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DEScanse as CULPAS.

Posted by Eve Rojas on 1:22 PM
Algumas vezes me pego tentando reproduzir na vida diária alguns devaneios de Virginia Woolf, me permitindo entrar no seu outro mundo, compartilhar de suas mesmas dores. Penso como seria fantástico não importar mais. Excluir o peso da luta, das preocupações, do fracasso ou mesmo do sucesso. Navegar em uma inteligência flutuante, ser um observador voluntário. Mas não sou genial, minha dor não é tão imensurável e os meus bolsos são rasos. Mesmo com a ameaça de desaparecimento, com o enfrentamento da escuridão, não há paz se evitando a vida. É impossível viver sobre a hegemonia do prazer, a infelicidade é condição estrutural. Guardo as minhas esperanças agora como punhos cerrados no meu íntimo. A dor é alívio, e eu já não sou um romântico qualquer. Não manipulo as minhas necessidades, uso a escassez e a virtude como vetor emancipatório e vejo, entre o eterno e o irremediável, o início e o fim do prazer e da realidade. Confiar sem reservas já não é uma opção, embora permaneçamos vivos pelos outros. Restrições a parte, surgem as vozes. Renuncio às satisfações instintivas ou não me amedronto diante da punição. Contudo, nada alivia o sofrimento permanente da culpa do feito ou do enfrentamento do não- concebido. Entro no rio. Direciono a minha consciência para o comportamento racional, ouvirei vozes silenciosas. Todo o abandono de si é resiliência da moral. Mas não para mim. Explicação corajosa é honestidade como final. Liberte a supressão, não resista a cura, gratifique os desejos e reconheça. Reconheça erros e acertos seus, não há poder soberano sobre os outros. Fortaleça Eros e não o sublime anunciando a destruição. Pulsões fazem parte do orgânico a restaurar o estado anterior. Rompendo a expressão de inércia, recusando satisfação na doença ou gratificação em sofrimentos usados como meio de coação. Quanta estupidez. Queria neutralizar-me, tornar-me inanimada de vez em quando. Ser passiva do primeiro instinto. Baça, irremediável e rasa. Algum dia já foi previsível morrer nessa química da vida jovem. Objetivo inalcançável na passionalidade da força vital original. Eros sempre se sobrepõe a Thanatos, toda molécula procura vida nessa linha tênue de abolição. A natureza provoca tensões e o organismo pode ser seduzido pelas falsas promessas de alívio imediato ou aceita a jornada da lida com a libido e a agressão. Me apaixono pelo destino da energia, da fantasia, da arte, da memória da gratificação. Sexualidade ou pulsão de morte, transformação é destino único. Minha vida não é um instrumento de trabalho, os produtos não são independentes e o poder é meu nessa ativação de personalidade produtiva. A morte pode ser final de tempo, mas a alegria é breve eternidade. Me acolho no Nirvana da gratificação constante, Eros e Thanatos em paz, estado sem carências. Não quero a dor de Brutus ferindo a quem ama e se escondendo na fraqueza da sua virtude. Quero olhar no espelho, suportar, reconhecer e amar os reflexos. Vejo os meus, vês os teus? Ou tuas drogas lícitas te facilitam absorvição? As minhas são apenas canais, vertentes da minha realidade emocional. Faço o que sou. Cansei dessa pretensa maturidade dos amantes do espetáculo. Prefiro o espetáculo inocente, ingênuo no experimentar de si mesmo. Pessoas livres. Não exijo o que dou mas se exiges ao menos comece a dar. Memória do passado é domínio de outrora. Jamais somos os mesmos. Será que sabes quem és hoje? A moralidade é socialmente útil mas a coragem da sinceridade interior é irremediavelmente necessária. Impeça a alienação, não permita o consumir-se pelo medo, faça as pazes com o ato de bondade. Leve em consideração sua crença no correto, mas acredite: em consideração não há julgamentos há reconhecimento de sentimento. É a generosidade de ouvir como se fosse a si mesmo. Me permita dizer Virginia, cada um se tem fechado em si. Como um livro que se conhece a cor, como um livro que os amigos levam apenas o título, cuja tinta algumas vezes é, ao próprio autor, invisível.



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