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Pecado abençoado?

Posted by Eve Rojas on 12:04 PM in , , , ,
Dos últimos sonhos de amor que ousei sonhar coleciono experiências e ladrilhos. Pálidas rainhas e rosados plebeus. Tua boca altera meu prazer. Meu centro de gravidade é o gosto. Amargo, doce, ácido. Tenho fome no palco da insanidade. Te bebo como vinho, te amo como água. Provo cada parte do teu corpo como pão santificado em gozo. A alegria ainda permanece como sensação escusa. Converte, não há nada silenciado. Perverte, não há espaço para o abreviado. Será preciso entregar meu eu constantemente a outra pele? No templo do deleite, faço uma prece ao pecado. Que o desejo preserve teus lábios famintos, que tua mão reconheça minha pele e teu gosto invada meus poros como mar imensidão em solo desértico. Fecha meus olhos com beijos cálidos, sinto raízes de alívio, experimento o sublime sem espetáculo. Nem tudo é benção ou maldição, talvez desafio. Contigo as palavras agem, mas as sombras permanecem. Entre os males, tu és o que menos me amedronta. É a minha realidade, não o nirvana. Religião do inesperado, a felicidade não é para o amanhã. Haverá adubo no plantio dessa flor? Há açúcar e eu quero sal. Tua paixão é um dardo lançado sem piedade. Ardo e apago, não sou descoberta exótica, nem oferenda a solidão. Cansei dos caprichos do correto, da mão pesada da consciência. Mas as dores não são mais suaves quando Dionísio vence Apolo numa luta de derrotados. Qualquer um dos lados, me embriago sem amanhã. Para quê norte se estrada não tem fim? Mais uma dose! Compro o alívio insignificante barato, sou Pierrot não Alecrim. Intensidade, duração...é preciso existir para poder transformar. Por hora passeio com beijos suaves nas tuas costas nuas, perco tempo na tua nuca, deslizo na tua curva feminina, atravesso o limite do teu íntimo, toco a tua exaltação, sigo teus movimentos lentamente progressivos num agitar do teu corpo ávido. Quero ele cansado, misturado com o meu. Confusão de pernas e suor. Quero novo sabor. Quero provar até a última gota de prazer, até a exaustão do teu suspiro. Voltar a tua boca e abraçar teu corpo inteiro. Ferve em contrações, atinge o clímax sem devaneio. Quero o incontrolável, quero o espasmo. Quero tudo de novo, e de novo, e de novo...dormir vestida pelo teu corpo, acordar com o renascer. Onde há pecado, há virtude. Ilusões em vão? Aceita a sina.

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Doce sabor de sal

Posted by Eve Rojas on 12:28 PM in , , , ,
Intensidade e vibração em linhas e movimentos. Barulho das ondas, gosto de sal. Tira o copo da minha mão, faz os meus pés descobrirem teus passos, pausas e vírgulas. Quando a melodia comum acaba, permanece com o teu corpo colado ao meu. Tão próximo até que os lábios se toquem, até que as bocas se encaixem. De repente não há sentido secreto no mundo. Boca e língua. Força livre, inoportuna sensualidade? Ou seria fetiche de madrugada? Noite de vento louco, tinha tudo para devastar e acariciou a pele. Nesse fluxo foste instante. Já não sei articular idéias claras. O óbvio deixou de ter propósito. O máximo do diverso toca o mesmo. Procuro guia na confusão dos desejos esquecidos. Encontro negação afirmativa sem página nua. Fio luxurioso no decorrer das horas. Experiência sem construção aparente... Algo aquece o silêncio entre nós duas. A despretensão. Quase impessoal, mas de toque, em mim, germinativo. Me abraço ao teu corpo e não sei se transfiguro a realidade. Sentimentos se intercruzam nessa atmosfera, mas não me invadem. É um afago suave, como se a sensibilidade se colocasse humildemente atrás da razão sem no entanto ir-se sem deixar um sorriso. Daqueles, bobos, vindos em sonho, nos lábios de quem se admira. Qual será a verdade entre a história e a imagem? Descobrir-se-á na passagem para outro tempo indeterminado. Te vivo e te temo, estrutura instável. Nem mesmo consigo ler o momento passado. Fora de nós mesmas, te diria em doce quebranto, não procuras mais minha mão, porque nem sob fogo eu a largaria. Reside dentro o estrangeiro, deixa. Pois se um dia o reconheço, será tornado nativo, então não serei mais passagem mas morada. Sigo o intuitivo e sou o corpo em palavra. Ouço tua voz a chamar e te abraço num canto de Vinícius. Brinco com a tua inocência e naquele segundo pareço estar em casa. Terna e delicada, arte em única devoção. Venustidade do ser. O divino é música para dança da tua harmonia. Entre estes fonemas cegos, quero a tua vibração última esfuziante no corpóreo apercebido, enquanto espero o punhal no ponto nevrálgico da palavra-amor. Não conheço o segredo das manhãs, mas improviso um jazz, ouço sem fúria e descanso sem melancolia. Foi lindo. Foi? Será? Estou perto o bastante para não te deixar cair, para acenar as borboletas e admirar as estrelas. Tudo é copo de água pura lavando as dores de uma alma marcada pelos cortes, obscura. Nas manhãs há Deus, despedida e cogumelo sagrado. Me enfeito de sorte e te espero em Tom, ao tom da incerteza.

