvestre. Bençãos a beleza ímpar, somos inocentes. Somos inocentes. Surgem respostas inesperadas para propícias intenções reprimidas. Haverá lugar para arrependimentos? Será possível esquecer o peso do fardo? Não adivinho futuro. Vejo o céu se inclinando, me mostrando o fogo, dizendo que entre as nuvens minhas mãos nunca irão queimar. Os pés continuam no chão. Deixe-me ficar aqui por um momento. O resto dos tempos é um mistério obtuso e eu sou tua pulsação presente. Serei eu a nova amante de Lady Chatterley?

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Fair lady?

Posted by Eve Rojas on 10:36 AM in , , , ,
De onde vêm o teu sorriso? Infantil, inocente, aberto. Compõe sutilmente teus olhos tristes. Me sinto em casa, me sinto abrigo. O que pesa tanto em teus ombros? Por que em teus movimentos só há defesa?Ataques de uma raiva sem nome, gritos de lágrimas nunca derramadas. Nada satisfaz a tua fome. Solta o freio e descobre abismo como ponte. Ninguém pode escolher o fim, embora trace o caminho. Tua embriaguez é dilacerante. Do melhor e do pior. Um reflexo cega o meu rosto como um punhal perfurando a minha pele lembrando o meu domínio. Um pedaço de carne sem vida diante da luz a muito por ti jogada a zona morta da memória. Olha nos meus olhos, me pede colo e beija outra boca. Nada impróprio na ausência de acordos. Traído é o outro no preenchimento dos delírios imediatos da alvorada. Alucinações amáveis. Tento na mesma medida manter da embriaguez a suavidade amável dos reinos encantados. Fico acordada até não ter mais controle, acordo com a maturidade reclamando sobriedade. Ou será os transtornos da idade? Mágica dos desígnios sem preço. Se do centro se pode ver tudo, por que escolher a margem? As paredes estão a ruir. De repente tua voz ao meu ouvido, como uma brisa leve, como uma carícia inesperada. Na minha expressão um contentamento sem nome, um instante de liberdade. Tocas minha mão como um adolescente desconfiado. Aperto forte, solto aos poucos, sentindo da palma a pontas dos teus dedos. Um cumprimento bobo e um sorriso de lado. Quantas descobertas acontecem durante uma simples olhada no espelho. No seu e no do outro. Mas, contigo, eu prefiro os mágicos! Os rastros de pólen aos rastros indeléveis. Sem crença, sem tempo, sem espaço absoluto. A contemplação do sublime, a experimentação do fantástico. Me aproprio do desvio e acerto no gosto da audácia. Êxito? Cachaça. Não pelo estado ébrio, mas pela morte do silêncio. Eu queria tocar a pele das coisas! Eu queria conhecer a origem do exótico, me misturar com os mitos, enlouquecer a realidade. Eu queria purificar o acerto até ele voltar a ser errado. Quero uma identidade convulsiva, um amor de Eliza, uma paixão de Julieta, um affair com Capitu, uma noite com Deneuve. Isso mostra a inexistência, o capricho da tua estada ausente, o sub-texto das tuas palavras descartáveis. Vai avançar em d4 ou preferir sciliana? Continuarei aqui na mesa, contando meus desatinos a Stella enquanto beijas mais uma boca esperando que eu seja tua próxima dama.

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Pecado abençoado?

Posted by Eve Rojas on 12:04 PM in , , , ,
Dos últimos sonhos de amor que ousei sonhar coleciono experiências e ladrilhos. Pálidas rainhas e rosados plebeus. Tua boca altera meu prazer. Meu centro de gravidade é o gosto. Amargo, doce, ácido. Tenho fome no palco da insanidade. Te bebo como vinho, te amo como água. Provo cada parte do teu corpo como pão santificado em gozo. A alegria ainda permanece como sensação escusa. Converte, não há nada silenciado. Perverte, não há espaço para o abreviado. Será preciso entregar meu eu constantemente a outra pele? No templo do deleite, faço uma prece ao pecado. Que o desejo preserve teus lábios famintos, que tua mão reconheça minha pele e teu gosto invada meus poros como mar imensidão em solo desértico. Fecha meus olhos com beijos cálidos, sinto raízes de alívio, experimento o sublime sem espetáculo. Nem tudo é benção ou maldição, talvez desafio. Contigo as palavras agem, mas as sombras permanecem. Entre os males, tu és o que menos me amedronta. É a minha realidade, não o nirvana. Religião do inesperado, a felicidade não é para o amanhã. Haverá adubo no plantio dessa flor? Há açúcar e eu quero sal. Tua paixão é um dardo lançado sem piedade. Ardo e apago, não sou descoberta exótica, nem oferenda a solidão. Cansei dos caprichos do correto, da mão pesada da consciência. Mas as dores não são mais suaves quando Dionísio vence Apolo numa luta de derrotados. Qualquer um dos lados, me embriago sem amanhã. Para quê norte se estrada não tem fim? Mais uma dose! Compro o alívio insignificante barato, sou Pierrot não Alecrim. Intensidade, duração...é preciso existir para poder transformar. Por hora passeio com beijos suaves nas tuas costas nuas, perco tempo na tua nuca, deslizo na tua curva feminina, atravesso o limite do teu íntimo, toco a tua exaltação, sigo teus movimentos lentamente progressivos num agitar do teu corpo ávido. Quero ele cansado, misturado com o meu. Confusão de pernas e suor. Quero novo sabor. Quero provar até a última gota de prazer, até a exaustão do teu suspiro. Voltar a tua boca e abraçar teu corpo inteiro. Ferve em contrações, atinge o clímax sem devaneio. Quero o incontrolável, quero o espasmo. Quero tudo de novo, e de novo, e de novo...dormir vestida pelo teu corpo, acordar com o renascer. Onde há pecado, há virtude. Ilusões em vão? Aceita a sina.

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Doce sabor de sal

Posted by Eve Rojas on 12:28 PM in , , , ,
Intensidade e vibração em linhas e movimentos. Barulho das ondas, gosto de sal. Tira o copo da minha mão, faz os meus pés descobrirem teus passos, pausas e vírgulas. Quando a melodia comum acaba, permanece com o teu corpo colado ao meu. Tão próximo até que os lábios se toquem, até que as bocas se encaixem. De repente não há sentido secreto no mundo. Boca e língua. Força livre, inoportuna sensualidade? Ou seria fetiche de madrugada? Noite de vento louco, tinha tudo para devastar e acariciou a pele. Nesse fluxo foste instante. Já não sei articular idéias claras. O óbvio deixou de ter propósito. O máximo do diverso toca o mesmo. Procuro guia na confusão dos desejos esquecidos. Encontro negação afirmativa sem página nua. Fio luxurioso no decorrer das horas. Experiência sem construção aparente... Algo aquece o silêncio entre nós duas. A despretensão. Quase impessoal, mas de toque, em mim, germinativo. Me abraço ao teu corpo e não sei se transfiguro a realidade. Sentimentos se intercruzam nessa atmosfera, mas não me invadem. É um afago suave, como se a sensibilidade se colocasse humildemente atrás da razão sem no entanto ir-se sem deixar um sorriso. Daqueles, bobos, vindos em sonho, nos lábios de quem se admira. Qual será a verdade entre a história e a imagem? Descobrir-se-á na passagem para outro tempo indeterminado. Te vivo e te temo, estrutura instável. Nem mesmo consigo ler o momento passado. Fora de nós mesmas, te diria em doce quebranto, não procuras mais minha mão, porque nem sob fogo eu a largaria. Reside dentro o estrangeiro, deixa. Pois se um dia o reconheço, será tornado nativo, então não serei mais passagem mas morada. Sigo o intuitivo e sou o corpo em palavra. Ouço tua voz a chamar e te abraço num canto de Vinícius. Brinco com a tua inocência e naquele segundo pareço estar em casa. Terna e delicada, arte em única devoção. Venustidade do ser. O divino é música para dança da tua harmonia. Entre estes fonemas cegos, quero a tua vibração última esfuziante no corpóreo apercebido, enquanto espero o punhal no ponto nevrálgico da palavra-amor. Não conheço o segredo das manhãs, mas improviso um jazz, ouço sem fúria e descanso sem melancolia. Foi lindo. Foi? Será? Estou perto o bastante para não te deixar cair, para acenar as borboletas e admirar as estrelas. Tudo é copo de água pura lavando as dores de uma alma marcada pelos cortes, obscura. Nas manhãs há Deus, despedida e cogumelo sagrado. Me enfeito de sorte e te espero em Tom, ao tom da incerteza.

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Anjo sem halo

Posted by Eve Rojas on 11:17 AM in , , , ,
Em que centésima fila de farelo branco de neve a minha narina repousou para te trazer a vida? Crua. Tua carne não me amedronta. Sei, mesmo inteira, tenho tão somente teus pedaços. E gosto. Pouco me parece tanto. Último gole de vinho das várias garrafas degustadas em atos de turbulência. Taças intactas, corpos imóveis, desejos revirados. Pobre da moral, vítima de nós duas. Tudo voltará ao seu lugar, delírio é reversível. Me torno lúcida aos poucos pelas palavras na tua língua, ou seria pela tua língua em minhas palavras? Nitidez esquisita. Espasmos reais e vapores que se singularizam. Sou teu segredo sujo, és o meu erro inculto. Qual o próximo passo? Te fazer o jantar? Talvez, hás de responder, como uma dama de luxo dos antigos cabarés. Essa voz doce e esse corpo lascivo! Te afasta de mim, tépido poente. Te faço mínima e te quero mais, mas não ouses dizer ser minha. Não tenho nada, tudo faz parte de um grande acordo de empréstimo. Te estimo e te mimo, te preparo para ir ao amanhecer. Feliz, mas desconfortável. Como se o rio corresse ao contrário. Trabalhas o teu poder enquanto eu perco o sangue. Quem ganha, quem perde? É um jogo vazio. Ganha o instante e perde a eternidade. É hora de ir e teu corpo me chama, é hora de ir e tua boca passeia na minha. Minhas mãos desnudam tua pele, minha sensibilidade toca a tua... O perigo é iminente, das alturas a noite nos acoberta. Estamos no limiar. Subir no muro é metáfora. Já saltamos, falta apenas escolher o local da queda. Saber da busca só faz ter certeza da distância. Reconhecer o vazio é entender a inexistência do amor. Não precisas definir a tua cor, o arco luminoso continuará no mesmo lugar. Cura, corta, colore, escolhe, chora e põe a fora as faces que te faz ser. Verdades não são apenas para ser ditas, são para ser vividas. Não trago cansaço para teu tempo e espaço, marco compasso nessa sintonia sem pressa. Sou o gesto bravo que não se ensaia, o breve. Gota de cristal em mar de vidro. Não vai embora, não ainda. Brisa suave há de virar tarde purgatório? Eu ei de rogar clemência, por ser outro e não ousar ser um. De certo não sei sair. Desígnios torpes de um destino devorado em pó. Sopra! Logo terás nova conjuntura desenhada pelo ar que te mantém a vida. Em dias de sol também é preciso brilhar. Eu estou no ciclo das águas, abismada com a imensidão, esperando subir, me unir, cair e me dissolver no humano até chegar a lama que cobre o teu chão. Próxima parada? Reciclagem. Águas turvas são para as sombras cuja escolha foi não existir. Não me absorves, sou fogueira de mil sóis. Diante dos meus olhos teu feitiço há de acabar, mas segurarei a tua mão. Memória inoxidável. Sabor chocolate, delícia intoxicante. Te bebo, me embriago, assino e renuncio. Tua crença na santidade do desejo me tortura, sou anjo sem halo. Minha divindade é duvidosa e minha carne demasiado perecível.

