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Souvenir

Posted by Eve Rojas on 11:57 AM in , , ,
Entre os souvenirs empilhados displicentemente nos cantos da casa, a beleza como abrigo parece não escoltar mais os sintomas das ressacas. Náuseas. Recorrentes náuseas com o odor do próprio hálito, com o gosto misturado,  com o vinho morno e o encenado.  Pausas poéticas não sustentam mais os suspiros lastimados.  A voz é rouca, o ritmo alucinado. Sem frequência, o instinto, atropela o desejo.  Sacia o corpo e paralisa a alma. Como armas de fogo disparadas  à queima roupa, impiedosas e vazias, atravessa-se a madrugada. Disparos rotos pela culatra, a aurora queima os vestígios, a brisa move as cicatrizes, as nuvens se encharcam. A rotina emerge libertando o prisioneiro, manual no automático.  Faces em espelhos moldados esperando a largada para quebrar o painel. Na esquina outros ornatos tão salientes quanto os de outrora: De fundo redondo, de altura curta, de boca larga. Esborrando, mas pelo meio. Quantas viradas quanto necessário.  Brindes anunciados pela lua inatingível e encantadora. De longe, de longe, bem longe.  A miopia guia a noite em furta-cor. Sabores imaginados, conquistas do espaço e  frenesi desleal.  Sonhos em pequenos passos em falso. Quem verificará as realizações? Nenhum sentido pode ser usurpado.  É meu, é teu, é caro. É entranhado nas águas das ilusões reais transpiradas no suor daquele que crê. Expira a poeira que cega a tua visão interna, inunda tuas vias aéreas, corrompe teu toque. Te resgata no início, na primeira nota ouvida entre a porta, no primeiro êxtase  ao observar a agulha acariciando levemente o vinil, na primeira nota tocada em blue. Torpe num mundo que se move em espiral, entregue incondicionalmente numa linha jamais reta. Tendo paradigmas como abrigo de sentidos, conflitos como lar do próprio prumo. Ébrio, ébrio como um tolo que acredita na inocente esperança do amanhecer, na sucumbência do mal, na possibilidade de alcançar o brilho das estrelas. Um louco que insta desesperadamente ,  que se coleriza e se humilha por migalhas  de afeto. Dilacera-se, costura, permuta, se muda.  Encontra acordo entre enganos, se estabiliza na areia movediça. Persegue o transe do real. Muda de dose. Pede mais uma e outra e outra...Logo não se sabe o lugar de ponta-cabeça. Opostos comuns de desequilíbrio. Riscos necessários, erros acertados, contas a pagar.  Entre o fantástico e o comum, chega o dia em que o raio toca o prisma no ponto do respeito necessário. Pelo ser, no descolar do pretendido ou preferido.  Para quem, ébrio ou sóbrio? Embriaguez apaixonada em doses homeopáticas; moderado compulsivo com apetite de garrafas. Em alguns instantes o mundo podia ser visto apenas na linha do horizonte, no meio sem meio-termos.  Onde todos não apontam para o um e o um só vislumbra o centro. Mas ao invés disso falta trilha onde sobram as pequenas lembranças, os usados bibelôs, as coleções intermináveis do moldado ao esperado. Poeira que leva ao mofo, mofo que leva a asfixia, asfixia que se alivia no próximo souvenir.  

