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Só eu sei!

Posted by Eve Rojas on 7:06 PM
Vai meu garoto tímido da vida inteira, deixa meus olhos sonharem na voz sublime das tuas palavras. Chega mais perto. Eu desafino no silêncio enquanto és meu sabiá poliglota gorjeando as cosmopolitas, raiz da Tijuca. Meu Antônio, meu Carlos, passeia nas notas, escolhe uma e me dá o tom. Brasileiro Tom. No intervalo doce do teu toque suave e exato de genialidade desconcertada, me maravilha com o jeito inocente do teu canto fim de tarde, aquele como quem acabou de lembrar de esquecer. Desesperadamente amado em cada verso, o teu respirar ofegante, me lembra a brevidade impiedosa da existência e do êxtase do afeto. Mas não te perguntes se vais ter fôlego, tuas pausas cristalizam o ápice das emoções, numa experiência de infinito em segundos. Não é uma crença, não são ciúmes, não é a bem amada, não é uma doença, não é a madrugada, a minha busca é de você. As vezes, inevitavelmente, me alimento de você. Só de você. Anda comigo até o Leblon. Na simplicidade do equilíbrio natural me diz que amou entre um observar e outro dos macucos. Macucos. Ô inveja con amore de teus contemporâneos, de tuas amadas mulheres, da tua amada mulher. Declamadas em pôr-do-sol sussurrado à brisa do teu piano, iluminado. Tanta generosidade! Respeitosa modéstia entre os parceiros aclamados. E o extraordinário era aquele menino de poucas palavras sobre o legado, tantas vezes segunda voz. Vaias Chico, vaias! Bobagem! Sabiá voa através das gerações entre aplausos e sobre a vergonha dos imbecis de outrora. No compasso do trem direcionado, apressado, sem paradas, ao branco e preto do retrato, zingaro, de um horizonte jaz conhecido. No encontro sem pressa do lugar onde Vinícius não existe sem sofrer. Chega de saudade! A bossa casa sempre nova, continua acostumada a guardar você, enquanto o jazz reverencia lá da sacada. Ô arquitetura de morar! Lembro o sublime estágio da pureza dos musicais. Tempo do Mar. Tranqüilo sinistro a desvendar imensidão. Inimaginável furor desorientador da Casa Assassinada, em versos tristes, repentinamente, a Crônica fala. Piedade e nova alvorada. És tu mestre surpreendente. Passarim, Borzeguim, vem dançar. Mar, sertão, floresta. Deixa! Brasil Nativo, Matita Perê! To my room at 10 o'clock, Chansong! De Nova York, Paris ao Samba do Soho. Minha terra brasillis! Conheço sim senhor! Caju, pitanga, guaraná, suçuarana, guará, tapurió e sabiá. Esquece a tristeza e canta! Canta mais! Maria, Marina, Gabriela, Isabella, Lígia, Luiza, Ana Luiza, Dindi. Ah se soubesses como cada nota me faz feliz! As palavras parecem tão indignas que não passam de rascunho querendo agradecer a grandiosidade da obra-prima. Desafias as partituras, abusas dos instrumentos, pervertes o canto. Someone to light up my life? Broadway em cabaré de virtuose do virtuoso sofisticado sem afetação. Se eu pudesse por um dia tocar as asas do anjo que te deu leito! Ficaria em silêncio, esperando teu canto vivo voltar pela primeira vez aos meus ouvidos indignos ansiosos. What can I say to you “bonito”? Se todos fossem no mundo iguais a você! Assobio outra vez para chegar mais perto, onde eu sou apenas mais uma e tu és o único, parte das coisas belas da vida. Olha lá aquela luz, lá embaixo, se acendeu no mar que parece que já vai fechar. Fotographia. Tua face irreproduzível nas coisas mais simples que você tocou. Vou no Trem Azul direto pra estação Mangueira. Manda subir O Piano! How Insensitive? Nada, Querida. Longa breve vida. Canta para mim em despedida a vislumbrar limites longe-longe da pretensão como Moacyr a dar lugar ao neto, como tu a dar voz a Malu. Sempre verde e ar condicionado aconchego para admirar e desvendar o Jardim Botânico na fuga do cinza, meu arboral a sentir horizontes. Bota a garrafa de vinho no gelo e conta! Continua sendo o mais singelo do mundo, belos Anos Dourados cantados em sons indizíveis, inimitáveis, sentidos na pele alma, tom de criativa liberdade! Livre, livre! Brinca de palavra com os parceiros, sai para aquela loira gelada, diz adeus sem ninguém ver. Deus te mostrou para o mundo, te levou do mundo. E aqui estou. Pobre amador apaixonado, aprendiz do teu amor, do teu amor de não “ser” sozinho. Élégance, sim, sim, Élégance! Tua valsa de sete cores! Silence, Silence! Com a tua pronúncia francesa, abrindo passagem. É música popular brasileira sem o isolar do alto da montanha! É muito mais da praia. Tereza da Praia, amor de Leblon. Conhecedor, divulgador, admirador, experimentador dos seus pares, curioso sobre os ombros. Bate palma e pede bis, ornitólogo querido! Do Chico maestro soberano. Depois do inesgotável encontraste tua paz, mudaste para o teu azul. A felicidade. Sucedeu assim. Havia de ser com você. Pluma que o vento continua levando pelo ar.
[trecho da tietagem desavergonhada]