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Anjo sem halo

Posted by Eve Rojas on 11:17 AM in , , , ,
Em que centésima fila de farelo branco de neve a minha narina repousou para te trazer a vida? Crua. Tua carne não me amedronta. Sei, mesmo inteira, tenho tão somente teus pedaços. E gosto. Pouco me parece tanto. Último gole de vinho das várias garrafas degustadas em atos de turbulência. Taças intactas, corpos imóveis, desejos revirados. Pobre da moral, vítima de nós duas. Tudo voltará ao seu lugar, delírio é reversível. Me torno lúcida aos poucos pelas palavras na tua língua, ou seria pela tua língua em minhas palavras? Nitidez esquisita. Espasmos reais e vapores que se singularizam. Sou teu segredo sujo, és o meu erro inculto. Qual o próximo passo? Te fazer o jantar? Talvez, hás de responder, como uma dama de luxo dos antigos cabarés. Essa voz doce e esse corpo lascivo! Te afasta de mim, tépido poente. Te faço mínima e te quero mais, mas não ouses dizer ser minha. Não tenho nada, tudo faz parte de um grande acordo de empréstimo. Te estimo e te mimo, te preparo para ir ao amanhecer. Feliz, mas desconfortável. Como se o rio corresse ao contrário. Trabalhas o teu poder enquanto eu perco o sangue. Quem ganha, quem perde? É um jogo vazio. Ganha o instante e perde a eternidade. É hora de ir e teu corpo me chama, é hora de ir e tua boca passeia na minha. Minhas mãos desnudam tua pele, minha sensibilidade toca a tua... O perigo é iminente, das alturas a noite nos acoberta. Estamos no limiar. Subir no muro é metáfora. Já saltamos, falta apenas escolher o local da queda. Saber da busca só faz ter certeza da distância. Reconhecer o vazio é entender a inexistência do amor. Não precisas definir a tua cor, o arco luminoso continuará no mesmo lugar. Cura, corta, colore, escolhe, chora e põe a fora as faces que te faz ser. Verdades não são apenas para ser ditas, são para ser vividas. Não trago cansaço para teu tempo e espaço, marco compasso nessa sintonia sem pressa. Sou o gesto bravo que não se ensaia, o breve. Gota de cristal em mar de vidro. Não vai embora, não ainda. Brisa suave há de virar tarde purgatório? Eu ei de rogar clemência, por ser outro e não ousar ser um. De certo não sei sair. Desígnios torpes de um destino devorado em pó. Sopra! Logo terás nova conjuntura desenhada pelo ar que te mantém a vida. Em dias de sol também é preciso brilhar. Eu estou no ciclo das águas, abismada com a imensidão, esperando subir, me unir, cair e me dissolver no humano até chegar a lama que cobre o teu chão. Próxima parada? Reciclagem. Águas turvas são para as sombras cuja escolha foi não existir. Não me absorves, sou fogueira de mil sóis. Diante dos meus olhos teu feitiço há de acabar, mas segurarei a tua mão. Memória inoxidável. Sabor chocolate, delícia intoxicante. Te bebo, me embriago, assino e renuncio. Tua crença na santidade do desejo me tortura, sou anjo sem halo. Minha divindade é duvidosa e minha carne demasiado perecível.

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