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Espere por mim

Posted by Eve Rojas on 1:57 PM in , , , ,
Não estais sozinha esta noite. Na pele cortes rasos, assimétricos. O corpo se divide em negativo. As velas queimam lentamente, o fogo e o aroma é cena do insano. Dentro um vazio inculto, fora doídos músculos inexplicáveis. Tenho contado até que eu acabe. Vejo o fim sem reverso. Agüenta até lá. São tantas moletas diárias para quem só precisa ficar de pé. Dores fantasmas em membros reais. Sempre há linha no telefone quando se queria apenas ouvir o sinal de ocupado. Eu não estou lá. É engraçado como acreditamos não saber mais tentar. Vitimização irônica para quem acredita em coragem. Não consigo me dar o que preciso. O som do relógio irrita os olhos denunciando uma emoção persistente nas pálpebras. Será uma emboscada do destino a essa hora? Morreria eu com as armas nas mãos. Paradoxalmente a pressão me mantém viva. Atmosférica. Ensaios de adeus a uma vida inteira de desejos. Já não tenho mais o palco-deslumbramento da juventude. O segredo do roteiro já foi revelado. Nada é espontâneo ou surpreendente. Tédio desordenado, loucura furiosa, no lugar da espectativa alegre e do prazer infantil impaciente. Há quem acredite preencher vida com outra vida. Se desejarmos liberdade talvez aceitemos o conteúdo de nossa sentença. Só é possível caminhar com a planta dos nossos próprios pés. Passo a passo, dia a dia. Necessidade e voluptuosidade em conflito provendo o peso da existência. Ceticismo como consolação. Os dias estão apenas começando. Subsisto incitando o otimismo. Mas tenho tão somente a uma. Solidão. Companheira infinda, cruelmente leal e sem sangue-frio. Tudo mais cultivado por mim resiste em ser colhido, menos ela. Nesse combate perpétuo meus inimigos são abstratos e minhas vitórias última página do jornal de domingo passado. Inexistentes. Sou o próprio entreato, sem razão nenhuma de ser. Tanta miséria no mundo faz crer que desgraça geral é regra. Há os escolhidos em inquebráveis redomas ou felicidade é puro acidente? Mania de ser inteiro! Aprende a valorizar os pedaços. Não. Sentido só pode haver na exceção. Quero guerra com homens que não se partem. Quero banir a arrogância e ser o excesso em bocados. Tenho febre, resisto ao remédio e elimino a cegueira. Doença é loucura advinda da vontade hostil dos que não tem fome. Derrubam a minha porta, não vão me intimidar. Não há perda onde mora a ruína. Nem tente oferecer piedade, o caminho do resgate é o sofrimento imposto pela natureza. Vai passar. Vai passar. Sem aforismos ou filosofastros.

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À Natureza espetáculo

Posted by Eve Rojas on 5:31 PM in , , , ,
Não há mitos ou deuses, talvez asas de serafim. Brilho ofuscante a primeira vista como o nascer do sol para olhos de ressaca. Quem conhece sabe, quem não conhece sente. Só o entendimento contempla e a experiência dos sentidos pressente. Lá há movimento permitido aos poros abertos do sensível. Não há verdade última ou razão primeira. Indução, demostração, abstração do material. Talvez seja necessário crer para compreender. É livre criação do possível. Quem sabe arte da alquimia. Fenômeno químico, fenômeno físico. Natureza que se prova e não tem medo das chaves de resposta diante das suas mãos. Despretensão na pretensão medíocre. Contradição sem fim em si mesma. Refúgio, deslocamento, chegada. Teorias múltiplas entre céu e terra. Opinião. Cenário natural. Conhece os caminhos da evolução, curvas, correntezas, encruzilhas e desvios. Não é uma vastidão de ramos em um único tronco, é corpo-semente que se multiplica e se comunica com as vibrações do saber do universo. Força capaz de originar a totalidade do real dentro de si mesma. Vontade de poder, vontade de fazer, vontade de ser. Converte o instante em eterno e quer a eternidade além do instante. Fugaz e permanente. Protetora de quem sente na simplicidade do suor da pele. Excesso transbordante. Testemunhos contam da lealdade na veia, do sangue quente e manso, na aliada do poder ardente. O imutável não nasce nem perece. Ela têm faces. Mistério e clareza. Será que conhece seu tamanho exato? Perspicácia do tom da personalidade guerreira, harmonia do som da generosidade infantil. Atitude. É nota que vibra em força e personalidade. Em ascendência, descendência, em plenitude. Nesse meio fictício de nomes e conceitos existem poucas ilhas de sobriedade. Apenas típicos preconceitos de quem não sabe da valoração por trás dos preceitos lógicos alienantes. Existem luas incapazes de se olhar e invejam o mar que toca a terra, banha os corpos e é espelho vivo do sol. Ela é imensidão azul sempre apercebida. Alguns observam, poucos mergulham e outros agitam, ressoam como onda vizinha. Tulipa-flor, justa e direta, elegante e demasiada. Exigência em compreensão. Demasiada. Fabula com os signos, experimenta poesia. Batiza o prazer e as possibilidades do ser nesse saber oceânico. Conquista. Arqueira hábil dos alvos positivos. Usa o bem combinado ao impulso vital. Só imagino um outro mundo. Entre vontades de verdade e verdades de engano, o importante é a vida. E tu o sabes. Experiência. Mãos suaves conhecedoras dos calos do velejar. A troca é instrumento de dádiva, rota para novas capacidades manifestas nas interações do humano. Senhora de seus impulsos íntimos, respeita o passional e liberta a razão no alucinar das emoções. Será ela destra no cuidado de si? Preocupações com o mundo. Sensatez emergida em loucura. Da fragilidade conhece a abundância. Reflexão constante. O que sabemos dos espíritos livres? No mínimo têm asas. Aceitam o fardo como dom de voar. Mãos estendidas e passos conjuntos. Quem é ela? Pretensão a minha! Qual é a causa prima? É própria, é única? De um deus oculto ou do seio do ser? Será que um dia foi criada? Alguém arrisca-se na resposta? Qualquer definição é mínima. Ela só está começando. Eu só estou conjecturando. Ainda é cedo... são mais de sete dias.

Amiga, leitora, Deus louve a fraternidade, os encontros impensáveis e os corações abertos.
Feliz Aniversário.

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Quando foi, onde foi?

Posted by Eve Rojas on 3:15 PM in , , , ,
Não lembro do meu primeiro cigarro. Não lembro quando a chuva caiu sobre o meu rosto me emocionando pela primeira vez. Não me lembro. Minha memória tem o mesmo foco da minha miopia. Muitas vezes enquadrada, seletiva e disléxica. Troca o sim pelo não, esbarra no talvez e desaparece no “foi”. Embaçada, vislumbra outros mundos como se o nítido fosse o turvo da junção aleatória das cores. Nessa atmosfera de “frames” confusos, coisas incríveis me acontecem e eu apenas consigo escrever sobre a dor. Sobre a dor de querer, sobre a dor de ter. Essas lembranças impertinentes põem a baixo a porta do meu pensamento sóbrio. Tento expurgá-las, mas nasci inapta para a claridade. Tento ameaçá-las, entretanto provocar é perder o prumo. Então me alio e me deslumbro vendo estrelas em cada ponto dos círculos de luz. Sabores bem quistos. Dessabores honestos. A diversidade de mundos se sobrepondo a minha visão é a mesma dos eus que saem e sobressaem em lapsos temporais cada vez mais próximos. O prazer pela contradição me leva até as fronteiras de mim quando a retórica já não é mais clara. Estanco, retrocedo e me perco. Decadência de virtude em um corpo estranho. Limites materiais numa emoção transbordante. Já não caibo em mim. Espaços inabitáveis para esta errância bendita de eus numa geografia primária tomada por refugiados. Muito perto estou do esquecimento. Perto o bastante para deslocar o que há de sedento, prolongar a dor e retirar a pele interior. Abrir estradas e acabar sozinha, sem honras, onde jaz a lembrança, em um cemitério sem reminiscente. Não sou ilha inabitável nem corpo do mundo, antes espessura da matéria conhecedora apenas do pensamento. Grafias sem signos em uma planície sem fim. Ficção. Às vezes é tudo ficção diante da racionalidade totalizante. Às vezes é tudo racional quando o real é mero conto de palavras estranhas a tentar formar fila sobre o retângulo de superfície branca. Mais uma vez redenção. Clama oprimido, clama pelo estado de exceção da narrativa. Não há como conquistar, a primeira já não sabe quem é. Há? Para quem é nômade é difícil pensar em lugar original. Difícil para quem? Para o devir ou para o afim? Quem retruca? A aflição é em mim. Um eco ressoa, a voz é tua ou minha? Esse ser-se várias vezes humano é perturbador. Partículas vibram e se colidem no afã pelo despertar do infinito ético, enquanto fatores naturais se aliam para incitar os instintos primitivos. Não pretendo ser resíduo ou edifício em campos de detenção. Mesmo que o meu corpo falhe, minha memória padeça, minha fala esqueça, minha alma há de se levantar a cada tropeço, a cada passo em falso para que a verdade não seja resto, mas matéria-prima. O sentido é insignificante quando a janela dos olhos não se é capaz de enxergar. Quem das obras vê, quem das palavras pode ler a intenção do coração dos homens? Meros jogos de poder e falsas verdades. Placebos alucinantes para pacientes terminais. Compreender o outro é confrontar a si mesmo. Irromper em medo, desviar da ruína. Descobrir que o amparo é apenas mais uma ferida, onde, aquele bom Caetano diria, que “o mal é bom e o bem cruel”. Clichês da estética da sobrevivência. Bárbaros discursivos, o sofrimento ressuscita e a memória guarda meu tempo incerto de morrer. Ergo meu corpo oblíquo ao céu em equilíbrio escasso, na fronteira do inabitável, tentando encontrar a luz, aqueles pontos multicores aglomerados, onde minha fé encontra regojizo na esperança do porvir. Encontro territórios encravados em outros, me reconheço. São tantas cicatrizes a reivindicar suas próprias vozes... São Longuinho, São Longuinho, se me mostrares onde me perdi, dou três pulinhos.