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Nada que não ar

Posted by Eve Rojas on 8:23 AM in , , , ,
O nada oscila no esvair da bondade,  num tempo de ninguém.  Essa ausência obscura marcada por ranhuras incolores impressas no visionário de mim parqueia atravessado na vaga do espetáculo do hoje infinito, faz alarme para os atos de acaso.  Lança o dado por sobre os ombros, cruza os dedos em figa, bate a poeira dos pés. Meu solitário da vez, apressa-te em construir milícia, tua alma grita e teu corpo é são.  O maestro pede o primeiro acorde, ressoa no pelo da tua derme  e se consome nas flamas vibrantes incapazes de retornar aos instrumentos de vento. Fonte de ópio seca diante dos teus cartazes de soberba e mediocridade de ação. Repetidas expressões nos pequenos músculos do teu rosto  e  os teus pálidos olhos, agora vermelhos, procuram por algo. Tuas entranhas se retorcem, teus pulmões acumulam cinzas, teus poros sobrevivem do etílico, teu sangue chega lento ao coração.  O nada te toma em um abraço longo e apertado da tua alma ao atar dos teus braços.  Caminhas cambaleante entre as tuas posses egóicas, entre teus deleites torpes,  entre os  vagantes prestigiados.  Formaste um imenso exército vil  treinado para se esvair no rastro da degradação. Teus metais pesam, tua pauperidade se eleva e continuas só.  Teus pés, de calos e transpirar de lama, não cabem mais nos teus sapatos mais caros. Pisam os cascalhos de areia, afundam na argila, topam no granito, tombam nas lápides do que há passado. Teu paladar sofisticado, incapaz de reconhecer o simples, se farta incessante e compulsivamente sem nem mesmo  sentir o prazer de saborear a água. Aquele, de quando o corpo em sede se deleita em um copo de água, em um gole sentido da nuca ao calcanhar.  Plenitude do tudo, do todo, dizimando o nada. Mas tua boca é seca, teus olhos turvos e a tua encruzilhada quádrupla. Uma confusão de luzes, de cores, fogos em espetáculo e tu desejas ardentemente  um algo, um raio, um único raio. Se o sol te soltaste apenas uma fagulha, uma apenas, teu amanhã estaria a salvo.  Tens a noite nua, faceira,  compactuada com a indiferença confabulando uma balada sem fim.  E tu? Tens a paralisia muscular do nada.  A indiferença esmaga os teus sentidos e a escuridão se reproduz no teu silêncio solitário. Já não há outro, espelho ou auto-retrato. Teu clamor não veio, nem um justo interveio, nem uma estrela te emprestou um raio.  O tempo anda frio, tem temporal a caminho e verão no horizonte.  Como nunca escutaste, ficaste no lago de gelo, afundaste sem desespero, já não tinhas entrega, luta ou desejo.  Soterrado foste, pelo nada que não há. 

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Basta uma tempestade...

Posted by Eve Rojas on 9:56 AM in , , , ,
Há dias nos quais a chuva interior se torna uma tempestade vital. Dia daqueles  no qual o  asfalto se desfaz com a marca dos seus pés e ir ou voltar não se apresenta escolha onde permanecer é sobrevivência.  Fatos sem transcendência, atos para quem não entende os fatos. Tudo máscara de superfície. Um segundo e estamos lá, batendo de frente com o inesperado. Lataria violada, motor paralisado. Urge seguir para quem sabe o destino sem dirigir. Discurso afiado, tudo explicado e meu motorista espectador insiste em seguir mal-guiado.  Conto os segundos para a sorte em um discurso inquieto. Conjunto ordenado de frases contra atitudes requeridas, ensinadas e vistas de macho. Mezzo-soprano dramático ou baixo profundo? Escolha a sua voz. Pobre de mim cujos verbetes são doces e não águias. Não há coletes ou balas, mas em toda batalha se luta sozinho e se vence em conjunto. Se na celebração te derem o silêncio não corta as veias do tornozelo, ou dos joelhos, permanece de pé e deixa que teus olhos sigam. O eco do vão ensurdece. Gira a roda da fortuna, olha a outra face da moeda enquanto ela gira ao sabor da atmosfera. Saídas tangentes, problemas na maioria das vezes modestos diante da angústia que os cercam. E a gente? A gente é sempre arte, multidimensional, complexa, imprevisível, de origem pouco determinada. Única.  Falha. Inacabada. Folha reciclada, amarelada e solta. Algoz no absurdo lugar da liberdade. Bebe do que te nutre, álcool ou água. Se perde no que te sucumbe. Álcool ou água?  Olho para a sacada, vejo a cena, resgato o fado.  Te dou o colo, te ofereço um gole. Parei na espera e os olheiros contemplam as árvores de plástico no jardim de concreto bem cuidado. E gritam! Como gritam!   Tem oxigênio do bom, poeira de livros e solas pouco gastas. Um conjunto de marcas, maquiagem, perfumes, cremes, site de busca e aquele tom de acaso... Naturalmente pago. Oops, hora de falar baixo! A aparência requer hipocrisia e recato, exposição do eu é um pecado sem arrependimento. Mas quem sou eu ou quem é esse eu? Nesse tempo absorto antiguidade não é posto e presente é ocasião. Não há regalias, apenas expectativas sem não. Prudente o ingênuo defensor do comum onde o esperto ergue o palco para o menos um privativo. Cadeias completas de festas pouco sinceras para convidados esquecidos e figurantes selecionados. Trocaram o autêntico do humano pelo produto exclusivo. O espiritual pela prateleira de auto-ajuda. O real pelas exibições 3D, o passional pelo blasé, a inteligência pelo metiê...ou será que foi ao contrário? Garçom, mais uma, por favor! Uma saideira de três atos! Um shot de ciúme curto, um fora on the rocks, e um Amor! Sim, Amor,em copo bem alto! Sem mistura, puro, difusamente sussurrado entre músicas, vozes e outros espetáculos. O último vem no formato de ofensa expulsadeira  para quem perdeu o dom do impulso. As vezes é preciso descer da plataforma para entender o mar. Conhecer a si mesmo é mais difícil do que optar pelo abandono justificado, pelo desejo de adequado. Os dias passam, as nuvens se dissipam e de alguma forma continua pálido sem cinza. Onde não há cortinas de fumaça ou arco-íris refletidos em garrafas resta o ato sem desculpas. O backstage do eu no palco dos outros. Faces de impressões do ser inconcebível. Inferências. A busca é pelo que é ou de que consiste? São apenas vestígios. Poeira moldada com o sopro de quem vê, castelo construído sobre charcos. Basta uma tempestade. Prova do sal, almeja o céu, finca teus pés na areia e não esquece. Não esquece do profundo infinito desconhecido, nem do comum provado e oferecido. Para arruinar a rocha arenosa do artifício, basta uma tempestade. 