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Saudade "vezenquando"

Posted by Eve Rojas on 10:10 PM
Quem poderia dizer se quer que um dia começou? De repente se foi a vida como eu conhecia. Fugi tanto daquele céu azul. Limpidez deslumbrante de matriz celeste. Queria poder levar-te entre os braços. Quem não queria? Eu não quis. Quando quis não mais podia. Azul profundamente simples para a minha complexidade superficial deliberadamente dissonante. Sussurro baixinho minha nostalgia entre sereias do canto. São confissões abençoando a quietude e o riso. Te penso silenciosa e cara, sem reinado mas cheia de ares imperiais. Impossível dizer, mesmo com toda herança de sons e de palavras. Fina, desenhada. Rascunho rude de mão livre. Por tanto me encantastes com tão farta desavergonhada nudez de alma. Vou chorando e te levo sorrindo. Foste o impulso que fez mulher. Desnudo-me até o osso e sofro. Aprendi a desafiar a moral sem a vulgar desonestidade interior. Sobre a tua grande face o meu andar desordenado, desconserto de estrada que tu és. Tantas curvas, atalhos e pontes a guiar um outro alguém. Belas interrogações fecundas na encruzilhada da separação. Vira e mexe, recito as minhas odes mínimas. Quem pode impedir o abraço afetuoso da boa saudade? Estreito o fardo mas não desejo o alívio. Soneto, baladas, elegia. Minhas fábulas. Me estendo imensa longe dos teus braços. Passeio entre os girassóis noturnos, me acolho nas flores de março, me apaixono pelos lírios e contemplo as gérberas vermelhas. Aprendi a abrir os braços sem atar os laços com os amantes apegados aos espinhos. Reescrevi o manual do cuidado, respeito e generosidade de mim. Embora a solidão seja o conviva acessório da minha vida noturna de madrugadas hedonistas e vespertino agônico. Havia esquecido o quanto as pessoas podem perverter o bom de si mesmas. Que tempo há de acabar com as desastrosas bocas? Quantas vezes o meu sopro há de pousar num dorso estranho? Alma minha gentil, quantos são os penhascos para retirar de vez as máscaras? Eita, sinuoso caminho da vida livre. Repito o sombrio, ritos e frisos antigos dos resíduos espessos da crueldade alheia desmedida. Felizmente já não há cortes, boicotei o ciclo da auto-sabotagem. Fecunda é a semente do vasto de ti, desse pássaro de mim à pontilhar a inocência da decência. Da minha crença ingênua em verdades pequenas. Reversivos rios de rumor, revertes para as vertentes da mansidão e viajas leve desviando das pedras na cadência elogiosa da esperança em verdade. Saudade! Saudade de quando os desvarios proviam apenas do embate de subjetividades. Intraduzível origem introdutória da afirmação. Quero eu ser olvidável e censurada aos alcoviteiros oradores recorrentes do perdão não-restituível. Precisam aprender que o altruísmo é o caminho de glorificar a própria casa. A nebulosidade é reveladora e a descoberta possível aos destemidos desbravadores. O respirar mínimo garante reanimação. Realidade espírito e matéria humana, merecimentos caminhando no interdito. Inesquecível afeto da vida inteira, não sabes o quanto é bom seguir sem farpas em meio a tanta gente indecente cuja graça é rótulo de uma hipocrisia disfarçada de imaturidade. Bom saber ter sentido o significado do amor, melhor ainda encontrar entre tantas constelações e meteoros opacos, um brilho único a iluminar o mundo, com olhos tão ternos, que o reflexo emitido cega os devoradores desatenciosos a ver estrelas só na escuridão.

