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Realismo fictício

Posted by Eve Rojas on 6:36 AM
E eis que estou eu a resignificar sem resquícios de significado.
Sabino, me conta! Onde está o valor das coisas? No tempo que duram? De certo que não.
Esta na intensidade com que acontecem, certo?
Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.

Duas horas da manhã e eu ainda estou acordada. O telefone acabou de tocar. Hesitei. Mas a quem eu estava querendo enganar? É claro que eu atenderia. Foram dias tão intensos que acabaram por destituir a soberania do sujeito pseudofilosofante. Tu poderias me ajudar a resolver o meu mais novo engano? Descobri que o verão não é exatamente a minha estação favorita. No entanto, não negarei que tem a sua beleza, assim como não negarei o quanto eu a desfrutei, o quanto fui feliz e o quanto em dias nublados sinto falta.

Dias e noites quentes. Cores, estilos e luzes que despertam na pele o desejo. Sets múltiplos que não se comunicam mas se oferecem entre si. Ouvidos surdos à procura de vozes histéricas parar fazer os lábios sorrirem. Várias taças que esperam apenas um “sim”. Cigarros de cheiro e sabor, balinhas de todas as formas e cores, eis os brindes para aqueles que não conseguem dormir. Contudo, diga-me: O que realmente desejas? Eu trarei agora para ti. Pare de refletir. Esqueça as questões. Achou? O perverso e o descolado do ambiente. Estilo? Pose. Um campo de experimentação e nada além. Just let yourself go. Deixei. Put your feet up! Coloquei. Pois é, sobrevivi às estações. Longe da insônia te achei e lembrei de Drummond quando ele disse que o "eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundos [...] e nenhuma força consegue destruir." Porque é real, porque é amor. Lembrei de mim. A partir de então o calor começou a queimar, o silêncio passou a ser música e... dormir? Só de conchinha.

Cansei da falta de convenções para a conduta dos falantes. Já me basta ter de aguentar a vida com a sua performance de ironias e sarcasmos. A ficção é feita de compreensão – palavras – e eu só quero contextos mais cotidianamente reais. Quero inventar um universo mas quero poder falar sobre o mundo. Quero a honestidade intelectual mas quero o reconhecimento “existencial” do ser. Não quero olvidar o meu corpo e empenhar o meu intelecto. Escolherei o academicismo e continuarei a falar espontaneamente. Não sei se me rendi à lucidez ou aderi de vez a loucura. Passei pelas portas do medo, do impulso, do lúdico, da culpa, do amor, do perdão, da dor, da maturidade. Alguns me alertaram: não se perca, não se deixe perder. Perdi o meu, achei um novo. Achei o nós e lá se foi o lugar da ausência.

Submersa em instabilidade, ausência de vigor e atenção. Amei os saltos mortais, os arcos incendiados e a domesticação do vento. Até tu me presentear a harmonia, me ensinando a praticar exercícios interiores. Mas entre ela e o mundo ainda reside o possível e o impossível.

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