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Conversando com o efêmero

Posted by Eve Rojas on 6:21 PM
Na cumplicidade do meu teclado, entre as teclas apagadas pelo tempo, entre outras tantas tocadas apenas pela parte do meu corpo que sente, reside a mediação objeto-sujeito/sujeito-objeto. Transito entre diferentes esferas recusando a todo limite imposto ao meu universo de ação. É um insulto a predeterminação. Sintomaticamente provoco a inflamação dos vasos de ciclo-ação. Nada de sentido pretendido. Do ciclo, só o rompimento do flerte de domínio. Vastidão de mundo e finitude da vida, incompreensível. Por vezes só nos resta apelar para os momentos. Sempre às voltas com a ambigüidade. Mas, Clarice quer mais do que momentos. “Não porque momentos sejam poucos, mas porque momentos raros matam de amor pela raridade”. Sim, não? Não sei. Passa o tempo, milésimos de segundos, largo a palavra e experimento a morte. Viva o transitório fugidio a alimentar o “jogo” da vida. E para aqueles que acreditam ser os vícios, os descasos ou os excessos os vilões, Clarice responde: “Nascer me estragou a saúde”. Mas sem lamentos. O meu corpo é pleno, sente os extremos. A dor, o amor, a dor do amor. A experiência de vida e da morte em um único gole em saudação ao presente e sem louvores ao futuro. A realidade corta a minha pele e eu não quero a exegese de salvação. Nada de sobrevida. Nenhum outro é objeto autômato em mim. Que deslize a pedra de Sísifo, enquanto lanço as minhas ao mar. Desistir? Não, não, não. Só não me associo aos semi-por-opção-paralíticos à espera de um milagre. Eu tenho a cólera e a graça, não a resignação. Sou um sujeito urgente. Urjo. Sou um espaço aberto transbordando de sentimentos. Sorrio entre gotas de sangue que caem do meu corpo celebrando a vida e a morte. Vermelho de letras se formando, desvendando o imaginário, ao mesmo tempo em que oculta o segredo. Sim, sim, sim, sou desejosa e delirante. Grito e aquieto. Doce é a sensação de intimidade com o efêmero. Sou de nome esperança. Naturalizada, desnaturalizada. De plugs esquizofrênicos e lógica inclusiva. Extraio o corte e opero o fluxo. Se o orgânico quer me dar as falhas de máquina, em palavras datilografadas expresso a minha humanidade ao portador. Entretanto, permanecem inscritas em mim a reverberar o significado latente. Sujeito! Livre! Com e sem arbítrio. Escrito e inscrito em mim e por mim. Conheço os meus fantasmas e luto pelas minhas flores, mesmo sabendo que a dádiva é fugidia. E tu, vais ficar aí a vida inteira esperando que o domingo passe?

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Posted by Eve Rojas on 5:07 PM
Eu não perco mais a hora, eu não chego no fim. Não quero um começo qualquer, não quero ir além de mim. De que és feito? Eu estou for fazer. O que te alimenta? Se é que tu tens fome. Eu gosto do desejo, ardo. Muitas vezes na essência da repetição. Agarro-me. Eu gosto do incomum, do comum que se perde pelas ruas e becos. Do símbolo e da analogia, do riso amargo, do choro doce. Do excesso. Sinto-te ser. Sinto-me ser. Até cada gotícula de suor em cada poro. Horror e exaustão do sentimento profundo. O universo continua enigmático. O eterno tenta lançar-me a mão numa agonia em existir, mas já rompeu. Caminhos falsos ou falsos nos trilhos? Talvez a verdade tenha mais estrada que a solidão. Volto ao sonho, talvez inútil, me agarro aos braços, finjo que é. Afinal para que serve a esperança transitória? Eu bebo. Embriago-me de idéias e possibilidades. Até chegar a loucura, até desviar do abismo. Torno-me carne. Manifesto contra a insônia da dor e da complexidade do pensar pulsante. Basta. O que há além de ti? O mistério da existência? Segredo irrevelável. Um ser, um existir, uma essência, uma consciência? Concepções impenetráveis. Eu desejo, vivo. Sonho e temo. Começo a vagar pelo mundo e encontro tantas mentiras, vazios, rostos a refletir pura aparência, passos ágeis a mascarar a apatia, corpos lindos em almas fantasmas. Eu quero voltar. Alegremente deixar-me cair, lacrimejar diante da luz, incendiar com o gosto do desejo, arrepiar com o afago, ser inocente, ser ignorante. Deixar o instinto se sobrepor à mente. Quero cansar o meu corpo e exaurir a minha alma na transitoriedade da vida, na beleza infinita do renascimento diário. Sou um lugar, sou de lugar nenhum. Sou minha, sou tua. Sou a maravilha do belo que te dou. A pérola chamada amor, aquela rara, formada através dos anos. A retribuição pode seguir o círculo da dádiva. Porque quero tão somente ter a chance de ver novamente o teu gozo em viver. E que arda.

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