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Cheia de vazio

Posted by Eve Rojas on 4:34 PM
Abro as portas e avisto da janela da memória um sempre passageiro que acabou agora. Uma eterna substituição da matéria, uma natureza constituída por átomos e vazio. Um rosto de expressões antigas, de pele enrugada pelo cotidiano das idéias, se acomodando no diálogo das representações do pensamento. Fixa, numa existência marcada pelo desassossego, o presente instante desaparece como um sonho no vão absoluto das coisas. Tudo parece ter sido. Até mesmo o signo perene da insegurança a ela surge e sub-jaz em meio a insaciabilidade das vontades numa absurda finalidade jamais determinada. É hora de manter os vazios no seu lugar. Deletar os vazios do vácuo e abrir espaços para os do vaso. Aqueles cheios de ar ou de água, plenos de efeito e ação. Nesse fluxo cognitivo de vastas emoções e racionalizações imperfeitas não há nada mais do que factualidade narrativa. Mas ainda há a necessidade dos vazios. Se a plenitude fosse constante não haveria lugar para o novo, só para o velho, inútil e gasto. A expectativa é de chegar ao porto com velas e mastros faltando, remodelar o barco, navegar outros oceanos. Sem carência, sem melancolia, partir e ancorar com boas saudades. É impressionante como a vida, no pequeno, acorre mais completamente. Nos pequenos desejos, nas pequenas tentativas de o amor contido saber acessar. Incondicionado e absoluto. Na marola é que se compreende o poder e a suavidade do mar. Entrementes, as ondas também vêem em ásperas farpas inacentuadas. Acidentalmente atingem a consciência disparando a fertilidade do conflito. Em comunhão, o puro é o firmamento, na rudeza e bondade da natureza visceral. Somos nós a caminhar nas estradas com áureas de amor inocente, enganados a dançar nos braços da esperança até chegar nos braços do parceiro alvorada, vulgo morte ascendência. Quem diria que há porvir e a gente ainda trata opção como prioridade. Antes do interdito, há o dirigido e ofertado. Prerrogativas e inquietações acionam o transe de percepção. E ela corre como se o infinito fosse bem ali na esquina, como se o amor fosse um encontro com o pôr-do-sol sob os arcos coloridos. Eita guria, o final do conto é abrupto, sem sensibilidade ou poesia. Então é assim? Desautomatiza a linguagem e abre o lírico da nova obra. Em cada detalhe as borboletas adejam, soprando as luzes, as sombras e as pétalas vermelhas. Deixa a brisa do real cênico tocar nas profundezas do humano. Os encantos são mais do que substitutos patéticos a se corromper entre o tempo e a desatenção. São o êxtase do inesperado, do agora, da lembrança da verdade, da expressão única, a flertar as voltas com a ilusão que não sabe se é ser ou se é inventar. Ainda há lugar, ainda há lugar. Há tanto mistério por trás das palavras, há tanto segredo nas coisas do mundo, há tanto eu nos seres do mundo. Vou trocando a pele, vou reiniciando os parágrafos. Não quero guardar a existência de tudo, quero provar, explorar, todas as possibilidades dos universos mais contestados. A face é inviolada e ela a incitar a mística do inconsciente sem rumo. Vai menina, se enche de vazio e mergulha em busca das vozes sem ira, na nascente da criação.

