0

Espere por mim

Posted by Eve Rojas on 1:57 PM in , , , ,
Não estais sozinha esta noite. Na pele cortes rasos, assimétricos. O corpo se divide em negativo. As velas queimam lentamente, o fogo e o aroma é cena do insano. Dentro um vazio inculto, fora doídos músculos inexplicáveis. Tenho contado até que eu acabe. Vejo o fim sem reverso. Agüenta até lá. São tantas moletas diárias para quem só precisa ficar de pé. Dores fantasmas em membros reais. Sempre há linha no telefone quando se queria apenas ouvir o sinal de ocupado. Eu não estou lá. É engraçado como acreditamos não saber mais tentar. Vitimização irônica para quem acredita em coragem. Não consigo me dar o que preciso. O som do relógio irrita os olhos denunciando uma emoção persistente nas pálpebras. Será uma emboscada do destino a essa hora? Morreria eu com as armas nas mãos. Paradoxalmente a pressão me mantém viva. Atmosférica. Ensaios de adeus a uma vida inteira de desejos. Já não tenho mais o palco-deslumbramento da juventude. O segredo do roteiro já foi revelado. Nada é espontâneo ou surpreendente. Tédio desordenado, loucura furiosa, no lugar da espectativa alegre e do prazer infantil impaciente. Há quem acredite preencher vida com outra vida. Se desejarmos liberdade talvez aceitemos o conteúdo de nossa sentença. Só é possível caminhar com a planta dos nossos próprios pés. Passo a passo, dia a dia. Necessidade e voluptuosidade em conflito provendo o peso da existência. Ceticismo como consolação. Os dias estão apenas começando. Subsisto incitando o otimismo. Mas tenho tão somente a uma. Solidão. Companheira infinda, cruelmente leal e sem sangue-frio. Tudo mais cultivado por mim resiste em ser colhido, menos ela. Nesse combate perpétuo meus inimigos são abstratos e minhas vitórias última página do jornal de domingo passado. Inexistentes. Sou o próprio entreato, sem razão nenhuma de ser. Tanta miséria no mundo faz crer que desgraça geral é regra. Há os escolhidos em inquebráveis redomas ou felicidade é puro acidente? Mania de ser inteiro! Aprende a valorizar os pedaços. Não. Sentido só pode haver na exceção. Quero guerra com homens que não se partem. Quero banir a arrogância e ser o excesso em bocados. Tenho febre, resisto ao remédio e elimino a cegueira. Doença é loucura advinda da vontade hostil dos que não tem fome. Derrubam a minha porta, não vão me intimidar. Não há perda onde mora a ruína. Nem tente oferecer piedade, o caminho do resgate é o sofrimento imposto pela natureza. Vai passar. Vai passar. Sem aforismos ou filosofastros.

|
0

À Natureza espetáculo

Posted by Eve Rojas on 5:31 PM in , , , ,
Não há mitos ou deuses, talvez asas de serafim. Brilho ofuscante a primeira vista como o nascer do sol para olhos de ressaca. Quem conhece sabe, quem não conhece sente. Só o entendimento contempla e a experiência dos sentidos pressente. Lá há movimento permitido aos poros abertos do sensível. Não há verdade última ou razão primeira. Indução, demostração, abstração do material. Talvez seja necessário crer para compreender. É livre criação do possível. Quem sabe arte da alquimia. Fenômeno químico, fenômeno físico. Natureza que se prova e não tem medo das chaves de resposta diante das suas mãos. Despretensão na pretensão medíocre. Contradição sem fim em si mesma. Refúgio, deslocamento, chegada. Teorias múltiplas entre céu e terra. Opinião. Cenário natural. Conhece os caminhos da evolução, curvas, correntezas, encruzilhas e desvios. Não é uma vastidão de ramos em um único tronco, é corpo-semente que se multiplica e se comunica com as vibrações do saber do universo. Força capaz de originar a totalidade do real dentro de si mesma. Vontade de poder, vontade de fazer, vontade de ser. Converte o instante em eterno e quer a eternidade além do instante. Fugaz e permanente. Protetora de quem sente na simplicidade do suor da pele. Excesso transbordante. Testemunhos contam da lealdade na veia, do sangue quente e manso, na aliada do poder ardente. O imutável não nasce nem perece. Ela têm faces. Mistério e clareza. Será que conhece seu tamanho exato? Perspicácia do tom da personalidade guerreira, harmonia do som da generosidade infantil. Atitude. É nota que vibra em força e personalidade. Em ascendência, descendência, em plenitude. Nesse meio fictício de nomes e conceitos existem poucas ilhas de sobriedade. Apenas típicos preconceitos de quem não sabe da valoração por trás dos preceitos lógicos alienantes. Existem luas incapazes de se olhar e invejam o mar que toca a terra, banha os corpos e é espelho vivo do sol. Ela é imensidão azul sempre apercebida. Alguns observam, poucos mergulham e outros agitam, ressoam como onda vizinha. Tulipa-flor, justa e direta, elegante e demasiada. Exigência em compreensão. Demasiada. Fabula com os signos, experimenta poesia. Batiza o prazer e as possibilidades do ser nesse saber oceânico. Conquista. Arqueira hábil dos alvos positivos. Usa o bem combinado ao impulso vital. Só imagino um outro mundo. Entre vontades de verdade e verdades de engano, o importante é a vida. E tu o sabes. Experiência. Mãos suaves conhecedoras dos calos do velejar. A troca é instrumento de dádiva, rota para novas capacidades manifestas nas interações do humano. Senhora de seus impulsos íntimos, respeita o passional e liberta a razão no alucinar das emoções. Será ela destra no cuidado de si? Preocupações com o mundo. Sensatez emergida em loucura. Da fragilidade conhece a abundância. Reflexão constante. O que sabemos dos espíritos livres? No mínimo têm asas. Aceitam o fardo como dom de voar. Mãos estendidas e passos conjuntos. Quem é ela? Pretensão a minha! Qual é a causa prima? É própria, é única? De um deus oculto ou do seio do ser? Será que um dia foi criada? Alguém arrisca-se na resposta? Qualquer definição é mínima. Ela só está começando. Eu só estou conjecturando. Ainda é cedo... são mais de sete dias.