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A-tire

Posted by Eve Rojas on 11:02 AM in , , , ,
Palavras que cortam a carne, balas que dilaceram a alma. Desrespeitos que amputam o amor, inconsequências que adoecem o cuidado. Cegueiras, cegueiras diárias de espelhos sujos a transformar os reflexos perdidos de uma pureza infantil violada pelos descasos advindos do nada. Tábulas nunca rasas , profundas como o infinito insondado do universo. Inexplicadas como a presença incólume da apatia própria ao semelhante. O que há de se preservar de humano? O desprezo indiferente disfarçado de dó? A violência marginal do julgamento ignorante a desferir o golpe de misericórdia aos desiguais desvairados? Quem será o próximo da lista? Certezas tão frágeis, todas as lentes tão turvas, loucos os possuidores de clareza. Se há ou existe não me deixem ter. Atropelos são inevitáveis, os perdões imprescindíveis. Os jardins continuam a florescer com as chamas do fogo e a serem invadidos com a frieza do gelo. As estações entraram no ciclo pernicioso do insensível tanto faz e se fizer eu que importo mais. Débil expressão da intenção de centro submergindo a periferia. Confusão de pressupostos coerentes no vão de uma desistência anunciada, nada parece valer a pena. Cercas, muros, grades, pistolas, asfixia. Suicídio do zelo. O que fazer quando o inclusivo sem manual repousa no isolamento dos labirintos de um mosteiro? Textos críticos interpretativos estéreis? Recitais de notas cultas onde os cantos são tentações irresistíveis ao consenso? Doações do que excede para aliviar a culpa? Escolha seu limite, sua coleira, sua rédea, sua ignorância, sua prepotência. Ansiolítico para o trânsito, tranquilizante para o sono, descontos ao abandono, hipnóticos para os que pulsão. Best buy para sistema nervoso, wall greens para dor crônica, e um bar. Por favor um bar onde a desesperança vire excitação, onde a depressão vire tesão, onde resignação vire ação. Tudo pela fantasia de uma noite, quem sabe. Parecem não haver mais recursos para sentir a dor de ser humano. O solitário cansou de sofrer, agride. O obstáculo já não pára, arranca. Dilacera a vontade mediada do corpo. De joelhos diante do ultimado nenhum desespero, nem um novo desejo, apenas a entrega motiva a negatividade sem aventurança. Pastos escassos de salvação. Luzes sem nenhum sentido e o indizível insaciável se afoga no pântano da razão. Nunca se deixem ir. Onde se esvai a dignidade não habita a força gloriosa de amanhecer, o espetáculo prazeroso de tentar de novo. Padece em mim o impossível para que o universo de mim se faça em provas. Austeros deveres para a paciência que se choca com o orgulho, evolução que se dissolve na moral. Desequilíbrio, insegurança e transgressões na medida para expiar; trabalho, esforça e provação para assumir a missão. Levanta. Serenidade projeta harmonia, convivência empatia, caos equilíbrio. Pacífico sentido de luta, onde o natural é dor, alívio e cura. Ruídos de mudança. Flashes de emoções, faíscas de sensações, raios de era uma vez. Mensagem do transitório, avisos de agora. Mortes e nascimentos para alimentar a energia dos opostos. Sentidos cientes de apetites vorazes buscando a lanterna da própria alma. Devora. Os instantes, as pausas, as pressas. Sente a brisa nos poros, percebe a inexistência de suporte. Não há nada a que se apegar. Só as acolhidas escolhas, o eu que se foi, que se projeta e é agora. Vasto e pó onde a fragilidade se liberta em ser. Aqui no chão é o meu céu onde deixo ir. Nuvens, nuvens, nudez e porte do eu. Paraíso temido e cobiçado, o misterioso segredo é o macro escondido no micro. Interconecte, se apresente para a assistência, passe. Toda via é fluída e toda chegada entre linhas ocultas.