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Sete vezes sensível.

Posted by Eve Rojas on 11:25 AM in , , , ,
Consolidar-me ao lado do outro, do ele, não dá sentido a minha existência. Reconheço o outro sem medo, e a outra, as vezes, com desejo. Um objetivo é pouco quando o universo de mim e do outro me oferece multiplicidades. A mediocridade não sou eu, a não ser quando fixo. Eu tenho ou quero ter um objetivo de amor? Não quero afirmar-me ao lado de um ser determinado mas contestar ao lado de um ser possível. É o que anuncio de mim mesma ou o que negligencio diante do tempo? Sabe-se lá. Só não sou uma daquelas que acreditam em humanidade atrofiada. É corredor sem fôlego, região infecunda. Ausência na presença de si. Resposta pelo rótulo e não pelo conteúdo. Nem o tempo pode me corresponder. Eu sou brisa leve soprando branda até o oposto do mundo. Escutam meu brado livre do topo da montanha, borbulham minhas notas vivas no fundo do oceano. Te ouço. Entre as diversas vozes e ritmos da madrugada insone, entre os amores e as crenças de ontem. É doce o som da articulação dos teus fonemas. Não mais que de repente, em minha audição, só a tua sinfonia. Deus, era para mim! Deus era para mim! Amada primavera com ares de renovação de outono. Não importa, não espero nada. O sublime das autênticas companhias fraternas é dádiva. Não se pede, se dá, se retribui quando a sensibilidade comanda. Tenho sorte ou merecimento? Tenho afeto. Eu, você, você, eu e o nós. Inesquecíveis momentos de reciprocidade, caros instantes de lealdade saboreados em gratidão ao eterno. Quem dera a vida fosse a união das partes. Um mosaico multicor vibrante de atributos nobres justapostos. A raridade do simples, o trabalho honesto das mãos com a força vital. Amor. Vislumbro o horizonte e o transponho. Obstáculos se apresentam e eu sempre ganho porque por mais que não queira estou sempre em companhia. Estamos. Vibrações positivas emanam do distante remoto, do lado bem próximo quando a ação é reação da causalidade do bem. Almas nuas em ato de coragem. Privilegiados anjos que descem a terra com a graça do despreendimento. Honrada eu, posso admirar-vos. Quebra as lentes, lança focus diferentes. Embaça, desbota todos os tons viciados em debilidade comum. Únicos e iguais. Nem mais, nem menos. Estamos onde deveríamos estar, sempre no ponto de partida. Pisando firme no chão sem tirar os olhos das alturas. Submergindo em amor sem sentir a chuva. Ninguém jamais poderia acreditar, mas essências distintas se misturaram formando um único espetáculo. Nesse palco a beleza, a ousadia, a criatividade, a diversão, a cumplicidade, o sensível, a honestidade, o real e a fantasia. Todos sonhamos. Ah, se ao longo dos tempos tivesse havido mais poetas do que seres de ex-humanos!




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Corte

Posted by Eve Rojas on 12:57 PM in , , , ,
Nessa busca interminável por amor é fácil desenvolver a cegueira da vida diária. Passamos por lugares, por pessoas, na maioria das vezes com o automático ligado, como se a lógica do mundo não afetasse a nossa. Mas como? Criamos um mundo em que vivemos e outro onde há ausência de nós? Lá da janela eu avisto a rua às 7:30 da manhã. O sol brando irrita meus olhos, recuo e começo a andar. Pego o ritmo: banho, música, dentes, cabelo, tv, espelho, hidratante, roupa, perfume, café, relógio, computador, jornal, carro, rua, trânsito, celular, produção, produzir. Nenhuma palavra falada, nenhum olhar desviado. O universo de mim é infinito mas a minha expressão corporal é limitada. Irremediavelmente me deparo com a morte inevitável da ordem das coisas e dos semelhantes. Logo penso tão profundamente em cenários alternativos que a ansiedade irracional me leva a uma busca interminável por desculpas. Enganos, egoísmos... Estranho imaginar que um mais um possa vir a ser igual a um. Lanço-me na busca por centros diversos. Durmo e levanto com a impressão que dos dias em rotina não sobra nada, nem a lembrança do que foi, quando o hoje se passa como se nunca tivesse acontecido antes. Eu vou aprendendo a respirar e não a sobreviver no caos das muitas poluições diárias. Essa máquina desfaçada de humano, essa sensibilidade de sorrisos em caixa, os colírios de lágrimas, as esmolas como profilaxia-placebo da indiferença, são passos rumo ao paraíso proibido dos amantes dos descartáveis. A culpa diz que ainda há alma, o medo aprisiona em covardia letrada e de repente apenas seguimos as marcas. Siga em frente, vire a direita, não olhe para trás, aquela pedra é falsa, não ande descalço, não esqueça o casaco. Coquetéis de proteção que acabam com o sistema auto-imune. Sem sofrimento não há compaixão. Mas quem disse que necessita-se dessa compaixão? Sem dor não há crescimento. Quem disse que essa era a única via do crescer? Impressionante essas supervalorizações. Tudo parte das desculpas das culpas, essas sim parecem indispensáveis a sobrevivência humana. Não há aquele que consiga reconhecer-se essencialmente mal e diminuir-se diante do outro. Ou há regojizo na maldade ou tentativa de conquista da piedade. Somos maus, essencialmente maus, tanto quanto possivelmente bons. Nessa existência a linha é tão tênue, que nesse resgate é tudo uma questão de incidência da luz no prisma. Vista-se e dispa-se. Você acaba de romper o casulo, suas asas doem, suas pernas tremem, seus olhos estão ofuscados e você tem fome. Dê o primeiro passo na sua própria estrada, caia. Suas asas não estão preparadas, seu corpo é desajeitado e não há fala. Seu infinito tem a distância do seu galho ao chão, mas logo será da consciência de si à imensidão. Atreva-se, desafie-se. Tudo novamente. Tautologia quase hilariante, claustrofobia tirânica do prazer e da negligência. Performando o imperdoável com esse corpo deliberado em segunda ordem, vulneráveis e acusadores, nossos atos são de bombardeio e passividade irreconhecíveis. Envolvimento carismático com a opressão. Se pode encontrar outra ordem de responsabilidade? Devo narrar em primeira ou em terceira pessoa?Nada se sabe.

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Mãos atadas

Posted by Eve Rojas on 5:15 PM in , , , ,

Eu bebi. Despretensiosamente bebi. Na companhia daquele amigo querido, com aquele convite fim de ocasião. Falamos saudades, discutimos problemas, contamos amores, abrimos a mesa. Puxem as cadeiras amigos-colegas-desconhecidos. Afinal, beber é compartilhar. Compartilhar até transbordar a si mesmo, até inundar-se com o outro. De repente você. Força impetuosa de gardenia augusta, doçura delicada de jasmim. Luz a forçar a porta da minha atmosfera. Fuma meu cigarro, troca minha bebida, tenta mudar o meu horário, me desafia. Eu? Sem reação. Insolência bendita nessa constelação inebriante de libra. O que você quer, o que você é? Minha sina não guia sorte e você parece feliz em não saber. Expressa e aceita célebre o meu convite sem intenção. Usa minha palavra, toma no meu corpo e me pede poesia. Acha que reprime, que finge mas não é expectante no desenrolar desse enredo, quem sabe espetáculo em comédia enquanto atores a romancear. Tua mente é agitada, solta esse ímpeto original de lirismo involuntário. Dá para aferir o desconcerto? Estonteante desestruturação nesses teus olhos vivos de agora, espelho de diamante nas asas da fantasia. Dada a encenar, o real é dissimulação e a vontade... hum... A vontade é expressão impossível de mudar. Coração livre, infortúnio dos eternos românticos. Entusiasmo sem controle centrado na contemplação, no desejo, ardente e ingênuo. Delírio harmônico de juízo sem senso, profunda sabedoria dos amantes. Minha gratidão a esse retrato sábio, cínico e inigualável. Inteireza, arrebatamento e júbilo. Você. Desata. Desce a alça e deixa teu colo a mostra. Pede palco e chama o brinde. Um brinde às ilusões no shot de tequila. Vira o copo, sente a pele e aquece o corpo. Transita, muda a direção, me pede para ficar. E depois? Vou-me. Com o teu sorriso fácil nos olhos. Observando teus fragmentos poeticamente dispersos nos cantos de luz da cidade, nas rodas que reges dos convivas, nos arcos de mistério. Te encontro em outra madrugada. Experiencio uma tensão de memória pelo estado inacabado, na mesma medida em que este patético prazer discreto do “talvez” se sobrepõe a conquista. Espero e desapareço nessa relação sem lugar. A ausência é dita a partir de quem fica. Sem permuta, a imobilidade me toma sem saber o que em ti me fascina conforme vais. Descubro que até mesmo no reino do encantado é preciso viver o luto. Deixo-te ir mas te envolves nos meus braços, te deitas no meu colo. Intuitivamente acaricio teu rosto, teus cabelos, adormeço teu corpo num sentimento pleno de acolhimento fraternal, e de longe avisto o intratável do amor. E eu, rebotalho fátuo, invoco e me prendo na gravidade deste zelo sem ambição. Anseio a asfixia da verdade-ar para desacreditar na cumplicidade deliciosa de uma noite. Ei de ver pouso para além do teu céu de perdição. Essa tua beleza ameaçadora há de partir da minha estação sem incidentes, deixando um leve vestígio do intacto e puro. Tu és o entre-muitos, inatingível ao único, ao passo em que eu, ermo, fiz a minha entrada no mundo, sou do singular que quer o mar a dois. Sob a astuciosa quimera canto versos de nunca mais onde a morte é branda e a vontade latente. No casulo das minhas palavras me traio em discurso emprestado. O amor é surpreendentemente grande e multicolor. Esse alucinar não me angustia, sem me perder te ofereço delicadeza nos meus braços de amante ou colo de amiga. Tudo significa e eu escolho a deriva. Basta-me estar ali. Será loucura temperada? Fosse o caso a ação é tua e o desejo meu. Me interessas, me intrigas, me atrais como se tua pele completasse a minha, como se minha ária fosse o ápice da tua. Diante do constrangimento congelado, o não-dito é a voz mais expressiva, fascinação e alerta, mal-estar e gozo. No capital do imaginário te guardo comigo fascinante, mas meu coração é meu e de ninguém mais.

