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SELF-SURRENDER

Posted by Eve Rojas on 10:32 AM
"Maravilha do vento soprando sobre a maravilha
de estar vivo e capaz de sentir
maravilhas no vento -
amar a ilha, amar o vento, amar o sopro, o rasto -
maravilha de estar ensimesmado
(a maravilha: vivo!),
tragado pelo vento, assinalado"
Mário Faustino

Fala acelerada. Corpo desajeitado ainda desacustumado com a perfeição e o flutuante. Frio intenso. Está tudo bem? Está. Mãos geladas. Medo da morte. Percepção alterada. Acho q não estais bem. Eu estou bem. Talvez eu não esteja bem. Eu não estou bem. Eu estou bem? Está tudo bem, senta-te um pouco. Ah! Quão maravilhoso é o respirar. Posso sentir o ar me invadir e me atravessar. Estou tão bem. Que festa incrível. Quem são essas pessoas? Eu não as convidei a entrar. Escuta! Está tocando as minhas melhores músicas! E elas parecem tocar em mim, cada compasso, cada batida, cada nota! É! Deixa esse povo dançar. Meu Deus quantas luzes. Nunca vi tantos arco-íris. Tantas formas. Só eu posso ver, só eu posso tocar. Eu sou a melhor pessoa do mundo e apenas com meus amigos divido lugar. Queria tanto que estivesses aqui. Estou tão linda hoje. Queria poder te tocar. Ninguém me merece. Não suporto ninguém deste lugar. Vão todos embora! Não, não. Está bonito como está. Fiquem e dancem para o meu prazer aumentar. Só não me cheguem perto senão vou alterar. Água, eu quero água. Gelo também. Estou um pouco quente, minha garganta arde um tanto, dê-me tão somente para aliviar. Líquido fantástico que percorre o meu corpo, gelo que toca devagar a minha pele, mãos que me acariciam com tanto cuidado, como se sentisse cada poro da minha pele. Delícia! Que estado sublime! De repente atingi a completude. Estou plena! Mal posso crer! Passei tantas horas, tantas noites, a buscar! Neste instante, eu me basto. O poder é tanto, a felicidade é tanta! Quero gritar! Mas ainda há fantasmas a expurgar. Centro em um feixe de luz. Começam a aparecer algumas figuras, a muito conhecidas, em meio a um desfile de flashs demodè. Através de rótulos que anuncio, começo a eliminar uma a uma. Depois disso é como se desse adeus a todas elas ao mesmo tempo em que sofro a falta de algumas. Mas ainda assim é um adeus. Estou repleta. Nunca experimentei tanta felicidade. O frio está voltando. Minhas mãos estão geladas novamente. Meus pés estão frios. Meu corpo treme. Quero deitar. Vamos dançar? Não, não. Estais bem? Sim. Estou. Deixe-me aqui. Mas volte quando acabar.

Uma escolha. Pela falta de controle e disciplina. Satisfação da força vital que me impulsionou para fora da minha redoma diária. O Encontro. De um espaço de exteriorização para longe do campo de regulação que me envolve. Tensão. Entre o mundo interior e exterior. Colisão. Realização do eu. Descoberta, renascimento, surgimento, aceitação. Vivencia da minha realidade subjetiva através de uma experiência do “mal”, da transgressão, do rompimento com o conforto, da busca por um outro universo capaz de encaixar o meu desencaixe. Deparei-me mais uma vez com a minha singularidade e distinção. Por um instante pensei ter em mim toda humanidade. Ô egocentrismo!É, tenho mesmo e pareceu-me irremediável ao passo que me é tão cara a coletividade. Cultivei-me, entreguei-me, rendi-me ao self. Eis a minha verdade para além da máscara da sociabilidade. A felicidade suprema teve um preço. O dos tormentos. Mas até mesmo estes pareciam acrescentar ao prazer. Pelo caminho da extrema prosperidade, no limiar da dor, conduzi-me então. Senti-me quase um Sinclair de H.Hesse, em Demian. Frente ao horror e fascínio da descoberta da dualidade do mundo e de si. Vivi uma multiplicidade de desejos e de estados. Picos de angustia e prazer inenarráveis. Uma experiência fantástica do outro lado.

No dia anterior ouvi tua voz. Muito estranho. Não tinhas mais lugar. Instantes depois, minha temperatura subiu e meu corpo febril, cansado da inquietude, adormeceu devagar. No dia seguinte, em estado de graça, te vi vindo, aparecendo para mim a flertar. Tu agora tinhas lugar. Eu apenas queria dividir, compartilhar o prazer, te contar. Mas não fui a tua procura. Despedi-me de ti e voltei a me amar. Como quem descobre que tu não és o que eu preciso. Tu me ofereces uma montanha com um vulcão adormecido e eu quero a imensidão do oceano rumo ao infinito. Percebi que existem certos paraísos artificiais que nos fazem conhecer as nossas certezas mais reais. Nesta noite, tive a mais bela comprovação de que a felicidade é um atributo da alma de mil flores dos mortais.Tudo que se foi está terminado. Tudo que se foi está terminado. Não há mais lugar. That’s over.

E eu vou deixar de besteira e vou ouvir os conselhos de Hermann Hesse para alcançar o caminho da libertação , eram para Harry Haller, mas eu vou me apossar: “Em vez de reduzir o teu mundo, de simplificar a tua alma, terás de recolher cada vez mais mundo, de recolher no futuro o mundo inteiro na tua alma dolorosamente dilatada, para chegar talvez um dia ao fim, ao descanso”.

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