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Posted by Eve Rojas on 11:45 PM
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Conjugando

Posted by Eve Rojas on 11:37 PM

Àqueles que já desejaram os mesmos amores. Festejaram os mesmos ídolos. Sonharam os mesmos sonhos. Fugiram juntos, voltaram juntos, acreditaram juntos. Experimentaram sabores diversos. Freqüentaram os mesmos bares suspeitos, inóspitos, impensáveis. Tomaram uma long long neck à beira da piscina, subindo escadas, varando madrugadas. Que observaram juntos o “sol nascer” às nove da manhã. Deram lição de moral pelos excessos e riram juntos como se já soubessem que de nada adiantaria. Saíram do outro lado da cidade apenas para fazer companhia a quem estava cercado de gente. Que mesmo distantes, falam um do outro como se estivessem presentes. Que cantaram aquela música. Aquela! Como se reafirmassem sempre a mesma cumplicidade. Dividiram o sanduíche, esperaram o ônibus que não veio e voltaram de carona para casa. Dirigiram a vinte por hora, conversaram sobre coisas completamente opostas, param no lugar que nunca havia sido combinado e ainda foram felizes, sorridentes com o entendimento. Ligaram à meia-noite, preocupados com a sua insônia. Ligaram a esta mesma hora para te contar da deles. São ainda, aqueles que dizem as maiores verdades sem nenhum pudor, deixam as mãos estendidas e o ombro disponível. Falam com os olhos e gesticulam com as palavras. Gastam horas infindáveis em diálogos descontraídos, em discussões inventivas. Emocionam-se, só de pensar na hipótese do seu sofrimento. Festejam o teu sorriso com mais entusiasmo que você mesmo.

De mal-humor, de bom-humor, autênticos, clichês, intelectuais, sábios do senso comum. Loucos, pouco loucos, ditos normais, ousados, conservadores, bregueiros, clássicos, metaleiros, contemporâneos. Pouco importa. Não estou escolhendo produto. Estou conjugando verbo, saindo da primeira pessoa do singular. Do caos para a ordem, da ordem para o caos. O impulso de ir para além de si em confronto com o de permanecer em si. O conectar-se. Com o Outro, consigo e com os outros. O conquistar da segurança. Abraços apertados, chopes gelados. Liberdade, individualidade, empreendimentos criativos. Cumplicidade. Onde cada um é convocado tão somente para ser o que é. Sem subterfúgios. Sem máscaras para o corpo ou para a alma. Sem medo de julgamentos frente a uma humanidade comum. Ilumina-se o “true self”. Rompe-se com a pseudoproteção isolante do egocentrismo. Longe de ter um sentido efêmero. Mas ancorada em um conhecimento intuitivo. Espontânea e desinteressada. Uma realidade em evolução que se aprofunda, convida ao crescimento e estimula o confiar. Imune às crises de fé. Não fomenta emoções transitórias. Permanece. Têm o dom real da eternidade. É quando a verdade inspira a vida. E compartilha-se. Experiências de alegria, de angústia, de dor, de amor. De vida. Confere-se um novo sentido para ela. Não há escolhas. Há encontros. Reconhecimento pelos sinais expressos n’alma. Sem preconceitos, sem conceitos, sem rótulos, modelos ou restrições. Apenas encontro. Sincronia partida de um ponto comum em um jogo de aproximações e contrastes. Amizade.

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Posted by Eve Rojas on 10:27 PM
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Round here...

Posted by Eve Rojas on 10:23 PM
“Estou condenado a ser livre”. Sartre. Permita-me meu arquiteto – da filosofia – começar a responde-lo, em gratidão as suas palavras, a partir deste mesmo gigante citado por ti. Gosto dos existencialistas. Da crença em que o homem está por sua consciência sempre além de si mesmo. Instigante pensar que a consciência é um “ser para si”, não é? Embora eu goste mesmo é da dialética hegeliana, do ser-um-com-o-outro”, da tensão entre opostos. Mas sigamos no pensamento de Sartre. Cheguemos às escolhas. Na compreensão de sermos seres de possibilidades. De sermos livres. Tão livres que nenhum limite pode ser dado a nossa liberdade, a não ser, a própria liberdade. Para Sartre, as escolhas que fazemos a respeito de nós mesmos podem nos levar ao encontro ou a perda de “si”. E aí eu me incluo. Começo a escrever em primeira pessoa. Junto com o mestre reconheço a minha responsabilidade diante da criação do meu universo. Todavia reconheço também que o poder que nos é delegado, o “ter a possibilidade de fazer”, traz junto o ter medo de vir a fazer. Uma vez que para além das escolhas, há a liberdade negativa, as conseqüências. Um medo necessário e justo. Em defesa do “eu”. Mas Sartre é cruel. Não nos dá chance alguma de existindo, compreender as causas do ser.

