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AIR

Posted by Eve Rojas on 6:24 PM
Perderam-se. As folhas, as pétalas da primavera. A fé vacila na avenida das ilusões floridas, no cruzamento das dores do jaz e do porvir. Um sonho perdido que leva ao ânimo vil. Um grito que se esvai em um vão ruído direto no nada. Uma sombra de ilusão. Um canto de outrora, insolência, que não encanta o ouvido, mas fascina a consciência. Infausta glória disfarçada de virtude. Eram as manifestações de Eros, visíveis e bastante espetaculosas. Poder-se-ia presumir que o instinto de morte operava silenciosamente dentro do organismo, no sentido de sua destruição. Ou mais precisamente que uma parte do instinto era desviada para o mundo externo e veio à luz como agressividade e auto-destrutividade. Na verdade não sei. Nunca entendi Eros. E na verdade nem quero. Porque não é dele que padeço, é antes de um amor primeiro. O que sei, é ser melhor sentir todas as dores do corpo, tê-lo exaurido, do que suportar esse sofrimento mental, este espectro de sofrimento, que afaga e nunca dói o bastante.

Pois é. Aceitemos a necessidade. A incompletude humana. Condição primeira de todo desenvolvimento do ser. Celebremos. A vida de desejos que pode ser controlada pela vida intelectual. É, pode. Responsável pela construção do corcel dos ventos, do temporal e... De mim. Que faz surgir, no meu rosto, a dor que mal diz o que é. Na verdade, nem meu espelho reflete mais um rosto que seja meu. Neste momento, acredito ser até bom. Como diria Clarice: “Eu própria, eu propriamente dita, só tenho mesmo servido para atrapalhar”.

Confiança aos que se enamoram da virtude. Já não a tenho mais. Apática, vislumbro uma fatídica realidade. Mas não aceito o céu dos domesticados. Quero acompanhar os fluxos, a vida está dentro deles, seguindo em uma velocidade na qual ou o meu poder me torna absolvida ou eu erro de itinerário e sou expurgada. Estou tentando viver a cada dia uma vida singular. Uma vida dentro da vida. Onde uma só hora representa a vida inteira. Estou aspirando a vida aos longos tragos. Como se a cada um buscasse a força para continuar a seguir, a perseguir o confiar. O pensar move, a indignação, a inquietude, inspira. Quero continuar me expondo ao risco de ser perturbada, quero ao menos, rir do mundo à minha volta.

Qual é a potência do self
humano, a agência, que te permite atuar de modo especificamente humano? Tu és consciente do ar que respiras? Sei que compartilhas do mesmo ideal. De uma consciência e uma razão concebidas como atributos inerentes, essenciais à mente humana. Em embate a uma quase superioridade da vida dos sentidos e do desejo. São tantos os confrontos. Só me resta o despojamento voluntário do eu. Começo a habitar modestamente as asas das celestes auras. A solidão não ameaça mais a imagem que cultivo sobre mim mesma. Nem o espelho perverso do outro me reflete mais. Imagino, acredito então que tenho a capacidade de persistir. E a saudade agora é tão somente a ironia do exaurir das horas.

Tu sabias que a esperança
consiste às vezes apenas numa pergunta sem resposta? Dizem que um dia a fé me encontrará novamente. Mas não importa. Porque esta é uma batalha para qual não tenho defesas. Em minhas mãos está o sol da liberdade. E, quem sabe um dia faço feliz a borboleta que trago em mim, quem sabe um dia dou a ela o direito de voar.

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