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Química do discurso

Posted by Eve Rojas on 1:53 PM in , , , ,
Como água de rio, caudalosa, intensa, constante, contornando pedras, seguindo a correnteza, despencando de cachoeiras, jorrando no mar. Chega e me leva, do início ao alto mar. Brisa forte e livre a me navegar do avesso ao reverso, reverencia o começo mas não se permite parar. Em ondas, pequenas, grandes, me tem sem guarda e sem recuo. Sou teu abrigo, tu és o meu refúgio no aberto espaço, no imenso do liberto. Meu profundo, raso, profundo. Da superfície ao inatingível, admiro os teus arcos, tuas irís, teu ser de cores. Tuas texturas modernistas, teus traços de Baselitz, tuas curvas de Michelangelo, teus contornos Dalí, tuas formas de Cezzane, teu rastro inventivo de Picasso, teu toque de Kahlo, tua elegância de Tarsila, tua alma de Izebel. Quanto tempo que vale, quanto tempo será? Quero a eternidade dos olhos sem perguntas, quero o mais. O mais da confiança que aporta na cumplicidade. A face que enfrenta os medos e mergulha no agora. Busco o sol mas brilho antes contigo. Moldo nuvens e me deslumbro com os vôos de alcova. Não me percas nas noites de baco, nos banquetes de insegurança, nos salões de negligência, nos sons intempestivos, nos palcos de nunca mais. Não faço penhora do destino, mas assinada está a minha rendição a esse amor incontido. Alas abertas ao cotidiano da alegria, a plenitude do encontro, ao fascínio do sonho ao acordar. Madrugadas e crepúsculos tecidos com os fios de luz dos nossos espíritos, efeito de fim que não chegou nem ao meio. Tudo começa de novo de um outro novo, conhecido, lugar. Da beleza das vontades, do imperativo do sensível, dos desejos plenos de valor. Da prática ao discurso, ou no curso o explorar do discurso onde o explícito prefere desafiar? Vamos metaforizar. Desliza errante ilimitada sobre a pele das palavras, arguta no ato de tocar a prosa rubra entregue nos lençóis de outubro. Na ponta dos dedos sente o verso lascivo, as frases desnudas, a carne devassa dos adjetivos, a volúpia dos verbos. Substantivos derivados, primitivos, libertinos. Prazer da língua que saliva por palavra e se corrompe na sensualidade dos fonemas. Abusa do verbete em seus significados vários, escondidos entre linhas, abertos ao acaso. Artigo feminino singular. 360 graus de calor plural. Plural nas pernas entrelaçadas dos pronomes, relativo bem pessoal sem interrogativo ou possessivo. Posse só do verbo que habita em corações abertos. Amor de chamamento. Meu léxico, meu conjunto vocabulário, repouso da minha fome, chama do meu desejo. Além das capas, o texto, corpos de folhas escritas, de folhas em branco. Suor de outono. A luxúria travessa, a energia de estar vivo. Os beijos em cada letra, o gozo em cada período. Sou teu Eros em trema, tua Afrodite com acento agudo. Cuidado com as vírgulas e por favor, esqueça os pontos. Exclamações em caixa alta, exclamações. Nos meus lábios o gosto. O sabor inconfundível das expressões, das sensações inscritas na tua face. Na concordância, na regência da orquestra de notas lúdicas desenhadas em tantas figuras de linguagem. Sílabas ritmadas com gotas de orvalho. Cume da sintaxe, objetos diretos, orações insubordinadas. Clamor do êxtase, encaixe da intertextualidade. Gemidos onomatopéicos, sorrisos polissêmicos. Narrativa infinita, meu amor, infinita. Os Protagonistas começaram agora a saborear a química do discurso.