Ademais Sartre utiliza-se da angústia, com influências advindas de Kierkegaard. Eu não entendo nada de Kierkegaard. Em contrapartida entendo de angústia. E a minha vai mais ou menos de encontro a que Sartre fala. Do exagero e do despreparo. O livre arbítrio é tanto que só me resta a consciência da imprevisibilidade do meu próprio comportamento. Ao mesmo tempo, não quero agir de má fé comigo mesma, nem com os demais. Parar em que lugar? Seguir para onde? Não quero e não tenho negado as minhas possibilidades... Eis o(s) dilema(s). Cada escolha uma renúncia. E as escolhas têm sido muitas. Tenho experimentado a loucura e o enfado. O desejo e a indiferença. Transgredido a ordem habitual e respeitado o caráter.

Hum...Permita-me agora esquecer Sartre. Já estamos quase nos labirintos, nas circunferências sem causa, e está começando a me dar “A Náusea”. Vamos às rupturas, as benditas. A estas estamos fadados realmente deste o início da vida, embora, ocorram sempre no arfam de gerar o novo. Entrementes, a plenitude clama pela necessidade e experiência da dor. Não há aquele que possa poupar o sofrimento, nem o que possa restringir a felicidade. Faz-se necessário apenas construir pontes, para não estagnar. Consoante, a figura mais importante, tenta soar como coadjuvante. Está lá o tempo. Com um ritmo próprio enquanto cada um tem o seu próprio ritmo de tempo. Há minutos que não podem jamais ser ultrapassados pela vontade da razão ou pelo apelar da emotividade. A cadência permanece, é única. Seja qual for o tempo, caminha como senhor de si.

Minha compreensão é das entrelinhas. Tente me ler do não-dito vocabular, ao dito através dos símbolos da alma. Lembre-se que à condição humana foi determinada a impossibilidade do conhecimento absoluto. Desígnios d’Ele. E eu os aceito e denuncio. Denuncio, assim como Clarice, a nossa fraqueza. Infâmia das palavras que nos traem. Estou aqui diante das significações sem um fixar de sentido. Procurando sentido na intuição. Fechando portas. Abrindo janelas. Buscando os raios de sol.

Comecei uma reforma grande na estrutura, na forma, na disposição e estilo do meu apart-coração. Redesenhei a planta. Derrubei paredes. Joguei fora as grades. Acrescentei novas passagens de ar. Minha varanda agora vislumbra novas paisagens. Usei outras cores, comprei artigos novos, acrescentei fluxo e praticidade ao ambiente. Estou redecorando o interior. Liberando instintos. Pagando a conta sem olhar. Falta apenas reerguer a fé. E esperar a entrega a domicílio do que encomendei. Só falta ele. O artefato fundamental a receber das mãos divinas: O amor.

Eu nunca leio a “sorte de hj” do orkut, mas deparei-me com ela: O nosso primeiro e último amor é... O amor-próprio. – Olhe, reflita e transforme.

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Posted by Eve Rojas on 10:15 PM
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Semper renovandum in futurum

Posted by Eve Rojas on 5:26 AM
Cada um fora alguma vez feliz e ficara com a marca do desejo. É verdade Clarice. É verdade Deborah. Parece que nada se assemelha ao gosto sublime de outrora. Mas é mais. Transporte-se para a outra esfera. Como se algo já tivesse sido dito, pensado, descoberto e escrito no mesmo instante de hesitação no qual se percebe e executa o mundo. Em nome de nada. Em nome de ninguém. Sem nenhum sonho. Sem se ofertar à esperança.