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Perdido

Posted by Eve Rojas on 12:55 PM

Existem aqueles momentos onde todo o sabido de si, toda a força construída em anos de legado para além de si mesmo é tocada suavemente em seu ponto mais frágil por um simples levantar de olhos do desconhecido. Caminho pelas luzes da cidade, entro em ruas desconhecidas, faço o caminho mais longo até lugar nenhum. Não há medo em se perder para quem deixou de se admitir. Semelhante tornou-se igual e nesse caos metropolitano, existe apenas o espectro de mim a vagar entre becos e planos. Abandono velado. Erros honestos. O quão longe há de se ir em angústia paralítica do sentir em abundância? Ah, os humores artificiais! Esses sim tem estrada longa e desconhecida como o abismo. Profundidade mata, superficialidade sufoca. Meus passos são lentos, minha percepção confusa, meu coração agitado. Algumas horas e o pensamento não se esgota, retorna, remonta, remonta e retorna. Os ciclos são inevitáveis nessa cela 1 por 1. Algemas do ente, barras de mim. A chuva vem como punição, e permaneço. Erguida, como deveria estar. Fria, como me ajudaste a ser. Liberto-me. Mas não importa onde eu vá, não importa o que eu faça, me governas. Não há um canto deste pretenso reino onde a tua mão não se erga e mande. A tua lembrança é cárcere sem toque e sem corrente. Dissimulo os enigmas obscuros, pinto o sol em amarelo guache nas tormentas diárias. Transformo em azul a falta de luz que me amedronta. Embora o limite da ilusão, acidental e invariavelmente, se anuncie. Ele está de volta, outra vez. Novas medidas meditam em busca de notas autênticas. Há tanto sangue-amor, tanta dor-arrependimento, tanto prazer-culpa em todos os lugares de mim. Eu não quero ir para casa. Joga fora a essência. Me deixa aprender a ser de novo. De novo. Novo. Novos projetos sem totalidade, engatinhar e me reconhecer outra no espelho, primeiro. Me deixa eliminar o presente de ti em cada ato meu. Cansei das sombras. Compro uma cerveja e volto a andar. Os prazeres são apenas para aliviar a dor. Acendo um cigarro e há quem diga que essa droga um dia vai me matar. Mal sabe este que outra droga mais sublime, há anos, me matou. Corpo é morada, mas como lembrar quando espírito não mais há? Ar. Dá-me. Puro ar aspirado em brancos flocos de neve. Respiração livre, movimentos constantes, desabafos errantes na estrada do desespero tolo. Duelo tosco. A espada é curta e de dois gumes. Plural de feridos por recompensas inúteis para faltas impreenchíveis. Pouco. Tão somente oco onde circundo. Falhei. Tudo, é, sem mim. Barato sem universo, pó mágico e “era uma vez”. Brio de paradoxo e incompetência astral na dimensão dos falsos brilhantes. Mas ainda sou o meu duplo guardado de flores e ervas naturais. Embora não saiba se é o fato ou a afirmação plausível a me acalmar quando não existe mais nada seguro. Fatais não são as iras, mas as bengalas para aguentar o passar da vida a enganar a morte ancorada no monte. Cá no chão, reles avisto, não tem remédio, entorpecente ou vício legítimo capaz de anular o sofrimento no lançar-se em acerto de contas com o destino. Te perdôo, me perdôo. Escreverei amanhã, te direi amanhã, porque ontem não fui, hoje não sou e amanhã espero a esperança.

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Delicada Oleg

Posted by Eve Rojas on 11:11 AM
Lembro do brilho das marés, dos pés molhados e da lua nova. Dos teus olhos de lua cheia a dar cor ao mundo em minha volta. Verde profundo e límpido, castanhos quentes e calmos, negros-esmeraldas, misteriosos e raros. Fixo o meu olhar com encantamento à delicadeza da tua face. Teu gesto é ponte entre a palavra e o amor. Uma sede incontrolável me toma quando estais ao meu lado me guiando até o teu corpo. Cada parte parece carregar em si a doçura do sublime, ternura e poder inomináveis. Minha humanidade não te alcança. Ser gentil de sutil perspicácia. Entrelaço tua matéria a minha, sinto a tua respiração e me envergonho. Sinto-me tão pequena em teus braços. A tua presença é muito, inundo. É pouco, absorvo. Qual seja, contemplo e volto ao posto de observadora inata. Tu és virtude e eu sou vício. Graça a redimir pecado. Beleza em realidade subjetiva. Atravessas os mundos e te encerras em si mesma. Nesse concurso de emoções, o espírito puro age com simplicidade e exatidão. Compreensão sem ambiguidades, atitude espontânea e suave. És. Na tranquilidade do movimento diário. Te encontro e aquieto. Me encontro em um lugar que já não é. Numa atmosfera inebriante, vou no teu curso, acompanho teu movimentos, a música parece tocar em ti sem pausas. Batida leve e persistente, me convidas a percorrer todo o teu corpo em instantes de uma sensualidade sem toque. A iminência estremesse os meus instintos e acalma a minha busca. Tua boca se avizinha a minha e o toque é nada mais do que completude inevitável. Os segundos passam numa eternidade desconcertante. Meus lábios parecem pertencer aos teus, minha língua parece ter morada em tua boca. Num silêncio lento tua pele toma a minha em um reivindicar inocente do que é seu. A cena é involuntária, de um prazer a iniciar-se no inconsciente, a transbordar magia no real. Somos só nós duas e eu já não sei quem sou nessa multidão sem rosto. Sinto o transpirar em todos os poros e o ardor me consome devagar num enaltecer da alma. O momento é tão meu e seu que somos nós. Nós em horas perdidas. Metades idênticas na diferença,de encaixe perfeito. Lisianthus bicolor. Pressinto teu mover, aceito os teus convites, facilito teu jogo, sou escrava e senhora, te mostro os segredos do império, te faço Helena e Iracema. O gozo é tão somente destino sabido do ápice do prazer a celebrar a glória da plenitude. O brilho da estrela me cega e derrama uma lágrima. Disfarço enquanto admiro as tuas costas nuas de excelência feminina. Minha respiração altera, minha circulação agita, meus sentimentos se excitam, uma comoção incontrolável. Fechas os olhos lentamente e me abraças, como se todos os males do mundo não pudessem tocar o espaço ocupado por nós em amor. Com o teu convite mudo durmo com o corpo suado, exausto, colado, calado, seguro, junto ao teu de curvas e sensualidade das callas. Com o espírito em festa, inundado pelo espetáculo sincero do teu sorriso aberto, perdido, no prazer do sonho. Real ou imaginário? Céu de Oleg. Quando fores acordar, chama-me em sonho, te encontro no alvorecer. Na delicadeza das hortênsias, no segredo das orquídeas, no mistério das tulipas, na alegria das flores do campo, na verdade dos lírios, no exótico ds bromélias, no amanhecer dos girassóis.

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Conto combinado.

Posted by Eve Rojas on 4:32 PM
Desconserto de mulher! Nem a conheço! Quanta audácia! Embora deva reconhecer o prazer de adivinhá-la pouco a pouco. Fico sugerindo em fantasia, tentando tê-la em sonho. Revoltante. Graça e independência da natureza, vontade da arte, soneto do humano. Sob a luz da lua, dela faz tudo derivar como se as coisas do mundo fossem o centro do seu próprio existir. Minha mentalidade é irracional, sem nenhum traço intelectualista em sua presença. Um sentimento vital toma conta, um gosto pelo irreal, um fascínio pelos paradoxos, um encantamento pelos mistérios. E essa ânsia pelo destino que me encontra. Em certa medida o fim, em medida alguma o meio, em algum lugar o início. Conteúdo sem representação. Descomplicado. Por que me tens? Ô ausência de revelação indignante. Me pego em branda ira, me lanço em temerosa ousadia. Não há preparo possível para desvelar teu ser. Te conto a menor parte da composição da dor suprema emergente à devassar o meu peito, e tu me avistas com esse desprezo honesto. Sente o que sinto sem engano ou fingimento, mas não desperta desejo diante de magoados suspiros. Rege o entendimento e me mostra o bem que careço, erro grave me parece esquecimento. Reconheço sem ver, encontro ainda que não ache. A chave é do tempo. Camões, valho mais no que menos mereço? Indicação satisfatória à quem a vitória concede ao acaso. Foge. A lógica não concede instrumentos, é equívoco. Equívoco. Insensatez. Delírio. Será a inclinação que tenho contra mim? É que tua presença faz sumir todo o, de mim, produzido. Boba, encantada. Alma nua a querer prolongar a estada no trópico de capricórnio. Antecipo o impossível e repasso o fato. Esses teus olhos quase sempre baixos, tímidos e temáticos. Há sempre algo a dizer, personalidade inafrontável. Sobre o teu corpo, lindamente despretensioso, o bom gosto simples, sem escândalo. Na tua boca a verdade do beijo, o respeito a vontade. No toque das tuas mãos, o cuidado. Tu cerceias os meus sentidos, paraliso diante da contemplação. Te vejo dormir, seguras minha mão e desejo apenas que o teu sonho seja bom. Caminho a experienciar um êxtase embriagado. Delicadíssimo ser. Sento ao teu lado, deito ao teu lado, beijo os teus lábios e não sei explicar. Não sei. Nessas construções discursivas não saberia dizer o que é realidade, mas se não é amor, é loucura, portanto, perdoável. Em um fino invólucro do pensamento o medo de ultrapassar o visível. Dizem que falar salva, e eu não tenho nada a dizer. Dizem que não há felicidade sem ação, e eu desaprendi a movimentar. Silêncio fonte de palavras, imobilidade raiz dos primeiros passos. Somente o olhar não se altera. Queria poder sobrevoá-la para não ter que desviar nem do teu lado empoeirado. Não são frases-feitas, lugar comum, são margens distintas, face neutra, profundo diáfano, ainda assim indecifrável. Não há como narrar o inenarrável. Há, vate? Abraço macio, colado, pleno nele. Calmo horizonte. Todos os signos dúbios, e o efêmero preenche o vazio na intensidade incansável dos fluxos. Grato tormento. Fator inesperado, fato repentino. Conexão livre de tensões. Destino: universo da sublimação. Amanhã, tudo não será nada além de um lapso temporário. Eis o combinado.