Amiga, leitora, Deus louve a fraternidade, os encontros impensáveis e os corações abertos.
Feliz Aniversário.

|
0

Quando foi, onde foi?

Posted by Eve Rojas on 3:15 PM in , , , ,
Não lembro do meu primeiro cigarro. Não lembro quando a chuva caiu sobre o meu rosto me emocionando pela primeira vez. Não me lembro. Minha memória tem o mesmo foco da minha miopia. Muitas vezes enquadrada, seletiva e disléxica. Troca o sim pelo não, esbarra no talvez e desaparece no “foi”. Embaçada, vislumbra outros mundos como se o nítido fosse o turvo da junção aleatória das cores. Nessa atmosfera de “frames” confusos, coisas incríveis me acontecem e eu apenas consigo escrever sobre a dor. Sobre a dor de querer, sobre a dor de ter. Essas lembranças impertinentes põem a baixo a porta do meu pensamento sóbrio. Tento expurgá-las, mas nasci inapta para a claridade. Tento ameaçá-las, entretanto provocar é perder o prumo. Então me alio e me deslumbro vendo estrelas em cada ponto dos círculos de luz. Sabores bem quistos. Dessabores honestos. A diversidade de mundos se sobrepondo a minha visão é a mesma dos eus que saem e sobressaem em lapsos temporais cada vez mais próximos. O prazer pela contradição me leva até as fronteiras de mim quando a retórica já não é mais clara. Estanco, retrocedo e me perco. Decadência de virtude em um corpo estranho. Limites materiais numa emoção transbordante. Já não caibo em mim. Espaços inabitáveis para esta errância bendita de eus numa geografia primária tomada por refugiados. Muito perto estou do esquecimento. Perto o bastante para deslocar o que há de sedento, prolongar a dor e retirar a pele interior. Abrir estradas e acabar sozinha, sem honras, onde jaz a lembrança, em um cemitério sem reminiscente. Não sou ilha inabitável nem corpo do mundo, antes espessura da matéria conhecedora apenas do pensamento. Grafias sem signos em uma planície sem fim. Ficção. Às vezes é tudo ficção diante da racionalidade totalizante. Às vezes é tudo racional quando o real é mero conto de palavras estranhas a tentar formar fila sobre o retângulo de superfície branca. Mais uma vez redenção. Clama oprimido, clama pelo estado de exceção da narrativa. Não há como conquistar, a primeira já não sabe quem é. Há? Para quem é nômade é difícil pensar em lugar original. Difícil para quem? Para o devir ou para o afim? Quem retruca? A aflição é em mim. Um eco ressoa, a voz é tua ou minha? Esse ser-se várias vezes humano é perturbador. Partículas vibram e se colidem no afã pelo despertar do infinito ético, enquanto fatores naturais se aliam para incitar os instintos primitivos. Não pretendo ser resíduo ou edifício em campos de detenção. Mesmo que o meu corpo falhe, minha memória padeça, minha fala esqueça, minha alma há de se levantar a cada tropeço, a cada passo em falso para que a verdade não seja resto, mas matéria-prima. O sentido é insignificante quando a janela dos olhos não se é capaz de enxergar. Quem das obras vê, quem das palavras pode ler a intenção do coração dos homens? Meros jogos de poder e falsas verdades. Placebos alucinantes para pacientes terminais. Compreender o outro é confrontar a si mesmo. Irromper em medo, desviar da ruína. Descobrir que o amparo é apenas mais uma ferida, onde, aquele bom Caetano diria, que “o mal é bom e o bem cruel”. Clichês da estética da sobrevivência. Bárbaros discursivos, o sofrimento ressuscita e a memória guarda meu tempo incerto de morrer. Ergo meu corpo oblíquo ao céu em equilíbrio escasso, na fronteira do inabitável, tentando encontrar a luz, aqueles pontos multicores aglomerados, onde minha fé encontra regojizo na esperança do porvir. Encontro territórios encravados em outros, me reconheço. São tantas cicatrizes a reivindicar suas próprias vozes... São Longuinho, São Longuinho, se me mostrares onde me perdi, dou três pulinhos.

|

>

Copyright © 2009 PASSIONATE? All rights reserved. Theme by Laptop Geek. | Bloggerized by FalconHive. Distribuído por Templates