Não escrevo me referindo ao passado, mas ao pensamento hodierno, ao momento, ao tempo. O eterno presente. Letra após letra tento tocar o mundo. Sentir após sentir tento tocar-me a essência e a estrutura. Procuro estar longe da factualidade convencional na ânsia por saciar uma necessidade quase enlouquecida de transpor os meus próprios – se é que assim o são – limites. Quero aprender o meu ser, antes de estar no já. Repudiando o cristalizar de sentidos.

Não sei ao certo que destino dar ao que vivo e vivi. Desconfio dos fatos acontecidos. Às vezes pelo fato de acreditar não saber viver, penso ser personagem de um outro cenário. Em arroubos, a urgência de dividir as interpretações e sensações possíveis das histórias devassadas me toma. Comunico. Grito. Conto indefinidamente. Imaturidade? Talvez. Então, dos segredos intuídos na intimidade e dos aparentes simbólicos, emergem os instantes de compreensão. A ordem em fim clama por restaurar a minha profunda desorganização. Em contrapartida, tal entendimento figura tão somente como mais uma criação. Como um novo mistério.

Estou diante dos mais delicados estados do ser. Na tensão entre posse e controle. Não do outro, mas de mim. Na angústia da exigência de lealdade. Há uma arte em errar, para qual não tenho talento. Há uma arte em burlar o próprio entendimento. Longe de ser artista, sou a mais errante dos trôpegos, e a mais vil do conhecimento. Na estação da dúvida, diante da bifurcação e sem direito a retorno: o corpo, os músculos, os nervos, o coração; parecem esgotados, fatigados, inertes. Mas ainda há uma vontade que exclama: “Resiste!”. Assim: como se lembrasse que para ser sempre amado é preciso iluminar o sorriso. Estimula. E o pulsar retorna, mesmo que a longos espaçamentos. É o ensaiar do recomeço quando se anuncia o fim. É Drumond, o desenhar da nova chance para si. Quando o sofrimento vira aprendizado. Quando a raiva torna-se perdão. Quando a solidão se faz esperança.
Um presente condicionado em frações de segundo. O tempo novamente. Esse mero construto social. Cujo entendimento parte do seu contexto e dos elementos com os quais se articula. Ah Elias...Quem dera pudesse eu a-cor-dar para ele e neste instante descobrir a mim mesma. Como se esta fosse a recompensa pelas cores e o despertar da minha própria experiência. Estou ao lado do telefone, com a chave da porta da frente nas mãos. Quem seria o conviva esperado e que não viera? A mesa está posta. Mas ainda, na verdade, não convidei ninguém.

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Posted by Eve Rojas on 5:18 AM
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When the stars go blue

Posted by Eve Rojas on 5:41 AM
Nesta noite poderia eu escrever as palavras mais tristes. Pelo simples sentir, ou saber da hipótese da tua dor. Estou eu cá, ansiando por estender-te a minha mão. Reverbero: “não é comigo, não é comigo”; mas é o tipo de dor que não se pode aliviar. Por isso peço-te, cuida-te. Não faz o inútil sabendo que ele é inútil. Lembra-te que tu tens uma razão e o exagero da tua sociabilidade esconde teus olhos que guardam teu silêncio, tua fragilidade e tua força, que quando aliada te faz ser de verdade. Entende que a palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda, foi inventada para ser calada – sábias “palavras” de Adélia Prado. Para além delas vêm às imagens, e das imagens, o infinito. O nada. Não estais em lugar nenhum. Quem és tu, promessa feita de pó imaginário? Nada sei do que te oferta tanto poder. Nada sei do que ainda me faz mover. Dizem que o teu sorriso tem se mostrado diferente, quase por te ferir. Percebo então o quanto venho a desconhecer-te, o quanto o vínculo e os gestos estão postos como utensílios do passado, ao mesmo tempo em que algo em mim ainda compreende a profundidade da voz dos teus olhos. Sou aquela jovem que acreditava na virtude, em fazer as coisas corretamente, mas mal podia desconfiar de todas as minhas fraquezas, nem adivinhar o tanto quanto hoje cresço. Por isso, para que esperar mais para que o mundo comece? Para que esperar por quem se ama? Se há a entrega para vida e para morte cada vez que se respira. – É. Res-pi-rar...Percebido por Deborah, anunciado por Junior! Licença asmática, falta de absurdo!