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Deixa o adeus dizer

Posted by Eve Rojas on 9:00 AM
Para quê torturar tanto as palavras para dizer adeus? Tentar expressar exageradamente a beleza de uma história, que acabou, na articulação de fonemas vazios? Deixa o amor doer em paz. Os porquês soarão sempre tolos, posto mesmo que o são, diante da dormência desejada do coração a desfalecer. Não há como explicar páginas já lidas e escritas pelo mesmo autor. Alas as emboscadas conhecidas da vida! Surpresas e armadilhas. Tão somente as reverencio. Antes que acabe em nós o afeto, este antecipado amor me vê de partida, o horizonte anseia a minha busca. Ergo meus olhos, apresso meu passo. Olhas-me novamente. De súbito peço, deixa-me te tocar outra vez. Não deixa, não peço. Meu carinho alenta o espaço em tua evocação e só. O anoitecer traz a desventura fazendo a minha voz soar quase como um disparate diante do imenso, enquanto a fome-infame parece conter a minha dor. Pranteia hoje comigo e não leva nenhuma tristeza ao recordar amanhã. Salva a ternura que avistei. Se te doer, não faças como eu e te alies a solidão, deixa as tuas lágrimas aos cuidados do vento doce. Sê como pinheiro firme a saborear a brisa se despedindo do desprender de algumas folhas, férteis secas. Cristal de fé não quebra, ao amanhecer do dia há sempre raios refletindo o anunciar de novos amores para celebrar. Não penses te ter pequenina, a coragem é tua e minha chama apagou. Meus madrigais não tem destino, sou alma errante a me encontrar nos rios e tropeços. Já não sei ficar, sou viajante a me deslumbrar entre as lendas férteis e as palavras desertas do sol nascente. Continuo a procurar, o já sabido por mim, impossível de encontrar. Mas continuo, hoje, e não me peças para parar. A minha instabilidade é egoísta e o meu amor aprendiz. Apago as luzes da ilusão, mas o espetáculo continua. A estrada é longa e os palcos intermináveis. De figurante, a coadjuvante, a atriz principal, papéis descartáveis para quem só quer escrever seu próprio roteiro. Nada precisa ser. Avidez e melancolia demais sem carícias a vontade quando o tempo é de início e o ponto é de atravessar. É preciso aceitar a ponte. Quem sabe de mão dupla. Deixa ir. Coisa estranha é amar! Acredite, é amar. Sentimento sempre imerso na perfeição dos seus paradoxos. De joelhos a clamar em solo profano. Lar dos devotos. Te insurges a procurar conserto, mas não há como erguer fogo e ferro num palácio sem altar. Não movas um dedo, não apertes os lábios, não me digas mais palavra-falada. Não te tenho nada, entre um tanto de lágrimas, apenas a palavra-silêncio rosa-chá.