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DEScanse as CULPAS.

Posted by Eve Rojas on 1:22 PM
Algumas vezes me pego tentando reproduzir na vida diária alguns devaneios de Virginia Woolf, me permitindo entrar no seu outro mundo, compartilhar de suas mesmas dores. Penso como seria fantástico não importar mais. Excluir o peso da luta, das preocupações, do fracasso ou mesmo do sucesso. Navegar em uma inteligência flutuante, ser um observador voluntário. Mas não sou genial, minha dor não é tão imensurável e os meus bolsos são rasos. Mesmo com a ameaça de desaparecimento, com o enfrentamento da escuridão, não há paz se evitando a vida. É impossível viver sobre a hegemonia do prazer, a infelicidade é condição estrutural. Guardo as minhas esperanças agora como punhos cerrados no meu íntimo. A dor é alívio, e eu já não sou um romântico qualquer. Não manipulo as minhas necessidades, uso a escassez e a virtude como vetor emancipatório e vejo, entre o eterno e o irremediável, o início e o fim do prazer e da realidade. Confiar sem reservas já não é uma opção, embora permaneçamos vivos pelos outros. Restrições a parte, surgem as vozes. Renuncio às satisfações instintivas ou não me amedronto diante da punição. Contudo, nada alivia o sofrimento permanente da culpa do feito ou do enfrentamento do não- concebido. Entro no rio. Direciono a minha consciência para o comportamento racional, ouvirei vozes silenciosas. Todo o abandono de si é resiliência da moral. Mas não para mim. Explicação corajosa é honestidade como final. Liberte a supressão, não resista a cura, gratifique os desejos e reconheça. Reconheça erros e acertos seus, não há poder soberano sobre os outros. Fortaleça Eros e não o sublime anunciando a destruição. Pulsões fazem parte do orgânico a restaurar o estado anterior. Rompendo a expressão de inércia, recusando satisfação na doença ou gratificação em sofrimentos usados como meio de coação. Quanta estupidez. Queria neutralizar-me, tornar-me inanimada de vez em quando. Ser passiva do primeiro instinto. Baça, irremediável e rasa. Algum dia já foi previsível morrer nessa química da vida jovem. Objetivo inalcançável na passionalidade da força vital original. Eros sempre se sobrepõe a Thanatos, toda molécula procura vida nessa linha tênue de abolição. A natureza provoca tensões e o organismo pode ser seduzido pelas falsas promessas de alívio imediato ou aceita a jornada da lida com a libido e a agressão. Me apaixono pelo destino da energia, da fantasia, da arte, da memória da gratificação. Sexualidade ou pulsão de morte, transformação é destino único. Minha vida não é um instrumento de trabalho, os produtos não são independentes e o poder é meu nessa ativação de personalidade produtiva. A morte pode ser final de tempo, mas a alegria é breve eternidade. Me acolho no Nirvana da gratificação constante, Eros e Thanatos em paz, estado sem carências. Não quero a dor de Brutus ferindo a quem ama e se escondendo na fraqueza da sua virtude. Quero olhar no espelho, suportar, reconhecer e amar os reflexos. Vejo os meus, vês os teus? Ou tuas drogas lícitas te facilitam absorvição? As minhas são apenas canais, vertentes da minha realidade emocional. Faço o que sou. Cansei dessa pretensa maturidade dos amantes do espetáculo. Prefiro o espetáculo inocente, ingênuo no experimentar de si mesmo. Pessoas livres. Não exijo o que dou mas se exiges ao menos comece a dar. Memória do passado é domínio de outrora. Jamais somos os mesmos. Será que sabes quem és hoje? A moralidade é socialmente útil mas a coragem da sinceridade interior é irremediavelmente necessária. Impeça a alienação, não permita o consumir-se pelo medo, faça as pazes com o ato de bondade. Leve em consideração sua crença no correto, mas acredite: em consideração não há julgamentos há reconhecimento de sentimento. É a generosidade de ouvir como se fosse a si mesmo. Me permita dizer Virginia, cada um se tem fechado em si. Como um livro que se conhece a cor, como um livro que os amigos levam apenas o título, cuja tinta algumas vezes é, ao próprio autor, invisível.



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Só eu sei!

Posted by Eve Rojas on 7:06 PM
Vai meu garoto tímido da vida inteira, deixa meus olhos sonharem na voz sublime das tuas palavras. Chega mais perto. Eu desafino no silêncio enquanto és meu sabiá poliglota gorjeando as cosmopolitas, raiz da Tijuca. Meu Antônio, meu Carlos, passeia nas notas, escolhe uma e me dá o tom. Brasileiro Tom. No intervalo doce do teu toque suave e exato de genialidade desconcertada, me maravilha com o jeito inocente do teu canto fim de tarde, aquele como quem acabou de lembrar de esquecer. Desesperadamente amado em cada verso, o teu respirar ofegante, me lembra a brevidade impiedosa da existência e do êxtase do afeto. Mas não te perguntes se vais ter fôlego, tuas pausas cristalizam o ápice das emoções, numa experiência de infinito em segundos. Não é uma crença, não são ciúmes, não é a bem amada, não é uma doença, não é a madrugada, a minha busca é de você. As vezes, inevitavelmente, me alimento de você. Só de você. Anda comigo até o Leblon. Na simplicidade do equilíbrio natural me diz que amou entre um observar e outro dos macucos. Macucos. Ô inveja con amore de teus contemporâneos, de tuas amadas mulheres, da tua amada mulher. Declamadas em pôr-do-sol sussurrado à brisa do teu piano, iluminado. Tanta generosidade! Respeitosa modéstia entre os parceiros aclamados. E o extraordinário era aquele menino de poucas palavras sobre o legado, tantas vezes segunda voz. Vaias Chico, vaias! Bobagem! Sabiá voa através das gerações entre aplausos e sobre a vergonha dos imbecis de outrora. No compasso do trem direcionado, apressado, sem paradas, ao branco e preto do retrato, zingaro, de um horizonte jaz conhecido. No encontro sem pressa do lugar onde Vinícius não existe sem sofrer. Chega de saudade! A bossa casa sempre nova, continua acostumada a guardar você, enquanto o jazz reverencia lá da sacada. Ô arquitetura de morar! Lembro o sublime estágio da pureza dos musicais. Tempo do Mar. Tranqüilo sinistro a desvendar imensidão. Inimaginável furor desorientador da Casa Assassinada, em versos tristes, repentinamente, a Crônica fala. Piedade e nova alvorada. És tu mestre surpreendente. Passarim, Borzeguim, vem dançar. Mar, sertão, floresta. Deixa! Brasil Nativo, Matita Perê! To my room at 10 o'clock, Chansong! De Nova York, Paris ao Samba do Soho. Minha terra brasillis! Conheço sim senhor! Caju, pitanga, guaraná, suçuarana, guará, tapurió e sabiá. Esquece a tristeza e canta! Canta mais! Maria, Marina, Gabriela, Isabella, Lígia, Luiza, Ana Luiza, Dindi. Ah se soubesses como cada nota me faz feliz! As palavras parecem tão indignas que não passam de rascunho querendo agradecer a grandiosidade da obra-prima. Desafias as partituras, abusas dos instrumentos, pervertes o canto. Someone to light up my life? Broadway em cabaré de virtuose do virtuoso sofisticado sem afetação. Se eu pudesse por um dia tocar as asas do anjo que te deu leito! Ficaria em silêncio, esperando teu canto vivo voltar pela primeira vez aos meus ouvidos indignos ansiosos. What can I say to you “bonito”? Se todos fossem no mundo iguais a você! Assobio outra vez para chegar mais perto, onde eu sou apenas mais uma e tu és o único, parte das coisas belas da vida. Olha lá aquela luz, lá embaixo, se acendeu no mar que parece que já vai fechar. Fotographia. Tua face irreproduzível nas coisas mais simples que você tocou. Vou no Trem Azul direto pra estação Mangueira. Manda subir O Piano! How Insensitive? Nada, Querida. Longa breve vida. Canta para mim em despedida a vislumbrar limites longe-longe da pretensão como Moacyr a dar lugar ao neto, como tu a dar voz a Malu. Sempre verde e ar condicionado aconchego para admirar e desvendar o Jardim Botânico na fuga do cinza, meu arboral a sentir horizontes. Bota a garrafa de vinho no gelo e conta! Continua sendo o mais singelo do mundo, belos Anos Dourados cantados em sons indizíveis, inimitáveis, sentidos na pele alma, tom de criativa liberdade! Livre, livre! Brinca de palavra com os parceiros, sai para aquela loira gelada, diz adeus sem ninguém ver. Deus te mostrou para o mundo, te levou do mundo. E aqui estou. Pobre amador apaixonado, aprendiz do teu amor, do teu amor de não “ser” sozinho. Élégance, sim, sim, Élégance! Tua valsa de sete cores! Silence, Silence! Com a tua pronúncia francesa, abrindo passagem. É música popular brasileira sem o isolar do alto da montanha! É muito mais da praia. Tereza da Praia, amor de Leblon. Conhecedor, divulgador, admirador, experimentador dos seus pares, curioso sobre os ombros. Bate palma e pede bis, ornitólogo querido! Do Chico maestro soberano. Depois do inesgotável encontraste tua paz, mudaste para o teu azul. A felicidade. Sucedeu assim. Havia de ser com você. Pluma que o vento continua levando pelo ar.
[trecho da tietagem desavergonhada]

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Saudade "vezenquando"