Volto a cena. A escutar os coadjuvantes detentores do meu apreço. Pelo amor estamos ligados, embora assim não o quisesse. “Só tu podes me ajudar”, sofregamente ouço. Não sou ninguém, nada posso fazer, não cabe a mim. Olha minha face e vê. Não é meu este lugar. “Preciso ir, realmente preciso ir”. Instintivamente permaneço, ouço, sofro e corro de lá. Amou-me. Por muito também amei. Como não ter amado aqueles grandes olhos fixos, intensos e incertos? São tantas lembranças abrigadas em cada parte daquele palco. Tanta inocência disfarçada de egoísmo. Tanto amor incondicional disfarçado de raiva. Que Deus abençoe e seus anjos tragam a compreensão para os laços fincados n’alma.

Explodem os diamantes. Apenas o meu corpo sente os pedaços de prismas perfeitos se espalhando no ar. Abarcam-me como o mar, como cada gesto mais simples teu, e não mais me tocam pela demasiada proximidade. Nem amor, nem amizade. Estou no limiar da junção, entre o horror e o cuidado. O meu coração não te procura, o meu amor não te pode guardar, mas tu ainda estás aqui, comigo. O vento continua frio, a soprar em redemoinhos em noites como esta. Em que chove, mas o céu parece mais azul e as estrelas deixam cair o brilho na alma como se fosse uma gota de orvalho a acariciar os lírios e gérberas. E isso é tudo. Astros e cantos ao longe. Estás feliz agora? Para onde tu vais quando te sentes só? Para onde vais quando as estrelas estão tristes? Diz-me. Te seguirei. E se a rua se chamar destino farei com que haja flores nos canteiros.

Como se não bastasse, meu falar se revela agora em trechos de Neruda: Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei. Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido [...] Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda. É tão curto o amor, tão longo o esquecimento. Gostaria que esta fosse “a última dor que ela me causasse, e estes [...] os últimos versos que lhe escrevo”.
Poderia eu, escrever os versos mais tristes esta noite.

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Posted by Eve Rojas on 5:38 AM
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Fluxo dos Fragmentos

Posted by Eve Rojas on 5:36 AM
Tempo. Ritmo lento. Cadencia plena, parcimônia. Ao despertar, a mesma hora. Estou exausta de tamanho enfado. Se, acelero, quebro. Entre a excitação e a inquietude, o tédio. Embora eu esteja a aprender o staccato. Tentado entre um movimento e outro desfrutar da pausa do cansaço. Sem luxo e sem fardo. – Não é não Pedro Salem? – Mas como uma long long neck ainda me chama – não é Mariana? – E eu sou um ser mutante que precisa do fluxo constante, saboreio despudoradamente também das noites nômades. É a luta dos contrários! Será ser assim que se mantêm a harmonia do universo? Penso e sinto como se nada fosse permanente, como se tudo terminasse por ser o oposto do mesmo. Glamour, loucura e prazer das madrugadas que fascinam! Há quem diga que eh purpurina, há quem diga que ela acaba. E acaba mesmo. Mera figurante. Através do entorpecer encontro a vazão da maturidade, do mesmo reconhecer e aceitar de si. Abandono do parecer, do indizível e impensável da fantasia, pelo declarar do instável e do ilógico do ser. Agora sim o herói, o empoderamento. O domínio e defesa dos medos a luz clara da manhã. Reconhecimento das essências imutáveis. Do mundo inteligível. Do chão que não se negocia. À sombra da razão ou sob a luz da fé? Surpresas. Arvore que se alimenta de luz e doa sombra.

Restaurando os pedaços de cotidiano, cheguei ao corpo e deparei-me com o demarcar de um espaço denominado “compartimento de sentimentos”. Pensei então ter a mobilidade de um lego. Juntei mais um pedaço e li “emoções de pacotinho”. Acreditei então ter a praticidade do instantâneo e do “faça você mesmo”. Não obstante observei-me enquanto uma multiplicidade de fragmentos. Intensos. Mas ainda assim fragmentos que precisam de Reich para construir pontes, desmistificar o complexo e encontrar o óbvio.

