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Vontade de partida

Posted by Eve Rojas on 4:05 PM
Ó tirânico Amor, ó caso vário
Que obrigas um querer que sempre seja
De si contínuo e áspero adversário...
Luiz Vaz de Camões


Saberá Deus o que em mim anseia despedida, será talvez a sede pela perpetuação? Será essa necessidade veemente pelo avesso, por ter o que nada contém? Será reversível esse gosto pela ausência e pelo desconforto? Esse querer guardar intocável a ternura do coração do outro, mas sem dor e penitência? Quero o sumo pungente do instante-santidade contigo, meu outro pretendido. Embora sem ti no amanhã da tua sorte. Do inseguro, a certeza ri e chora. Embora as seduções, jogos, detalhes e armadilhas, afetem a ambos nos braços da vida. Abraços a cortesã! Indícios e ilusões antevistos na cama efêmera do eterno. Entre as paredes do gozo, em meio aos lençóis da quimera, avisto a porta do nunca e passeio no corredor sem-fim de “ninguéns”. Ao final, a proeminente amante, sem rosto, fende e não ofende. Luz etéria, negra e clara, desaguas no infinito das possibilidades de mim. Suposta matéria sem corpo, me envolves o peito até esmorecer a primeira vontade, cantas imponente o início e o fim da esperança e da verdade. Esse teu olhar aparente desconfiado, me olha do canto e por baixo. Não para de me dizer que me tomas na boca e até a virilha não negas... Nego! Em pronúncia trêmula e hesitante, em um texto-desengano. Encantamento ou segurança? Ah instinto de amar o perecível! Necessidade de ter sempre o amor e a fome. Sou garra e crueza, reverso do compulsório. Nem Deus, nem satã. Desequilíbrio na prudência, autodomínio no desgoverno, céu e chão. Eu quero, quero o além. Deixa eu provar cada gota da essência do teu gosto, deslizar no teu corpo sentindo o arrepio da tua pele enquanto toco o teu íntimo. Deixa eu inflamar cada zona erógena dessa tua perfeição material, te tomar pela cintura, agarrar a tua nuca, excitar teus instintos até teu corpo tremer involuntariamente e repetidamente unido ao meu. Agarra minha mão, olha nos meus olhos, toma a minha boca e o meu suspiro enquanto o meu prazer é teu. Nosso. Mistura e sente o ápice dos prazeres, na morte e no renascimento. Tripudias porque mal sei teu nome. Amor, estavas comigo em meio àquela. És tu ou é ela? A minha dúvida é certeza. A busca continua pelo outro decantado. Embora surdo seja o destino do meu clamor no cerne do encontrado. Não há lugar, nem um breve aludir, onde o anelo é imoral, proibido, na pureza singela que te cobre de mistério. Quando serei por ti consentida e tomada afinal? Submersas palavras sem conversa, tristeza a tomar o olhar como pedra duelando com o desespero. Hão de dizer ser coisa pequena, e eu a responder é o meu nada. Abismo e surpresa, nas curvas sem acostamento, nos oásis nada inventados. Meus versos são rubros, sangue e furor incontrolável, rasgo-me a vida para encontrá-la. Triste é a palidez do sol ao percorrer o asfalto do arrependimento das vontades. Saudades da estrada de terra, das árvores ao longo da rua, dos jardins a se preocupar tão somente com a solidão do sol e da lua. Mas a vida simples nunca foi minha. Entre o dia e a noite, as madrugadas como companhia. O entorpecer, as luzes em espetáculo e a cama por fim. Vertigem de ser no indefinível propulsor do caos em mim, e a tua língua na minha desordem como toque de clemência para o ardor em ti. Te apercebas das vaidades, exclua as veleidades, somos mais. Mesmo tu sendo um, eu outro e não nós. Imperfeito, talvez, o momento te pareça, e eu culpo, por um instante, o destino pelo tempo impróprio, pelo discernimento atrasado. Mas agradeço, nem que seja por um segundo, a chance do meu olhar, o teu, ter cruzado. Por isso, como cantaria o Tom, “eu sei e você sabe que a distância não existe, que todo grande amor só é bem grande se for triste”...

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