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Perdido

Posted by Eve Rojas on 12:55 PM

Existem aqueles momentos onde todo o sabido de si, toda a força construída em anos de legado para além de si mesmo é tocada suavemente em seu ponto mais frágil por um simples levantar de olhos do desconhecido. Caminho pelas luzes da cidade, entro em ruas desconhecidas, faço o caminho mais longo até lugar nenhum. Não há medo em se perder para quem deixou de se admitir. Semelhante tornou-se igual e nesse caos metropolitano, existe apenas o espectro de mim a vagar entre becos e planos. Abandono velado. Erros honestos. O quão longe há de se ir em angústia paralítica do sentir em abundância? Ah, os humores artificiais! Esses sim tem estrada longa e desconhecida como o abismo. Profundidade mata, superficialidade sufoca. Meus passos são lentos, minha percepção confusa, meu coração agitado. Algumas horas e o pensamento não se esgota, retorna, remonta, remonta e retorna. Os ciclos são inevitáveis nessa cela 1 por 1. Algemas do ente, barras de mim. A chuva vem como punição, e permaneço. Erguida, como deveria estar. Fria, como me ajudaste a ser. Liberto-me. Mas não importa onde eu vá, não importa o que eu faça, me governas. Não há um canto deste pretenso reino onde a tua mão não se erga e mande. A tua lembrança é cárcere sem toque e sem corrente. Dissimulo os enigmas obscuros, pinto o sol em amarelo guache nas tormentas diárias. Transformo em azul a falta de luz que me amedronta. Embora o limite da ilusão, acidental e invariavelmente, se anuncie. Ele está de volta, outra vez. Novas medidas meditam em busca de notas autênticas. Há tanto sangue-amor, tanta dor-arrependimento, tanto prazer-culpa em todos os lugares de mim. Eu não quero ir para casa. Joga fora a essência. Me deixa aprender a ser de novo. De novo. Novo. Novos projetos sem totalidade, engatinhar e me reconhecer outra no espelho, primeiro. Me deixa eliminar o presente de ti em cada ato meu. Cansei das sombras. Compro uma cerveja e volto a andar. Os prazeres são apenas para aliviar a dor. Acendo um cigarro e há quem diga que essa droga um dia vai me matar. Mal sabe este que outra droga mais sublime, há anos, me matou. Corpo é morada, mas como lembrar quando espírito não mais há? Ar. Dá-me. Puro ar aspirado em brancos flocos de neve. Respiração livre, movimentos constantes, desabafos errantes na estrada do desespero tolo. Duelo tosco. A espada é curta e de dois gumes. Plural de feridos por recompensas inúteis para faltas impreenchíveis. Pouco. Tão somente oco onde circundo. Falhei. Tudo, é, sem mim. Barato sem universo, pó mágico e “era uma vez”. Brio de paradoxo e incompetência astral na dimensão dos falsos brilhantes. Mas ainda sou o meu duplo guardado de flores e ervas naturais. Embora não saiba se é o fato ou a afirmação plausível a me acalmar quando não existe mais nada seguro. Fatais não são as iras, mas as bengalas para aguentar o passar da vida a enganar a morte ancorada no monte. Cá no chão, reles avisto, não tem remédio, entorpecente ou vício legítimo capaz de anular o sofrimento no lançar-se em acerto de contas com o destino. Te perdôo, me perdôo. Escreverei amanhã, te direi amanhã, porque ontem não fui, hoje não sou e amanhã espero a esperança.

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