Depois de mim, cheguei a ti. Conheço todas as cores que eu te dei para que tu pudesses exagerar. Fiz-te Rei. Permaneci a Dama do xadrez. Cuidei, confiei, falei. Fui das letras, o excesso. Tu fostes o propagar da certeza mais incerta. Seguimos a rota da plenitude. Mas sabíamos nós dos desvios na estrada, imperceptíveis aos olhos. Escolhas. Que Deus abençoe estes momentos anônimos e inomináveis nos quais se constrói a verdade. Verdade esta revelada tão somente quando o ultimo tolo riu da própria piada. Não é não Junior? A relação acaba e os pares ainda insistem em caminhar com as mãos dadas. É... Talvez porque o amor trapaceie o Findar e adquira novas formas conspirando com o Expressar e a Eternidade. Em todo caso o jogo continua. As regras não param de mudar nunca. E eu? Vou chamar Cortazar para jogar amarelinha... Ou melhor, como Julio gosta muito de labirintos, em homenagem a São João vou tentar primeiro uma brincadeira mais segura no terreno dos anseios. Irei entender, racionalizar, mensurar, explicar e dar a partida. A minha partida, contrapartida ou despedida. Chame como quiser. Vou soltar o balão. Posto que a posse queima enquanto a liberdade alça o sublime.

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Posted by Eve Rojas on 5:33 AM
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“Negociadas” e “A Negociar”

Posted by Eve Rojas on 8:07 PM
É inacreditável como o passado, em si mesmo findado, insiste em cobrar as marcas deixadas no pueril. O leito foi negado, os limites foram castrados e os atores afastados do palco em meio à necessidade de aprovação nas coxias do teatro. Restaram os cortes. Logo depois vieram as cicatrizes. De combates pacíficos para o mundo e de guerras cruéis dentro do recôndito particular deste ser que luta e sobrevive. Sobrevive de embates com as tempestades. Batalha consigo mesmo. Chega ao final sem premiar, nem reconhecer vencedores. Também não conhece a dor. O que sente? Nada. Chora sem apreender a dor. Tem medo hoje de morrer numa luta que já foi. Passeia no palco da ilusão real entre Brecht e Stanislavski.

Suportei tempos quase infindos a parecer. Existi para cumprir funções sociais e domesticadas. Alimentei o show. Se, tinha desejos, sempre os neguei. Se, tinha dons, por vezes, os abandonei. Se, senti, de imediato congelei. Era o crescer fora de hora aniquilando a necessidade de ser. Desobriguei-me do palco. Os anos passaram. Dia após dia a maturidade da crítica veio exigindo lugar. Então da obediente boazinha, surgia a aspirante a “chica rara” de Martín Gaite, a menina má. Personagem protagonista de si. Sem diretores, roteiristas e escritores a manipular o fantoche predileto dos espectadores do porvir.

Cansada das premissas da superficialidade racional, desenvolvi outras habilidades. Estratégia, Artes em geral, Filosofia do boteco e Arquitetura do novo moderno. Construí uma realidade inversa, me inventei aguerrida em um mundo perverso. Abandonei-me, me perdi, me guiei, me descobri estrangeira, me aceitei. Enquanto mosaico de pequenas virtudes, de dúvidas e dívidas incessantes. Acostumei-me ao imperfeito possível. Embora agora fosse maior, mais forte, mais ousada e guerreira. Na tentativa de desvendar a minha lógica e consciência interna, dividi-me. Em duas. Rompi com o casulo, ganhei um corpo leve, mas ainda insistia em trazer comigo o berço. Todavia, hoje vou por em leilão minha origem, vou ofertar minha identidade primeira. Ou quem sabe decretar falência, já que ela vive em crise extrema. E cá pra nós, nem um ombro agüenta! É isso aí. Vou abrir com outro nome, anunciar uns títulos, trocar outros na boavespa. Afinal, instabilidade por instabilidade, como eu não sou uma investidora racional vou aderir a behavioral finance e confiar no meu Back Office.

Não estou mais na platéia a assistir o espetáculo de mãos atadas. Na verdade já estou por aí. Protagonizando entre as quedas, superando pedras, me pondo a prova, exigindo respostas, me associando a desejos, me amigando aos erros, experimentando valores, saboreando dês-construções, apreciando as flutuações, testando os verbos, eliminando a perfeição do correto, repudiando o trivial, amando o simples; sendo eu. Sendo o ser. Deixando ser. Fácil e dez – complicado.Tudo culpa do amor, que me outorgou talismãs.

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