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Ímpeto Tempestade

Posted by Eve Rojas on 12:51 PM in , , , ,
Dias nos quais a terra se move, o chão desaba afastando-nos a cada segundo do céu. As estrelam empalidecem, nebulosas ganham formas quadradas,  a lua se maximiza,  tudo numa  resplandecente melancolia de memórias de amor de antes. Brisas frias, cabeças inclinadas, sorrisos da última lágrima sem fonte. Por onde anda o Mediador?  Tudo de cabeça para baixo, e tudo ainda no mesmo espaço. Continentes sem posição central, planetas de cometas, astros sem nação, sol sem meio-dia. Gotas de cacos que não mais se resgatam,  mas se juntam num assombroso mosaico.  Lã sem ovelha a tecer no desamparo o fio de uma história de quilômetros sem salvação. Quem dera uma performance fosse de um único ser. Vejo somente uma infestação de parasitas a dilapidar os dons.  Pobres poderes de papel e saberes de cifrão. O teu é o nosso alheio de estimados domésticos por opção.  Selvagem. Tempestade impetuosa das vontades em consequência.  Tensões sucedidas por indiferença. Tergiversa meu mediano, tergiversa. Chama o sagrado, a autoridade ou a nobreza. De nada adianta o desespero. Sem ação só te resta o despreparo.  Pão salgado e nenhum vinho. Confundiste, repetiste: "Que jamais lhe falte a trapaça".  Tinha uma brecha na tua muralha onde A palavra restava em pó. Salva, salva! Quem por hora terá músculos incorruptíveis? A guerra é vinda, é cinza, vai ser devagar ou num pulo só?  Te lança no encerrado, no devastado joga um pó além. Tem de haver os meditativos nirvanas nos desertos de expressão. Substantivos mútuos, construam o arco de Íris. Filha de nuvens e mar anuncia a paradoxal Hera. Somos todos náufragos em ilhas privadas desconectadas de Gaia.  Inconformes no triunfo do bom senso. Doce é a anarquia do adaptável. Observador sagaz, astuto de ocasião. Humana por definição. Nenhum revés define o fim do caminho.  Sobe a poeira da rebeldia, sopra a teimosia da paixão. Cega e eleva. Cortes, dores e transformação. Temperança.  Te chamam amizade, apogeu dos esperançosos agentes. Chega a hora do belo, do desigual sem equivalente. Desabrocha e não brota em mim.  Notas sem corda, cordas sem nenhuma órbita. A nossa constelação transcende, mas há gravidade que a desfaça.  Então sente, sente o que enlaça, o  que é capaz de misturar óleo e água. A falta, o preenchido e o excesso é privilégio do amor de hoje. Mundo de sabores que se chocam, surpreendem e se provocam na prova de um tudo muito e de um muito pouco. Porque os plenos são assim, repletos de turbilhões, vazios de superfície.

