When the stars go blue
Volto a cena. A escutar os coadjuvantes detentores do meu apreço. Pelo amor estamos ligados, embora assim não o quisesse. “Só tu podes me ajudar”, sofregamente ouço. Não sou ninguém, nada posso fazer, não cabe a mim. Olha minha face e vê. Não é meu este lugar. “Preciso ir, realmente preciso ir”. Instintivamente permaneço, ouço, sofro e corro de lá. Amou-me. Por muito também amei. Como não ter amado aqueles grandes olhos fixos, intensos e incertos? São tantas lembranças abrigadas em cada parte daquele palco. Tanta inocência disfarçada de egoísmo. Tanto amor incondicional disfarçado de raiva. Que Deus abençoe e seus anjos tragam a compreensão para os laços fincados n’alma.
Explodem os diamantes. Apenas o meu corpo sente os pedaços de prismas perfeitos se espalhando no ar. Abarcam-me como o mar, como cada gesto mais simples teu, e não mais me tocam pela demasiada proximidade. Nem amor, nem amizade. Estou no limiar da junção, entre o horror e o cuidado. O meu coração não te procura, o meu amor não te pode guardar, mas tu ainda estás aqui, comigo. O vento continua frio, a soprar em redemoinhos em noites como esta. Em que chove, mas o céu parece mais azul e as estrelas deixam cair o brilho na alma como se fosse uma gota de orvalho a acariciar os lírios e gérberas. E isso é tudo. Astros e cantos ao longe. Estás feliz agora? Para onde tu vais quando te sentes só? Para onde vais quando as estrelas estão tristes? Diz-me. Te seguirei. E se a rua se chamar destino farei com que haja flores nos canteiros.
Como se não bastasse, meu falar se revela agora em trechos de Neruda: Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei. Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido [...] Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda. É tão curto o amor, tão longo o esquecimento. Gostaria que esta fosse “a última dor que ela me causasse, e estes [...] os últimos versos que lhe escrevo”.