Posted by Eve Rojas on 10:10 PM
Quem poderia dizer se quer que um dia começou? De repente se foi a vida como eu conhecia. Fugi tanto daquele céu azul. Limpidez deslumbrante de matriz celeste. Queria poder levar-te entre os braços. Quem não queria? Eu não quis. Quando quis não mais podia. Azul profundamente simples para a minha complexidade superficial deliberadamente dissonante. Sussurro baixinho minha nostalgia entre sereias do canto. São confissões abençoando a quietude e o riso. Te penso silenciosa e cara, sem reinado mas cheia de ares imperiais. Impossível dizer, mesmo com toda herança de sons e de palavras. Fina, desenhada. Rascunho rude de mão livre. Por tanto me encantastes com tão farta desavergonhada nudez de alma. Vou chorando e te levo sorrindo. Foste o impulso que fez mulher. Desnudo-me até o osso e sofro. Aprendi a desafiar a moral sem a vulgar desonestidade interior. Sobre a tua grande face o meu andar desordenado, desconserto de estrada que tu és. Tantas curvas, atalhos e pontes a guiar um outro alguém. Belas interrogações fecundas na encruzilhada da separação. Vira e mexe, recito as minhas odes mínimas. Quem pode impedir o abraço afetuoso da boa saudade? Estreito o fardo mas não desejo o alívio. Soneto, baladas, elegia. Minhas fábulas. Me estendo imensa longe dos teus braços. Passeio entre os girassóis noturnos, me acolho nas flores de março, me apaixono pelos lírios e contemplo as gérberas vermelhas. Aprendi a abrir os braços sem atar os laços com os amantes apegados aos espinhos. Reescrevi o manual do cuidado, respeito e generosidade de mim. Embora a solidão seja o conviva acessório da minha vida noturna de madrugadas hedonistas e vespertino agônico. Havia esquecido o quanto as pessoas podem perverter o bom de si mesmas. Que tempo há de acabar com as desastrosas bocas? Quantas vezes o meu sopro há de pousar num dorso estranho? Alma minha gentil, quantos são os penhascos para retirar de vez as máscaras? Eita, sinuoso caminho da vida livre. Repito o sombrio, ritos e frisos antigos dos resíduos espessos da crueldade alheia desmedida. Felizmente já não há cortes, boicotei o ciclo da auto-sabotagem. Fecunda é a semente do vasto de ti, desse pássaro de mim à pontilhar a inocência da decência. Da minha crença ingênua em verdades pequenas. Reversivos rios de rumor, revertes para as vertentes da mansidão e viajas leve desviando das pedras na cadência elogiosa da esperança em verdade. Saudade! Saudade de quando os desvarios proviam apenas do embate de subjetividades. Intraduzível origem introdutória da afirmação. Quero eu ser olvidável e censurada aos alcoviteiros oradores recorrentes do perdão não-restituível. Precisam aprender que o altruísmo é o caminho de glorificar a própria casa. A nebulosidade é reveladora e a descoberta possível aos destemidos desbravadores. O respirar mínimo garante reanimação. Realidade espírito e matéria humana, merecimentos caminhando no interdito. Inesquecível afeto da vida inteira, não sabes o quanto é bom seguir sem farpas em meio a tanta gente indecente cuja graça é rótulo de uma hipocrisia disfarçada de imaturidade. Bom saber ter sentido o significado do amor, melhor ainda encontrar entre tantas constelações e meteoros opacos, um brilho único a iluminar o mundo, com olhos tão ternos, que o reflexo emitido cega os devoradores desatenciosos a ver estrelas só na escuridão.

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Cheia de vazio

Posted by Eve Rojas on 4:34 PM
Abro as portas e avisto da janela da memória um sempre passageiro que acabou agora. Uma eterna substituição da matéria, uma natureza constituída por átomos e vazio. Um rosto de expressões antigas, de pele enrugada pelo cotidiano das idéias, se acomodando no diálogo das representações do pensamento. Fixa, numa existência marcada pelo desassossego, o presente instante desaparece como um sonho no vão absoluto das coisas. Tudo parece ter sido. Até mesmo o signo perene da insegurança a ela surge e sub-jaz em meio a insaciabilidade das vontades numa absurda finalidade jamais determinada. É hora de manter os vazios no seu lugar. Deletar os vazios do vácuo e abrir espaços para os do vaso. Aqueles cheios de ar ou de água, plenos de efeito e ação. Nesse fluxo cognitivo de vastas emoções e racionalizações imperfeitas não há nada mais do que factualidade narrativa. Mas ainda há a necessidade dos vazios. Se a plenitude fosse constante não haveria lugar para o novo, só para o velho, inútil e gasto. A expectativa é de chegar ao porto com velas e mastros faltando, remodelar o barco, navegar outros oceanos. Sem carência, sem melancolia, partir e ancorar com boas saudades. É impressionante como a vida, no pequeno, acorre mais completamente. Nos pequenos desejos, nas pequenas tentativas de o amor contido saber acessar. Incondicionado e absoluto. Na marola é que se compreende o poder e a suavidade do mar. Entrementes, as ondas também vêem em ásperas farpas inacentuadas. Acidentalmente atingem a consciência disparando a fertilidade do conflito. Em comunhão, o puro é o firmamento, na rudeza e bondade da natureza visceral. Somos nós a caminhar nas estradas com áureas de amor inocente, enganados a dançar nos braços da esperança até chegar nos braços do parceiro alvorada, vulgo morte ascendência. Quem diria que há porvir e a gente ainda trata opção como prioridade. Antes do interdito, há o dirigido e ofertado. Prerrogativas e inquietações acionam o transe de percepção. E ela corre como se o infinito fosse bem ali na esquina, como se o amor fosse um encontro com o pôr-do-sol sob os arcos coloridos. Eita guria, o final do conto é abrupto, sem sensibilidade ou poesia. Então é assim? Desautomatiza a linguagem e abre o lírico da nova obra. Em cada detalhe as borboletas adejam, soprando as luzes, as sombras e as pétalas vermelhas. Deixa a brisa do real cênico tocar nas profundezas do humano. Os encantos são mais do que substitutos patéticos a se corromper entre o tempo e a desatenção. São o êxtase do inesperado, do agora, da lembrança da verdade, da expressão única, a flertar as voltas com a ilusão que não sabe se é ser ou se é inventar. Ainda há lugar, ainda há lugar. Há tanto mistério por trás das palavras, há tanto segredo nas coisas do mundo, há tanto eu nos seres do mundo. Vou trocando a pele, vou reiniciando os parágrafos. Não quero guardar a existência de tudo, quero provar, explorar, todas as possibilidades dos universos mais contestados. A face é inviolada e ela a incitar a mística do inconsciente sem rumo. Vai menina, se enche de vazio e mergulha em busca das vozes sem ira, na nascente da criação.

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Deixa o adeus dizer

Posted by Eve Rojas on 9:00 AM
Para quê torturar tanto as palavras para dizer adeus? Tentar expressar exageradamente a beleza de uma história, que acabou, na articulação de fonemas vazios? Deixa o amor doer em paz. Os porquês soarão sempre tolos, posto mesmo que o são, diante da dormência desejada do coração a desfalecer. Não há como explicar páginas já lidas e escritas pelo mesmo autor. Alas as emboscadas conhecidas da vida! Surpresas e armadilhas. Tão somente as reverencio. Antes que acabe em nós o afeto, este antecipado amor me vê de partida, o horizonte anseia a minha busca. Ergo meus olhos, apresso meu passo. Olhas-me novamente. De súbito peço, deixa-me te tocar outra vez. Não deixa, não peço. Meu carinho alenta o espaço em tua evocação e só. O anoitecer traz a desventura fazendo a minha voz soar quase como um disparate diante do imenso, enquanto a fome-infame parece conter a minha dor. Pranteia hoje comigo e não leva nenhuma tristeza ao recordar amanhã. Salva a ternura que avistei. Se te doer, não faças como eu e te alies a solidão, deixa as tuas lágrimas aos cuidados do vento doce. Sê como pinheiro firme a saborear a brisa se despedindo do desprender de algumas folhas, férteis secas. Cristal de fé não quebra, ao amanhecer do dia há sempre raios refletindo o anunciar de novos amores para celebrar. Não penses te ter pequenina, a coragem é tua e minha chama apagou. Meus madrigais não tem destino, sou alma errante a me encontrar nos rios e tropeços. Já não sei ficar, sou viajante a me deslumbrar entre as lendas férteis e as palavras desertas do sol nascente. Continuo a procurar, o já sabido por mim, impossível de encontrar. Mas continuo, hoje, e não me peças para parar. A minha instabilidade é egoísta e o meu amor aprendiz. Apago as luzes da ilusão, mas o espetáculo continua. A estrada é longa e os palcos intermináveis. De figurante, a coadjuvante, a atriz principal, papéis descartáveis para quem só quer escrever seu próprio roteiro. Nada precisa ser. Avidez e melancolia demais sem carícias a vontade quando o tempo é de início e o ponto é de atravessar. É preciso aceitar a ponte. Quem sabe de mão dupla. Deixa ir. Coisa estranha é amar! Acredite, é amar. Sentimento sempre imerso na perfeição dos seus paradoxos. De joelhos a clamar em solo profano. Lar dos devotos. Te insurges a procurar conserto, mas não há como erguer fogo e ferro num palácio sem altar. Não movas um dedo, não apertes os lábios, não me digas mais palavra-falada. Não te tenho nada, entre um tanto de lágrimas, apenas a palavra-silêncio rosa-chá.

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Visão flocos de neve em praia

Posted by Eve Rojas on 11:33 AM
Num banco, num canto de um bar, fumando sozinha seu último cigarro despretensiosamente diferenciado. Um prazer inenarrável a cada trago, como se todo a beleza do universo fosse inspirada num longo acariciar de suas vias aéreas. Seu tempo é de instantes profanos no sagrado agora. Olha o copo, deixa escorregar o gelo entre os dedos. Leva devagar a sua dose de whisky cowboy, devidamente posta em copo longo, até os seus lábios e saboreia, enquanto observa as estrelas numa reverência aos céus. Olhos fixos no nada, horizonte das ondas, a música atravessa a sua alma se traduzindo em um leve sussurrar interior. Foi só para ela. Seu semblante é de plenitude, ela não anseia nada, não busca nada, não quer nada. Nada além do que o momento tem para oferecer. Sua fé parece estar como vidraça espalhada pelo assoalho e tudo continua a ser o bastante por agora. Ela é o próprio mistério da transparência. Deus! Me deixa ser a guardiã desse amanhecer. Salto manolo e jeans desbotado, nada nas mãos ou nos braços. Apenas um colar de corda preta a segurar uma estrela “paloma picasso”, direcionando os olhares ordinários ao seu busto altivo levemente a amostra. Sonhava ela ser mais uma entre os dados. Poucos símbolos trocados, um sorriso de canto e eu já queria submergir no vórtice do pecado. Esse teu misto de blasé e encantamento lado a lado com o mar! Pensava nunca ser possível tocar tal áurea. Talvez de fato nunca seja. Visão sem retrato. Oceanos a parte, o meu presente foi apenas descobrir possível. Caminhas entre os mundos alimentando a esperança dos sonhadores sem casa. Vens e passas, te fazes presente e não há compreensão que te baste. Rugido feroz e beijo sutil de pluma alva. Me permites ver mas jamais te encontrar completamente. Um dia acordarei, ouvirei bater mas não precisarei abrir, porque já tens a chave da porta. Nevasca, Nebraska, em solo de praia.