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Conjugado de incertezas

Posted by Eve Rojas on 10:52 AM in , , , , ,
Mentira ou de mentira? Contexto de ilusões em um texto de incertezas. Segurança de si pela ignorância do outro no meu próprio abalo. Será que a gente sabe o que recebe ou apenas teme pelo que dá? O que se pode exigir quando você se esvai na própria sombra, quando as tuas certezas te derrubam enquanto constróis a tua fortaleza? De que são feitos os alicerces? Afinal, quem nasce primeiro, o amor ou a decepção? Nenhuma resposta para qualquer pergunta, apenas um eco surdo de temor no vazio. Escute o que quiser, ou mesmo puder. Uma idéia, um fato, uma opinião, uma pitada de imaginação e aí você decide se vai ser vôo, queda, ou redenção. Nuvem, chuva ou azul? Tijolo a tijolo, do chão para qualquer lugar onde haja um melhor do que antes. Ontem eu perdi meu fôlego engolindo a poeira do desrespeito, hoje me perguntei de onde vem a auto-imposição. Perdi a trilha mas o caminho continua impresso na carne, cultivado no espírito. Não tenho adeus. Acredito na semente mas ainda não sei se minha terra é boa. Não quero adeus. Diferença do sentido e da aplicação. São tantas projeções e eu me sinto tão alto, tão no alto. Tenho o amanhã. Deslumbrante e assustador. Já posso sentir meu corpo a despencar no vazio frio da solidão enquanto meus olhos se voltam apenas para cima. Insistem em fazer de conta, a acreditar como criança. Afinal, em todo conto há uma lição de esperança. Egoísmo é sempre eu, que é você, se transforma em nós, em caráter de confissão. Na mudança não há simples ou sutil. É conjunção. Energias que trocam, afastam e se flagram. Fundidas em culpa e nostalgia. Quando foi mesmo que aconteceu? A estratégia é desvendar o forjado, encarar os exames de consciência e escutar o silêncio nos conflitos do nunca e do já dito. Entender os ruídos, a voz do comum e do exclusivo, do constrangimento e da consagração. A troca desigual. Desigual sem origem, sem destino hierárquico. Apenas desigual como os vínculos correspondentes, como a vida e o desconhecido. Valores alheios para próprios de si, dependência sem suficiente, independência sem absoluto. Nenhuma relação perfeita, apenas fontes de socorro, água boa para sedes infinitas. Tudo é por enquanto. Purifica todo dia. Se refaz, se renuncia. Se pronuncia em palavras, íntegras, ébrias, descuidadas, afetuosas... Nunca se sabe se um coração mais forte bate ou se parte. A única via diante das chamas da paixão ou do descaso é perdoar. Perdoar os nossos desejos confusos, nossas certezas inabaláveis, nossas necessidades infindáveis, nossos fracassos anunciados, nossos medos de nunca mais. Pouco é ser rico, pobre é ser nobre. A ousadia de ser é sempre mais. Com ou sem real, tudo está interligado. O teu é meu, que sou eu em ti, que és tu em mim, que sou eu e tu uma vez sem nós. Nas contradições e desavenças a precisão destrói a beleza de não haver certeza. Relevante é afirmar e desdizer, provocar e revelar sensações, inquirir-se a si próprio, se refazer no nada. Todo discurso é de ocasião. Impossível prever quando sal é julgado açúcar. Queres sal, doce ou agridoce? Para mim, nada se exclui.