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Visão flocos de neve em praia

Posted by Eve Rojas on 11:33 AM
Num banco, num canto de um bar, fumando sozinha seu último cigarro despretensiosamente diferenciado. Um prazer inenarrável a cada trago, como se todo a beleza do universo fosse inspirada num longo acariciar de suas vias aéreas. Seu tempo é de instantes profanos no sagrado agora. Olha o copo, deixa escorregar o gelo entre os dedos. Leva devagar a sua dose de whisky cowboy, devidamente posta em copo longo, até os seus lábios e saboreia, enquanto observa as estrelas numa reverência aos céus. Olhos fixos no nada, horizonte das ondas, a música atravessa a sua alma se traduzindo em um leve sussurrar interior. Foi só para ela. Seu semblante é de plenitude, ela não anseia nada, não busca nada, não quer nada. Nada além do que o momento tem para oferecer. Sua fé parece estar como vidraça espalhada pelo assoalho e tudo continua a ser o bastante por agora. Ela é o próprio mistério da transparência. Deus! Me deixa ser a guardiã desse amanhecer. Salto manolo e jeans desbotado, nada nas mãos ou nos braços. Apenas um colar de corda preta a segurar uma estrela “paloma picasso”, direcionando os olhares ordinários ao seu busto altivo levemente a amostra. Sonhava ela ser mais uma entre os dados. Poucos símbolos trocados, um sorriso de canto e eu já queria submergir no vórtice do pecado. Esse teu misto de blasé e encantamento lado a lado com o mar! Pensava nunca ser possível tocar tal áurea. Talvez de fato nunca seja. Visão sem retrato. Oceanos a parte, o meu presente foi apenas descobrir possível. Caminhas entre os mundos alimentando a esperança dos sonhadores sem casa. Vens e passas, te fazes presente e não há compreensão que te baste. Rugido feroz e beijo sutil de pluma alva. Me permites ver mas jamais te encontrar completamente. Um dia acordarei, ouvirei bater mas não precisarei abrir, porque já tens a chave da porta. Nevasca, Nebraska, em solo de praia.

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Trecho extraído da estrada...

Posted by Eve Rojas on 12:02 PM
Onde quer que eu esteja disponho sempre de mim. Eu me dirijo, me perco, me empresto, me acho, me provo em pedaços, mas calma aí que eu não me vendo. Aos amigos, não circunstanciais, a minha alma como companhia a qualquer tempo ou lugar. Nado em infinitude e subo apenas num flerte travesso com a superfície. Das leituras vivenciadas, um pensamento para cada dia. Para as feridas, curativos, mas não todo dia. Primeiro o necessário, depois, o suficiente. Grande Sêneca. Discernimento, amizade, confiança, ou a ordem das combinações disponíveis ao sensível da honestidade. Desconfiança autoriza infidelidade. Eu não ensino a enganar. Meu íntimo só se converte em segredo sob as regras do social. Nada de movimento contínuo, nem contínuo repouso. Sêneca de novo! Se queres ver, veja. Se te acostumastes com a sombra, não espere que escureça. Construímos verdades, não descobrimos verdades. Radicalmente real ou irrealista? Verdade. Verdades. Simplicidade não se converte em exposição fácil de problemas. Desate. Espírito atento a dedicar-se ao caminhar e aos inquestionáveis. Não há refletir sobre o bem, apenas ação. Sereníssima natureza, com sua lógica fácil maravilha e afugenta. Nascente límpida entre cacos e pedras? Fértil é o lugar onde sua misericórdia aponta. Visão do sublime na pequenez do humano. Limito-me a conferir, a mim mesma, a forma apropriada. Cuido das minhas nascentes, verdes, secas e dias nublados. Abstrações espontâneas do pensamento dão voltas em torno de mim, tentam me atingir e me desnudam sem acaso. Entre os meandros, a façanha é o insurgir novo em meio ao caos. Liberdade em mosaicos de construção. Experienciando o nada sob si, a matéria é coextensiva e a virtude potência. Sob o nome de idéias, o poder ativo. Eu sou película transparente, pensador insípido, e hoje em fragmentos, fica difícil escutar o que eu digo. Delírios de estrada.