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Trecho extraído da estrada...

Posted by Eve Rojas on 12:02 PM
Onde quer que eu esteja disponho sempre de mim. Eu me dirijo, me perco, me empresto, me acho, me provo em pedaços, mas calma aí que eu não me vendo. Aos amigos, não circunstanciais, a minha alma como companhia a qualquer tempo ou lugar. Nado em infinitude e subo apenas num flerte travesso com a superfície. Das leituras vivenciadas, um pensamento para cada dia. Para as feridas, curativos, mas não todo dia. Primeiro o necessário, depois, o suficiente. Grande Sêneca. Discernimento, amizade, confiança, ou a ordem das combinações disponíveis ao sensível da honestidade. Desconfiança autoriza infidelidade. Eu não ensino a enganar. Meu íntimo só se converte em segredo sob as regras do social. Nada de movimento contínuo, nem contínuo repouso. Sêneca de novo! Se queres ver, veja. Se te acostumastes com a sombra, não espere que escureça. Construímos verdades, não descobrimos verdades. Radicalmente real ou irrealista? Verdade. Verdades. Simplicidade não se converte em exposição fácil de problemas. Desate. Espírito atento a dedicar-se ao caminhar e aos inquestionáveis. Não há refletir sobre o bem, apenas ação. Sereníssima natureza, com sua lógica fácil maravilha e afugenta. Nascente límpida entre cacos e pedras? Fértil é o lugar onde sua misericórdia aponta. Visão do sublime na pequenez do humano. Limito-me a conferir, a mim mesma, a forma apropriada. Cuido das minhas nascentes, verdes, secas e dias nublados. Abstrações espontâneas do pensamento dão voltas em torno de mim, tentam me atingir e me desnudam sem acaso. Entre os meandros, a façanha é o insurgir novo em meio ao caos. Liberdade em mosaicos de construção. Experienciando o nada sob si, a matéria é coextensiva e a virtude potência. Sob o nome de idéias, o poder ativo. Eu sou película transparente, pensador insípido, e hoje em fragmentos, fica difícil escutar o que eu digo. Delírios de estrada.

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Vontade de partida

Posted by Eve Rojas on 4:05 PM
Ó tirânico Amor, ó caso vário
Que obrigas um querer que sempre seja
De si contínuo e áspero adversário...
Luiz Vaz de Camões


Saberá Deus o que em mim anseia despedida, será talvez a sede pela perpetuação? Será essa necessidade veemente pelo avesso, por ter o que nada contém? Será reversível esse gosto pela ausência e pelo desconforto? Esse querer guardar intocável a ternura do coração do outro, mas sem dor e penitência? Quero o sumo pungente do instante-santidade contigo, meu outro pretendido. Embora sem ti no amanhã da tua sorte. Do inseguro, a certeza ri e chora. Embora as seduções, jogos, detalhes e armadilhas, afetem a ambos nos braços da vida. Abraços a cortesã! Indícios e ilusões antevistos na cama efêmera do eterno. Entre as paredes do gozo, em meio aos lençóis da quimera, avisto a porta do nunca e passeio no corredor sem-fim de “ninguéns”. Ao final, a proeminente amante, sem rosto, fende e não ofende. Luz etéria, negra e clara, desaguas no infinito das possibilidades de mim. Suposta matéria sem corpo, me envolves o peito até esmorecer a primeira vontade, cantas imponente o início e o fim da esperança e da verdade. Esse teu olhar aparente desconfiado, me olha do canto e por baixo. Não para de me dizer que me tomas na boca e até a virilha não negas... Nego! Em pronúncia trêmula e hesitante, em um texto-desengano. Encantamento ou segurança? Ah instinto de amar o perecível! Necessidade de ter sempre o amor e a fome. Sou garra e crueza, reverso do compulsório. Nem Deus, nem satã. Desequilíbrio na prudência, autodomínio no desgoverno, céu e chão. Eu quero, quero o além. Deixa eu provar cada gota da essência do teu gosto, deslizar no teu corpo sentindo o arrepio da tua pele enquanto toco o teu íntimo. Deixa eu inflamar cada zona erógena dessa tua perfeição material, te tomar pela cintura, agarrar a tua nuca, excitar teus instintos até teu corpo tremer involuntariamente e repetidamente unido ao meu. Agarra minha mão, olha nos meus olhos, toma a minha boca e o meu suspiro enquanto o meu prazer é teu. Nosso. Mistura e sente o ápice dos prazeres, na morte e no renascimento. Tripudias porque mal sei teu nome. Amor, estavas comigo em meio àquela. És tu ou é ela? A minha dúvida é certeza. A busca continua pelo outro decantado. Embora surdo seja o destino do meu clamor no cerne do encontrado. Não há lugar, nem um breve aludir, onde o anelo é imoral, proibido, na pureza singela que te cobre de mistério. Quando serei por ti consentida e tomada afinal? Submersas palavras sem conversa, tristeza a tomar o olhar como pedra duelando com o desespero. Hão de dizer ser coisa pequena, e eu a responder é o meu nada. Abismo e surpresa, nas curvas sem acostamento, nos oásis nada inventados. Meus versos são rubros, sangue e furor incontrolável, rasgo-me a vida para encontrá-la. Triste é a palidez do sol ao percorrer o asfalto do arrependimento das vontades. Saudades da estrada de terra, das árvores ao longo da rua, dos jardins a se preocupar tão somente com a solidão do sol e da lua. Mas a vida simples nunca foi minha. Entre o dia e a noite, as madrugadas como companhia. O entorpecer, as luzes em espetáculo e a cama por fim. Vertigem de ser no indefinível propulsor do caos em mim, e a tua língua na minha desordem como toque de clemência para o ardor em ti. Te apercebas das vaidades, exclua as veleidades, somos mais. Mesmo tu sendo um, eu outro e não nós. Imperfeito, talvez, o momento te pareça, e eu culpo, por um instante, o destino pelo tempo impróprio, pelo discernimento atrasado. Mas agradeço, nem que seja por um segundo, a chance do meu olhar, o teu, ter cruzado. Por isso, como cantaria o Tom, “eu sei e você sabe que a distância não existe, que todo grande amor só é bem grande se for triste”...

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Por onde andam os loucos?

Posted by Eve Rojas on 11:39 AM
Mestre Winnicott, nos diz: “Quando apenas sãos, somos decididamente pobres.” Alguma crítica? Quem se atreve? De certo, não eu. Mas e quando primariamente as subjetividades acreditam no caminho de imersão em ascese? Ou quando as “personas” privadas são desequilibradas e a vida pública esvaziada? Pobres corpos a tencionar tocar as altas virtudes inventadas. Eu aplaudo o fracasso dos tipos ideais. Nada de coações aos prazeres, muito menos aos próprios da insanidade temporária mundana. Na linha da loucura, a expressão mais translúcida da alma, da mente e suas potências. Encaixo-me perfeitamente nessa chamada desordem moral pronunciada pelos prisioneiros da sanidade. Não pára a chuva, deixa cair, deixa chover! Nem todo sol é seguro, nem tudo que reflete, ilumina, e o mormaço desgasta! Entre o frio e o quente, os dois. Tem preço? Vou levar! Nessa somatização das identidades valoradas e rotuladas em corpos doentes descartáveis, eu me diverto nutrindo o palco dos meus “eus” com balinhas mais baratas. Auto-anulação por um padrão? Nunca! Constância sem debilidade, inconstância sem dieta. Performances, performances, fruição, sentimentos, sensações e originalidade. Verdades. O bastante é o excesso em que eu navego. O excesso são as paredes do esperado que me sufocam. Qual é? Dissimulação é artigo obsoleto. Não lhe imponho a minha intimidade, mas se o meu “eu” incomoda, manda decompor a civilidade da ordem! Egoísta? Narcisista, eu? Ah por favor, presta atenção que aparência de algum modo reflete essência. Os meus, os seus, personagens, podem ser reais ou cínicos, mas todos surgem de uma mesma fonte. Lembra da historinha de Lacan e o espelho. O que enxergas em mim pode ser parte do teu ser e não do meu. Olhar pra si é necessário, só cuidado para não escorregar e cair no poço obscuro do teu imo. Evolue. Da reciprocidade, a transformação. Eu vou além. Dos meus olhos, às lentes, ao telescópio, caminho sem horizonte à procura de uma gota transloucada de amor. Por onde andam os loucos meu Deus! Quem enquadrou a pluralidade na conformidade da adaptação estéril? Como ficou tudo tão comum e blasé? Ok, sem nostalgias ou dependências. Como diria uma querida, “tá super combinado!”, esqueçamos os draminhas e nos voltemos a ação. Mas devo concordar, ainda com ela, as vezes dá uma preguiça de ser... Contudo, nada de dar a mão para a indiferença. Imprevistos, inesperados, novidades, surpresas e braços abertos. A inércia é o último tirano, nada de fraqueza de vontade. Vontade só muita! Afinal, o sujeito e seus desejos são o único espaço restante à utopia e a criação. Das “batatas de sofá”, dos “bon vivants”, aos atléticos e saradões. Deixa ser. Sem limites a normalidade desviante, a normalidade ou ao desviante. Integrar, adaptar, flexionar é lógica de mercado. Eu não sou mercadoria, tu és? Desse ordenamento eu sou o caos. Eu fico com a dupla hermenêutica constante de mim. Vamos deslocar e manter o interesse no outro sem reatividade. Demos lugar as liberdades inventivas longe do cárcere moralista. Quero encontrar os néscios da matriz dominante. Quero beber com os ditos estultos e minimizar o contato com os verdadeiros estúpidos retrógrados, iguais, produtos de massa, amantes da estrutura. Parceiros loucos privilegiados, somos todos responsáveis na eliminação da mediocridade do ser. Onde começa mesmo o muro do hospício?

