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Profundo (?) e inexplicável (!)

Posted by Eve Rojas on 2:19 PM in , , , ,
Essa existência irredutível, essa leitura impossível das palavras que saltam desconexas e polissêmicas da tua boca. Ah Capitu e esses seus, meus, olhos de ressaca, oblíquos mas nada dissimulados. Meu olhar passeia vigorosamente pelo teu corpo, anseia e se delicia apenas por tocar tua mão. Sinto a palma, admiro os dedos, descubro os contornos, entrelaço entre os meus. Não há pressa. Lado a lado nunca há percepção das horas, dos limites do exaustivo, do perecível. Foco no prazer de encontrar o teu olhar com o meu por aquele indecente milésimo de segundo antes do sol, dele, tomar conta. Minha criança não quer ir dormir. Tudo pode acabar... ou seria, nada vai se consumar? O problema mesmo é esse estranho desejo urgente de te amar devagar, suavemente. Visto meu corpo de pétalas para tocar cada poro da tua pele, ouso sentir Tom e chegar a Chico numa jornada sem tempo, nem data. Me perco no percurso e topo com Noel, descubro o ordinário sofisticado. O corriqueiro de encaixe perfeito para as singularidades, mas talvez o jantar não dê para dois. Enquanto isso Cartola me tem nos ombros, culpa tua, romântica senhora tentação. Quero romper sem me tornar insensata, desnudar as tuas frases, saber do exato. Não possuo mais tintas para pintar bem o medíocre. Pode chamar de cartesiano, defesas são construídas em bloco, amores em pequenos biscoitos da sorte. Sem figuração do real, sou tua idealista trovejante. Nada de exacerbação da estética ou da pouca conversa. Eu quero ver, mergulhar, apreciar, me entregar e te receber. Acredito. Risos homéricos para almas poéticas. A vida não ousaria ironizar os distintos. Estúpidos juntos na conjugação ingrata do verbo amar. O caminho é longo, ainda nem soletrei o “eu”, ou mesmo compreendo o verbo, mas confesso estupefata a descoberta do gosto por querê-lo. Futuro do presente de um particípio perfeito de passado definido. Queria fazer uma paráfrase de todas as tuas expressões, escândalo sensato, consciência do insano. Encontros estranhos. O efêmero não me assusta quando o ilógico guia e eu prefiro o mágico em cumplicidade. Pausas para os meus ouvidos perplexos no fluxo continuo da desarticulação dos teus fonemas. Meus olhos mal cabem em tanto brilho, tomado pelos teus num sorriso ridiculamente bobo. A embriaguez agora é outra. Timidez irremediavelmente bela, surpresa de uma estrela que eu avistei cadente. Mas tudo foi ontem, nem mesmo é remota lembrança. Inicio a questionar meus delírios, a maldizer a suposta ligação. De repente o negar de uma a outra, um esconder-se de nós duas. Frágeis ou autênticas alegrias, nada começou. Todo veneno tem antídoto, e todo real é teatro do fantástico. Incoerente ou louco, quero abraçar teu corpo como o mar, sentir teu cheiro aos poucos, acariciar teus cabelos, afagar teu rosto, mergulhar sentindo tua mão segurando a minha... Ou quem sabe remover o imã, perder a memória e te amar amiga. Já não sei mais quais foram meus ditos absurdos, mas... eu sei e você sabe.