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Divino

Posted by Eve Rojas on 7:31 AM in , , , ,
Por que será que o inexplicável é tão atraente? Em toda a minha breve vivência não consigo lembrar um momento se quer onde houve dúvida da existência de um Ser maior.  Uma certeza capaz de alimentar o meu corpo e a minha alma. De me encher de serenidade, de vontade de ser mais, de ser melhor. Aquieta as chamas do meu instinto febril,  cultiva o rubro ardente pueril da minha fé no hoje e no amanhã.  Não me sinto sob culpa, na obrigação do dever,  no inquestionável do ter-que-ser. Mundo de idéias, mundo do inteligível, mundo do sensível. Tudo se articula em harmonia quando se celebra a luz da bondade.  Palavras, cantos, melodias, sensações. Tudo me reveste como um manto de esperança e proteção.  É um cuidado tão brando, uma elevação tão despretensiosa.  Salves ao que é bendito.  A capacidade de acreditar.  Temperança  sem comedimento. Busca  por possibilidades de explicações, nunca por absolutos ou por sentidos. As direções são múltiplas, as interpretações infinitas.  O cuidado é meu mas está fora de mim. O bem de fora se perdeu mas resiste dentro e acima dos seres. Não vejo imagens, me deslumbro com o incomparável intangível. Não há nada antes ou depois capaz de levar abismo aos pés daqueles que aprenderam a olhar para o alto. Acredite no outro, acredite em você, acredite no que quiser. Apenas acredite. Eis o motor da mudança a reger o mundo mortal. A crença imortal.  Talvez a única servidão deva ser a voluntária pelo Amor.  Pela virtude do ser, pelo divino celeste. Não há nada a curar, apenas a revelar.  A restauração aconteceu, o sublime já transbordou. Destrona o falso incapaz. Não há dolo ou castigo. Só a misericórdia, não o punhal mas o perdão. Esquece o discurso e a superfície, sobretudo esse. Fica com os sentimentos, com o que move em ti em plenitude.  Cada experiência é única. Olha para o belo, para as essências e para o impreciso, para o que jamais poderá ser dito. Eu não busco salvação. Quero o entendimento do sublime falível.  Provação é presente de oportunidade. Solo fértil para crescimento.  Clamor é canto. Clemência engrandece. Lágrimas podem brotar, mas pés firmes não vacilam. Contempla o  imprevisível, louva os obstáculos, rompe o impossível e proclama o que em ti é Senhor.  Aguça os teus sentidos e te firma nas alturas. Tudo a tua volta é expressão de amor.  Não existe luz sem escuridão, não há equilíbrio sem opostos. Te sustenta sem envergar a tua fé. Te recusa a adormecer. Ergue a tua mão, luta, agradece, abençoa.  A força reveste e constitui.  Renova, renasce, aceita a passagem. Imperfeição é dom. O esplêndido é tentativa incansável.  Encontra os despertos e faz o sonho acontecer. Torna e te torna feliz. No fim, a prova é dispensável, mas a existência é inquestionável. Consegues ver as asas?  Será que importa? Em tudo há um porquê.

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Se existe luta, contra o que você luta?

Posted by Eve Rojas on 7:22 AM in , , , ,
No final do dia toda a interação virou conflito. Lutas por reconhecimento, esforços por vaidade, exaustão por sobressaltos do ego. Quando foi que violeta virou preto? Quais os pressupostos do desrespeito? Quanto vale a confirmação da primeira individualidade?Movimentos astuciosos pela preservação da existência. Palavras de justo e injusto ou nunca há o que seja (in)justo? Existe direito inalienável? Por via das dúvidas conserva o instinto. Recíproco só a desigualdade nessa igualdade proporcional. Preferíveis as adulações aos riscos. Nesse mundo intermediário toda virtude virou interpretativa. Acima das coisas, as vontades institucionalizadas de amor. Apoderamento. Quais os bens desejados? Qual porção você quer? No final das contas sempre a concorrência. Seja pela vista do raro ou do vil. À vista acaba saindo mais caro. Caro para os próximos da prudência (im), da indecência de ser um. A natureza acaba à deriva no orgulho, no affair da moral com o agora. No procedimento sem precedente, no avesso do amor de amanhã. Urge, mas ainda assim compreende o hoje sem pressa. O inseguro da lealdade é preferível a superfície das boas intenções. As vezes eu queria apenas um novo estado. Aquele outro de graça. Uma invenção de caráter e de papel, onde a expressão pudesse ser genuína e voraz com uma folha em branco. Como o lugar do espanto, aquele a dizer nada no segundo e a surpreender com o ordinário absurdo das horas. Tens nas pontas dos dedos o sensível, mas por muito fazes uso como se fossem a lei do juízo. Lesados. Rainhas e reis lesados pela condição de sujeito, pela ignorância bruta do hipertexto. Contexto sem pista, perfume sem fonte, sabor sem ingrediente, prazer sem infinito, mar sem horizonte. Pouco diante do tudo que não sabemos nada. Vem ser pra si desimpedido. Sou teu vocabulário sem absoluto, tua vulnerabilidade sem absurdo, tua realização sem alicerce. Constrói comigo o lugar dos santos prazeres profanos da medida e da sabedoria nesse vão de singularidade indecorosa. Contra quem você luta? Rompe teu contrato com a distinção. Apressa o ataque contra o destrutivo próprio do humano. Nenhum problema é de um, nenhuma verdade é para todos, nenhum passo no escuro é dado sozinho, nenhuma gota de amor sobrevive sozinha. Harmoniza. Voluntária e involuntariosa, não me venha dizendo que não se importa. A desistência é prima do cansaço. Cansaço crime perpétuo, princípio do fim. Lógica, física, matemática, sobrenatural, divino... A afirmação sobrevive: A gente recebe exatamente o que dá. Nunca é tão claro quanto parece, nem tão escuro quanto se sente. Imediato ou efetivo? É sempre "nós". Continua voando alto, dentro e fora de si. Não corta as asas. A emoção é violenta, a memória sensata mas a interpretação é falha. Ouve o sopro latente do saber sensível. Nenhuma luta vale um, nenhuma intriga vale outro. Conjugar na primeira só se for na primeira pessoa do plural. Voltamos ao violeta? Ou quem sabe ao colorido...