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Entrelinhas

Posted by Eve Rojas on 8:18 PM

Separação gradual ou rompimento de súbito? Existem perguntas que se esgotam ridiculamente em si mesmas. Doce, doce pragmatismo, matéria inerte a obstruir as artérias. Fórmulas sem significados, idéias sem luz, sentimentos de supermercado. É pista ou é compasso? Eu só queria manter meus pés sobre a trilha apropriada. Teu movimento era diferente, o meu lugar incomum. Descendente, ascendente, honrada e desavergonhada. Montanha russa para quem deseja uma viagem segura pelas estradas sinalizadas. Sem pontos acidentais construí um novo referencial. Com o instinto purificado, rompi o teu padrão, ofereci solo firme em nuvens do imaginário. Para não perder o ar de conto encantado. Essa tua essência tão rara! Parcimoniosa adentrei o teu vilarejo. Receptiva abri as minhas portas. Fomos hóspedes mas ninguém ficou. Enquanto desejavas uma vida, eu queria desfrutar incólume o instante. Entretanto te avisei, saber que as flores murcharão nunca me impediu de cuidar do meu jardim. Na nossa lista de verdades o último contemplado foi o amor. Culpa dos nossos profundos desencontros desconcertantes. Erro da sintonia, desajuste de frequencia. Formas estúpidas de amar. Provocar, querer, provar, incita, mas não indica futuro no desconhecido absorto. Olha para mim! Lembra? Teus olhos nos meus são o que importa. Olha para mim! Aqui, só para mim! Te pedi tanto e devo ter desaparecido entre o teu copo e uma balada, entre uma e outra metáfora. Relembro incessantemente o nosso primeiro beijo me deliciando na descoberta, no experimentar do sabor de um sentimento tão unicamente nosso e na tua entrega ,naqueles segundos, sem reserva, em meio a tantas regras. Tudo se transformou tão rápido, o fim, figurante, se estabeleceu como coadjuvante e ganhou sozinho o prêmio principal. A tua razão não encontrou nenhuma para confiar, a minha paixão não encontrou nenhuma para se entregar. O amor permaneceu nas entrelinhas. Faltou olhos para ouvir, ouvidos para ver. Tua razão passional, guiada pelas perspectivas traçadas com os lápis do teu passado, me machucou. No espelho que vislumbras, não sou espectro de ninguém, só reflito a mim. Nada pode prosperar no deserto da desconfiança. Não tenho o ato de representar, tenho apenas a primazia de querer e de ser, eu mesma, sem fantoches. Mesmo diante das lógicas ficcionais e dos ordenamentos caóticos, te quis. E assim o soube desde o momento em que te vi. Talvez o erro seja útil, talvez hajam razões vitais. O indefinível que nos uniu, ainda me mantém ligada a ti. O sentimento é imenso, por isso num ato de fragilidade clamou por ser nômade, embora, dos exercícios de adeus, cansado esteja. Vou-me. Te levo leve e sublime, sobretudo nos detalhes inesquecíveis, aqueles de frações de segundo. Choro a minha partida, lamento a prematura despedida. E rezo, agradecendo a dádiva da tua companhia. Pedindo a felicidade nos teus, nos meus, próximos dias.

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Desvela, reprime, deseja.

Posted by Eve Rojas on 7:28 AM

Estrada sem caminho para um eu obscuro quando a dor é a primeira a amanhecer. Já abriu os olhos e encontrou ao lado direito da cama o sofrimento, o espelho do imaginário real da tua cor? Abre os olhos! Tristeza é sonho, o fantástico do teu penar querendo colo no leito da tua paz. Acorda! O sol brilha invadindo o teu quarto com o furta-cor da plenitude. Levanta! Experimenta vadiar. É vadiar. Um dia inteiro sendo parceiro tão somente do teu prazer, desfrutando do fútil e do volátil. Sendo o terceiro de si para o mundo e o primeiro para tua verdade egóica. O sol indica a rota e lembra o quanto me traduzo nas gotas de suor do teu corpo, tão minhas. Desejo o instante seguinte e o agora como se fosse o último possível para o presente de ti. E é. Quero. Quero mais, para além do ontem que não tenho, tive ou fostes. Se fico, acredite, simplicidade. Fecho meus olhos e sabes. Sabes que estais comigo.Entretanto sendo meu destino fácil, encontrar pode ser acaso, mas ficar é escolha.

_Clichê_ clichê_ Clichê_.

O óbvio é tão exaustivo...como me cansa!

Acho que tendo a concordar quando dizem que somos desejo excessivo. Resistimos e quereremos mais. De mãos dadas com a ambiguidade, equívoco ou inequívoco, sempre em busca do febricitante. Promovo e vislumbro o flerte, o encontro e a fusão promiscua do desejo natural com o artificial. Por que? Não se pode negar desejo, não há cura na negação do desejo. Olha aí, Schopenhauer aconselhando. Eu tenho um desejo de luxo: o desejo imediato. Que faço? Instinto ou sobriedade? Adoro a plasticidade: móvel e reciclável. Os estáticos, imutáveis e insípidos prazeres sem graça não me servem. Eu sou aliada do deslumbramento. Ardo insone antes que a febre passe. Mas digo não a satisfação momentânea ou ao masoquismo aniquilador, a diferenciação é explícita quando o meu desejo é livre, constante e mutável, nunca perverso. Não possui componente alergênico é biodeagradável e autosustentável. Meu Deus, será que caí na armadilha do seguro e do politicamente correto? Não! Eu sou o “sim” que se abre para o universo e responde eticamente ao chamado do outro. Das raízes do meu ser irrompem passagens, é a força da vontade obstinada e ilimitada a favor do meu tornar-se. Meus atos são deliberadamente controlados, direcionados às escolhas alternativas, ao “sense”, “no-sense”, do meu senso incomum. Sim, mas por onde anda a liberdade no controle? Ora, transcende o óbvio. A projeção é ideal e paradoxal. Surpresa sem culpa diante da descoberta da nudez. Nudez sim, entretanto não é desnudar-se simplesmente. É compartilhar, sem altruísmo auto-enganador. Ah, esperança propulsão do desejo! Me deleito sem espera, não me privo do presente. Minha escolha pode até ser incerta mas minha satisfação é imperativa. O ímpeto do sublime abriga o desejo e o que era cálculo enigmático agora é equação simples. Ato. É a beleza do agir próprio da inocência infantil ignorando o medo, o normativo, o conhecido. Eu te vejo sangrar...por que é tão difícil admitir que queres mais uma vez? Eu amo pessoas, rótulos e jogos não me interessam. Eu te levo para casa. Não há culpa no prazer, não há amarras nem pavor paralisante, só liberdade para o corpo cativo de uma alma racional. Conhece a ti mesmo, respeita tuas virtudes e vícios, sem máscaras ou substitutos. Deleite-se na capacidade de sentir, nas sensações que conduzem a tua natureza divina. Deixa a tua alma tocar-se, meditar para si, encontrar o que busca e experimentar o que quer. Eu estou aqui “as strong as you are”, querendo vivenciar, contigo, os tempos mais altivos, decididamente mais soberbos.

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Desabilitando "o incapaz"

Posted by Eve Rojas on 10:04 PM

Um de muitos drinks hoje e eu sinto a tua falta. Quem dera fosse os drinks e não aquele espaço tomado por ti. Eu falo, sou direta e tu a querer saber qual é a droga. Eu poderia fumar mais um cigarro... Mas não se engane, não é um vício, não ainda. Quem já caiu, levanta, anda, ao menos com a certeza de que não tropeçará na mesma pedra novamente. Não guarda as palavras na tua boca, não escondas entre as entrelinhas. Diz-me o teu nome, manifesta a tua verdade incompleta, compartilha a tua confusão planejada. Onde o silêncio habita em companhia do embaraço, do medo, do indeciso, para com e além disso, eu espero que haja um você. Nenhum sentimento expresso, nenhuma oração clamada é desperdício. A gente se constrói a cada salto dos penhascos. A coragem de saltar pertence a poucos, assim como a de levantar ou admirar a beleza do salto. Aprecie a viagem e seus desafios ao novo, ao invés de permanecer vagando entre os restos de um passado que reaviva os cortes e te estanca. Eu não vou escrever para tu ficares, pois haverá sem dúvida outras a fazê-lo no mesmo instante. E eu preciso de um motivo melhor. Amores possíveis inesperados. Possíveis e não previsíveis. Eu vou, não fico. O anterior se articula tão somente com o que já desapareceu. O meu ciclo é de possibilidades e não de necessidades. E aí se faz a realidade viva numa relação dialética entre parar, prosseguir, conservar, integrar e refletir o presente. Seguir. Mudar. Equilibrar-se. Articular as solidões. Hora de renunciar o amor de ilusões, das construções fantásticas e ideais. Chega de arrumar o quarto para quem não vai voltar ou nunca vai existir. Acorda Alice! Olha lá o enigma claro! A alma simples e o amor maduro. Alice continuará dormindo enquanto eu, semana após semana, dispenso os imperativos e o “may and may not”. Prazeres ao vento onde o meu desejo navega, e controle ao chão onde os meus pés tem porto. É preciso reconhecer a morte inevitável das coisas sem no entanto perder a ternura. Fugir, escapar, mas apenas das limitações impositivas em um presente de mundo que faz a vida fugir de si mesma. Inspirações no vivido, estados perceptivos, encontros com o seu “eu” para ultrapassá-lo e encontrar o inédito das sensações do que se experimenta e sente. A essência não é literária, a criação é alternativa. Para lá do visível, do além e seu exterior, venha ser os olhos que transbordam de visões no meu oceano íntimo e o oásis que refresca o meu deserto particular. Alguém há de chamar de ficção, paisagismo literário mas o nós saberá da expressão do tempo puro e do sentimento exato na sintonia do real. Eu apenas passo por ela. Ela apenas passa por mim. Sempre há, tão somente, duas escolhas claras: Ir ou ficar, entendendo, é claro, a transmutação do universo do significado. A sua era clara e se tornou obscura, a minha era fácil de descobrir e tu perdestes. Haverá tempo? Não sei. Contudo é hora de olhar um para o outro, quem sabe outros, e reinventar a si para um possível “nós” imprevisível. Procuramos um, falta-nos um, viva sem um! Eu vivo comigo. Na minha verdade sem invenção poética, minha criação sem figuras de linguagem. Sem críticas em demasia, sem falsos dilemas, sem acordos semânticos mas com muita intensidade rítmica. Do outro lado do muro, o invisível, o indizível, o inesperado... suspender-se ou pular o muro? Diante das paisagens nunca vistas, tensão e desequilíbrio dão lugar ao revelar de uma nova sintaxe, o estrangeiro é sentido e expresso em nova linguagem, do sensível à carne.

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