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Vício inesperado

Posted by Eve Rojas on 5:57 PM in , , , ,
Lembro de quando amar um dia foi simples, quando aceitar o bem fazia sentido. Ultimamente o mundo não parece tão honesto. Anulo a metafísica e a moral? Talvez o tempo não seja de decadência mas de especulação. Ah, o transcendente e o eterno, nada mais que uma preparação para a morte. Está afim de usar a hermenêutica? Diálogos...Completos de vazio. Um dia ainda alcançarei a sabedoria do desapego da ação e do afeto. Embora suspeite ser mais diminuição do que aumento de valor. Elementar função negativa defensora. Só consigo encontrar a grandeza verdadeira no conhecido mais desconhecido amor. Quem sabe vejo a sua face além-túmulo. Piedade Wagner, piedade, porque sofro nas repetições e acordes isolados de Debussy. Dentro de uma dependência entorpecente, um dia por vez. Nunca disse muito, por temer não ser o bastante e o nada virou excesso. Te conheci com os dados imediatos do sentido. Logo me movi irracionalmente, encontrei o vício e a angústia latente. Os estóicos diriam: Aniquila! Paixão é substância má. Mas renuncio as honras do mundo, se tu vieres comigo a fortaleza dos loucos. Insanos por este afeto devastador, por essa vontade incessante de ter-te entre os braços. Fecho meus olhos, reconheço e louvo a tua respiração, vejo o teu sorriso-levado através dos teus olhos que me buscam por baixo. Não há como escapar, não há mais torre de marfim e julgamento é suicídio voluntário. Declaro a virtude corrosiva e a morte da moral. Todos falhamos. Tento salvar o meu pensamento, no percurso meus músculos dilatam até o romper, sinapses perdem a cadência, comunicações são interrompidas. Corpos livres em divisa, vozes presas em anseio. Agora, prefiro rimas à enigmas, escrevo músicas em clave de fá. Deus há de me mostrar o caminho, porque meu corpo se move para onde está o teu ar. É um mergulho sem orgulho, por uma descarga emocional breve e violenta, de um prazer descomunal. Palavra jamais será pura na colisão de nossas almas. Grito uma prece ao infinito, seguro minhas lágrimas, rogo por solo fértil para essa flor linda, cujas raízes estão a flutuar sobre a aridez silvestre. Bençãos a beleza ímpar, somos inocentes. Somos inocentes. Surgem respostas inesperadas para propícias intenções reprimidas. Haverá lugar para arrependimentos? Será possível esquecer o peso do fardo? Não adivinho futuro. Vejo o céu se inclinando, me mostrando o fogo, dizendo que entre as nuvens minhas mãos nunca irão queimar. Os pés continuam no chão. Deixe-me ficar aqui por um momento. O resto dos tempos é um mistério obtuso e eu sou tua pulsação presente. Serei eu a nova amante de Lady Chatterley?

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Fair lady?

Posted by Eve Rojas on 10:36 AM in , , , ,
De onde vêm o teu sorriso? Infantil, inocente, aberto. Compõe sutilmente teus olhos tristes. Me sinto em casa, me sinto abrigo. O que pesa tanto em teus ombros? Por que em teus movimentos só há defesa?Ataques de uma raiva sem nome, gritos de lágrimas nunca derramadas. Nada satisfaz a tua fome. Solta o freio e descobre abismo como ponte. Ninguém pode escolher o fim, embora trace o caminho. Tua embriaguez é dilacerante. Do melhor e do pior. Um reflexo cega o meu rosto como um punhal perfurando a minha pele lembrando o meu domínio. Um pedaço de carne sem vida diante da luz a muito por ti jogada a zona morta da memória. Olha nos meus olhos, me pede colo e beija outra boca. Nada impróprio na ausência de acordos. Traído é o outro no preenchimento dos delírios imediatos da alvorada. Alucinações amáveis. Tento na mesma medida manter da embriaguez a suavidade amável dos reinos encantados. Fico acordada até não ter mais controle, acordo com a maturidade reclamando sobriedade. Ou será os transtornos da idade? Mágica dos desígnios sem preço. Se do centro se pode ver tudo, por que escolher a margem? As paredes estão a ruir. De repente tua voz ao meu ouvido, como uma brisa leve, como uma carícia inesperada. Na minha expressão um contentamento sem nome, um instante de liberdade. Tocas minha mão como um adolescente desconfiado. Aperto forte, solto aos poucos, sentindo da palma a pontas dos teus dedos. Um cumprimento bobo e um sorriso de lado. Quantas descobertas acontecem durante uma simples olhada no espelho. No seu e no do outro. Mas, contigo, eu prefiro os mágicos! Os rastros de pólen aos rastros indeléveis. Sem crença, sem tempo, sem espaço absoluto. A contemplação do sublime, a experimentação do fantástico. Me aproprio do desvio e acerto no gosto da audácia. Êxito? Cachaça. Não pelo estado ébrio, mas pela morte do silêncio. Eu queria tocar a pele das coisas! Eu queria conhecer a origem do exótico, me misturar com os mitos, enlouquecer a realidade. Eu queria purificar o acerto até ele voltar a ser errado. Quero uma identidade convulsiva, um amor de Eliza, uma paixão de Julieta, um affair com Capitu, uma noite com Deneuve. Isso mostra a inexistência, o capricho da tua estada ausente, o sub-texto das tuas palavras descartáveis. Vai avançar em d4 ou preferir sciliana? Continuarei aqui na mesa, contando meus desatinos a Stella enquanto beijas mais uma boca esperando que eu seja tua próxima dama.

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