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Vontade de partida

Posted by Eve Rojas on 4:05 PM
Ó tirânico Amor, ó caso vário
Que obrigas um querer que sempre seja
De si contínuo e áspero adversário...
Luiz Vaz de Camões


Saberá Deus o que em mim anseia despedida, será talvez a sede pela perpetuação? Será essa necessidade veemente pelo avesso, por ter o que nada contém? Será reversível esse gosto pela ausência e pelo desconforto? Esse querer guardar intocável a ternura do coração do outro, mas sem dor e penitência? Quero o sumo pungente do instante-santidade contigo, meu outro pretendido. Embora sem ti no amanhã da tua sorte. Do inseguro, a certeza ri e chora. Embora as seduções, jogos, detalhes e armadilhas, afetem a ambos nos braços da vida. Abraços a cortesã! Indícios e ilusões antevistos na cama efêmera do eterno. Entre as paredes do gozo, em meio aos lençóis da quimera, avisto a porta do nunca e passeio no corredor sem-fim de “ninguéns”. Ao final, a proeminente amante, sem rosto, fende e não ofende. Luz etéria, negra e clara, desaguas no infinito das possibilidades de mim. Suposta matéria sem corpo, me envolves o peito até esmorecer a primeira vontade, cantas imponente o início e o fim da esperança e da verdade. Esse teu olhar aparente desconfiado, me olha do canto e por baixo. Não para de me dizer que me tomas na boca e até a virilha não negas... Nego! Em pronúncia trêmula e hesitante, em um texto-desengano. Encantamento ou segurança? Ah instinto de amar o perecível! Necessidade de ter sempre o amor e a fome. Sou garra e crueza, reverso do compulsório. Nem Deus, nem satã. Desequilíbrio na prudência, autodomínio no desgoverno, céu e chão. Eu quero, quero o além. Deixa eu provar cada gota da essência do teu gosto, deslizar no teu corpo sentindo o arrepio da tua pele enquanto toco o teu íntimo. Deixa eu inflamar cada zona erógena dessa tua perfeição material, te tomar pela cintura, agarrar a tua nuca, excitar teus instintos até teu corpo tremer involuntariamente e repetidamente unido ao meu. Agarra minha mão, olha nos meus olhos, toma a minha boca e o meu suspiro enquanto o meu prazer é teu. Nosso. Mistura e sente o ápice dos prazeres, na morte e no renascimento. Tripudias porque mal sei teu nome. Amor, estavas comigo em meio àquela. És tu ou é ela? A minha dúvida é certeza. A busca continua pelo outro decantado. Embora surdo seja o destino do meu clamor no cerne do encontrado. Não há lugar, nem um breve aludir, onde o anelo é imoral, proibido, na pureza singela que te cobre de mistério. Quando serei por ti consentida e tomada afinal? Submersas palavras sem conversa, tristeza a tomar o olhar como pedra duelando com o desespero. Hão de dizer ser coisa pequena, e eu a responder é o meu nada. Abismo e surpresa, nas curvas sem acostamento, nos oásis nada inventados. Meus versos são rubros, sangue e furor incontrolável, rasgo-me a vida para encontrá-la. Triste é a palidez do sol ao percorrer o asfalto do arrependimento das vontades. Saudades da estrada de terra, das árvores ao longo da rua, dos jardins a se preocupar tão somente com a solidão do sol e da lua. Mas a vida simples nunca foi minha. Entre o dia e a noite, as madrugadas como companhia. O entorpecer, as luzes em espetáculo e a cama por fim. Vertigem de ser no indefinível propulsor do caos em mim, e a tua língua na minha desordem como toque de clemência para o ardor em ti. Te apercebas das vaidades, exclua as veleidades, somos mais. Mesmo tu sendo um, eu outro e não nós. Imperfeito, talvez, o momento te pareça, e eu culpo, por um instante, o destino pelo tempo impróprio, pelo discernimento atrasado. Mas agradeço, nem que seja por um segundo, a chance do meu olhar, o teu, ter cruzado. Por isso, como cantaria o Tom, “eu sei e você sabe que a distância não existe, que todo grande amor só é bem grande se for triste”...