Violeta: Fantasia, mistério, dignidade, justiça, grandeza, calma, espiritualidade, delicadeza...
Branco: Ordem, simplicidade, bondade, paz, pureza, inocência, modéstia...
Amarelo: Iluminação, conforto, alegria, esperança, idealismo, espontaneidade, originalidade...
Vermelho: Força, movimento, energia, coragem, emoção, comunicação, extroversão...
Azul: Afeto, serenidade, confiança, amor, amizade, fidelidade, infinito...


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Certo ou errado?

Posted by Eve Rojas on 1:52 PM in , , , ,
É difícil imaginar o temperamento do amor. Seus caprichos, suas necessidades, suas carências, suas fantasias, suas escolhas e possibilidades, tudo parece se manifestar através da caixa misteriosa do humor e da doce leviandade. Quem inventou a prudência, definitivamente, não conhecia o amor. A humanidade em toda sua civilidade passa todo o tempo criando leis. Regras de conduta moral compartilhadas em significado às ordens do poder maior. Ordenamento social. Entretanto por vezes a letra da lei é apenas letra e a conduta é corrompida na experiência. Caos. Nos deparamos com o certo em nome do errado e do errado em nome do certo. Ambiguidades e imprudências do humano. Truculências e barbaridades sempre justificadas em sua essência primeira da carne frágil a corromper a alma e a mente sã. Pobres de nós carentes de conclusões ou mesmo indagações sábias. No irresoluto do ser, impulso e pulsão. Recônditos incógnitos, farsa verdadeira sem direito a verificação. Ignorância. Tem tanto de si, no menos do outro. Tem tanto de eu no desprezo do universal sem rosto. Cotidiano sem guia ou manual da criação. Vive. Vai e vive. Enxerga cego o altruísmo, sofre tranquilo na mesquinhez de ser um só. Anestesia no "não adianta" enquanto benevolentes mesmo são as quedas. Arranca. Arranca do peito qualquer víscera morta. A oportunidade é intransigente, a vontade displicente. Jamais haverá consciência de tudo que nos cerca, por isso lembra: age. Entendimento não é aceitação e aceitação precisa de aprendizado. O único supremo é a esperança. Eu, rio sem chão, para o desconhecido sou inferioridade, mas amanheço e adormeço no movimento contínuo, enquanto as estacas cavam o seu próprio abismo. Quem gostaria de ser quando já foi banido? Quem gostaria de ter quando já foi perdido? O que ninguém ou alguém consegue é ser quando se está e agradecer quando se têm. São tantas composições e decomposições ao longo dos anos. Tantas...que dor vira desculpa de estupidez. A quantidade de dores vividas se torna equivalente a modalidade de infâmia praticada. Incompetentes sociais, nós todos. Mimados e amados na imprudência e no engano de exigir direitos, de falar mais alto aos contrários. Intimidados os curvados, exaltados os em reverência ao pecado. Instinto pleno ou agitação nervosa? Vivas ao vilão, aos vilões, chamado Medo (é no singular mesmo!). Em excessos de fúria, o descontrole é desapreço. Quanto custa, quanto custa o perdão? Me diz o preço! Quero pagar! Quero pagar mas só tenho as lágrimas do arrependimento. Se tens o sentido do eterno, não precisas das liberdades alheias para por em detrimento. Celebra a união, o vice e o versa. Porque liberdade de um é ser dois. E se "conhecereis a verdade e a verdade vos libertará", pisa em falso e aceita o recomeço. Deixa as dúvidas pro divino, aceita a carne, degusta a dádiva do amor irreflexivo e atreve o destino.


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