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Química do discurso

Posted by Eve Rojas on 1:53 PM in , , , ,
Como água de rio, caudalosa, intensa, constante, contornando pedras, seguindo a correnteza, despencando de cachoeiras, jorrando no mar. Chega e me leva, do início ao alto mar. Brisa forte e livre a me navegar do avesso ao reverso, reverencia o começo mas não se permite parar. Em ondas, pequenas, grandes, me tem sem guarda e sem recuo. Sou teu abrigo, tu és o meu refúgio no aberto espaço, no imenso do liberto. Meu profundo, raso, profundo. Da superfície ao inatingível, admiro os teus arcos, tuas irís, teu ser de cores. Tuas texturas modernistas, teus traços de Baselitz, tuas curvas de Michelangelo, teus contornos Dalí, tuas formas de Cezzane, teu rastro inventivo de Picasso, teu toque de Kahlo, tua elegância de Tarsila, tua alma de Izebel. Quanto tempo que vale, quanto tempo será? Quero a eternidade dos olhos sem perguntas, quero o mais. O mais da confiança que aporta na cumplicidade. A face que enfrenta os medos e mergulha no agora. Busco o sol mas brilho antes contigo. Moldo nuvens e me deslumbro com os vôos de alcova. Não me percas nas noites de baco, nos banquetes de insegurança, nos salões de negligência, nos sons intempestivos, nos palcos de nunca mais. Não faço penhora do destino, mas assinada está a minha rendição a esse amor incontido. Alas abertas ao cotidiano da alegria, a plenitude do encontro, ao fascínio do sonho ao acordar. Madrugadas e crepúsculos tecidos com os fios de luz dos nossos espíritos, efeito de fim que não chegou nem ao meio. Tudo começa de novo de um outro novo, conhecido, lugar. Da beleza das vontades, do imperativo do sensível, dos desejos plenos de valor. Da prática ao discurso, ou no curso o explorar do discurso onde o explícito prefere desafiar? Vamos metaforizar. Desliza errante ilimitada sobre a pele das palavras, arguta no ato de tocar a prosa rubra entregue nos lençóis de outubro. Na ponta dos dedos sente o verso lascivo, as frases desnudas, a carne devassa dos adjetivos, a volúpia dos verbos. Substantivos derivados, primitivos, libertinos. Prazer da língua que saliva por palavra e se corrompe na sensualidade dos fonemas. Abusa do verbete em seus significados vários, escondidos entre linhas, abertos ao acaso. Artigo feminino singular. 360 graus de calor plural. Plural nas pernas entrelaçadas dos pronomes, relativo bem pessoal sem interrogativo ou possessivo. Posse só do verbo que habita em corações abertos. Amor de chamamento. Meu léxico, meu conjunto vocabulário, repouso da minha fome, chama do meu desejo. Além das capas, o texto, corpos de folhas escritas, de folhas em branco. Suor de outono. A luxúria travessa, a energia de estar vivo. Os beijos em cada letra, o gozo em cada período. Sou teu Eros em trema, tua Afrodite com acento agudo. Cuidado com as vírgulas e por favor, esqueça os pontos. Exclamações em caixa alta, exclamações. Nos meus lábios o gosto. O sabor inconfundível das expressões, das sensações inscritas na tua face. Na concordância, na regência da orquestra de notas lúdicas desenhadas em tantas figuras de linguagem. Sílabas ritmadas com gotas de orvalho. Cume da sintaxe, objetos diretos, orações insubordinadas. Clamor do êxtase, encaixe da intertextualidade. Gemidos onomatopéicos, sorrisos polissêmicos. Narrativa infinita, meu amor, infinita. Os Protagonistas começaram agora a saborear a química do discurso.

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