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Por onde andam os loucos?

Posted by Eve Rojas on 11:39 AM
Mestre Winnicott, nos diz: “Quando apenas sãos, somos decididamente pobres.” Alguma crítica? Quem se atreve? De certo, não eu. Mas e quando primariamente as subjetividades acreditam no caminho de imersão em ascese? Ou quando as “personas” privadas são desequilibradas e a vida pública esvaziada? Pobres corpos a tencionar tocar as altas virtudes inventadas. Eu aplaudo o fracasso dos tipos ideais. Nada de coações aos prazeres, muito menos aos próprios da insanidade temporária mundana. Na linha da loucura, a expressão mais translúcida da alma, da mente e suas potências. Encaixo-me perfeitamente nessa chamada desordem moral pronunciada pelos prisioneiros da sanidade. Não pára a chuva, deixa cair, deixa chover! Nem todo sol é seguro, nem tudo que reflete, ilumina, e o mormaço desgasta! Entre o frio e o quente, os dois. Tem preço? Vou levar! Nessa somatização das identidades valoradas e rotuladas em corpos doentes descartáveis, eu me diverto nutrindo o palco dos meus “eus” com balinhas mais baratas. Auto-anulação por um padrão? Nunca! Constância sem debilidade, inconstância sem dieta. Performances, performances, fruição, sentimentos, sensações e originalidade. Verdades. O bastante é o excesso em que eu navego. O excesso são as paredes do esperado que me sufocam. Qual é? Dissimulação é artigo obsoleto. Não lhe imponho a minha intimidade, mas se o meu “eu” incomoda, manda decompor a civilidade da ordem! Egoísta? Narcisista, eu? Ah por favor, presta atenção que aparência de algum modo reflete essência. Os meus, os seus, personagens, podem ser reais ou cínicos, mas todos surgem de uma mesma fonte. Lembra da historinha de Lacan e o espelho. O que enxergas em mim pode ser parte do teu ser e não do meu. Olhar pra si é necessário, só cuidado para não escorregar e cair no poço obscuro do teu imo. Evolue. Da reciprocidade, a transformação. Eu vou além. Dos meus olhos, às lentes, ao telescópio, caminho sem horizonte à procura de uma gota transloucada de amor. Por onde andam os loucos meu Deus! Quem enquadrou a pluralidade na conformidade da adaptação estéril? Como ficou tudo tão comum e blasé? Ok, sem nostalgias ou dependências. Como diria uma querida, “tá super combinado!”, esqueçamos os draminhas e nos voltemos a ação. Mas devo concordar, ainda com ela, as vezes dá uma preguiça de ser... Contudo, nada de dar a mão para a indiferença. Imprevistos, inesperados, novidades, surpresas e braços abertos. A inércia é o último tirano, nada de fraqueza de vontade. Vontade só muita! Afinal, o sujeito e seus desejos são o único espaço restante à utopia e a criação. Das “batatas de sofá”, dos “bon vivants”, aos atléticos e saradões. Deixa ser. Sem limites a normalidade desviante, a normalidade ou ao desviante. Integrar, adaptar, flexionar é lógica de mercado. Eu não sou mercadoria, tu és? Desse ordenamento eu sou o caos. Eu fico com a dupla hermenêutica constante de mim. Vamos deslocar e manter o interesse no outro sem reatividade. Demos lugar as liberdades inventivas longe do cárcere moralista. Quero encontrar os néscios da matriz dominante. Quero beber com os ditos estultos e minimizar o contato com os verdadeiros estúpidos retrógrados, iguais, produtos de massa, amantes da estrutura. Parceiros loucos privilegiados, somos todos responsáveis na eliminação da mediocridade do ser. Onde começa mesmo o muro do hospício?

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