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Souvenir

Posted by Eve Rojas on 11:57 AM in , , ,
Entre os souvenirs empilhados displicentemente nos cantos da casa, a beleza como abrigo parece não escoltar mais os sintomas das ressacas. Náuseas. Recorrentes náuseas com o odor do próprio hálito, com o gosto misturado,  com o vinho morno e o encenado.  Pausas poéticas não sustentam mais os suspiros lastimados.  A voz é rouca, o ritmo alucinado. Sem frequência, o instinto, atropela o desejo.  Sacia o corpo e paralisa a alma. Como armas de fogo disparadas  à queima roupa, impiedosas e vazias, atravessa-se a madrugada. Disparos rotos pela culatra, a aurora queima os vestígios, a brisa move as cicatrizes, as nuvens se encharcam. A rotina emerge libertando o prisioneiro, manual no automático.  Faces em espelhos moldados esperando a largada para quebrar o painel. Na esquina outros ornatos tão salientes quanto os de outrora: De fundo redondo, de altura curta, de boca larga. Esborrando, mas pelo meio. Quantas viradas quanto necessário.  Brindes anunciados pela lua inatingível e encantadora. De longe, de longe, bem longe.  A miopia guia a noite em furta-cor. Sabores imaginados, conquistas do espaço e  frenesi desleal.  Sonhos em pequenos passos em falso. Quem verificará as realizações? Nenhum sentido pode ser usurpado.  É meu, é teu, é caro. É entranhado nas águas das ilusões reais transpiradas no suor daquele que crê. Expira a poeira que cega a tua visão interna, inunda tuas vias aéreas, corrompe teu toque. Te resgata no início, na primeira nota ouvida entre a porta, no primeiro êxtase  ao observar a agulha acariciando levemente o vinil, na primeira nota tocada em blue. Torpe num mundo que se move em espiral, entregue incondicionalmente numa linha jamais reta. Tendo paradigmas como abrigo de sentidos, conflitos como lar do próprio prumo. Ébrio, ébrio como um tolo que acredita na inocente esperança do amanhecer, na sucumbência do mal, na possibilidade de alcançar o brilho das estrelas. Um louco que insta desesperadamente ,  que se coleriza e se humilha por migalhas  de afeto. Dilacera-se, costura, permuta, se muda.  Encontra acordo entre enganos, se estabiliza na areia movediça. Persegue o transe do real. Muda de dose. Pede mais uma e outra e outra...Logo não se sabe o lugar de ponta-cabeça. Opostos comuns de desequilíbrio. Riscos necessários, erros acertados, contas a pagar.  Entre o fantástico e o comum, chega o dia em que o raio toca o prisma no ponto do respeito necessário. Pelo ser, no descolar do pretendido ou preferido.  Para quem, ébrio ou sóbrio? Embriaguez apaixonada em doses homeopáticas; moderado compulsivo com apetite de garrafas. Em alguns instantes o mundo podia ser visto apenas na linha do horizonte, no meio sem meio-termos.  Onde todos não apontam para o um e o um só vislumbra o centro. Mas ao invés disso falta trilha onde sobram as pequenas lembranças, os usados bibelôs, as coleções intermináveis do moldado ao esperado. Poeira que leva ao mofo, mofo que leva a asfixia, asfixia que se alivia no próximo souvenir.  

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