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Rompantes pueris, viagens de aluguel.

Posted by Eve Rojas on 6:34 AM
Se foram as lágrimas, as quais mancharam o rascunho do papel que as secou. Ficaram as marcas. Acabamos aqui. Com ou sem o conhecido “quem sabe”. Eu nunca tive tanto os meus vinte e um. Inocente. Irracional. Imbecil. Emocional. Tola. Inconstante. Boba. Intolerante. O teu cigarro ao meu segundo. Mais uma hora, ao meu clamor. A efemeridade ao meu amor. A embreagez a minha loucura. Brindemos! Obrigada. Dói. Vai doer muito. Muito. Mas cada lágrima vai levar embora você. E quem ama ou já amou sabe que isto não é apenas um clichê. Todavia são meras construções lingüísticas, fragmentos tecidos a luz da agonia.

O que não significa que eu não te apresente Narciso. Pois é, aquele mesmo que se apaixonou de tal maneira por si mesmo que ao ver a sua imagem refletida na água, buscou-a com tanta vontade que acabou por afogar-se. O mago Freud dizia que o narcisismo gera uma ilusão. A ilusão de construir uma imagem perfeita de si, ideal do eu, que mais adiante vai exigir – por “amar-se” em demasia, o amor do outro. Em outras palavras é o alimentar da ilusão de ser amado e adorado sem restrições. O amor pelo outro vai se confundir de tal forma com o amor que se sente por si mesmo que só poderá investir no outro se isso não significar um menor investimento em si mesmo. Ou esse sujeito pode ainda, transferir a sua relação de narcisismo para o outro, tornado este o ser “ideal”, o seu “ego ideal”.

Vai parar de investir ou vai alimentar o idílico do eu? O que mais apetece, eu não sei. Mas a escolha é antes de tudo um preocupar-se em ser amado do que em dar amor. Será que entendemos nós, o que vem a ser “dar amor” ? Da resposta não sei o correto. Da incerteza, conheço a arrogante protagonista de Dogville e o Seu ego explosivo. E olhe que eu ainda sei que individualidade não é egocentrismo. Ajude-me Piaget, se o sujeito está tão somente centrado em si mesmo como pode este conhecer a si mesmo se é da relação com o outro que o sujeito se define e se constrói? Será culpa do egocentrismo espontâneo? Queremos nós permanecer ou superar uma moral heterônoma? Quebremos o espelho! Por favor, quebremos o espelho.

Vislumbremos o horizonte e a diversidade. O altruísmo e desprezemos a vaidade. Coragem Cabral! Se tu tens que abandonar alguém, antes que seja aqui. Mas como eu não sou Cabral, e conheço bem os meus bem-te-vis; meu coração sangra a partida, a nau me leva e me deixa – te leva e te deixa no – um dia eterno, aqui. (Ah! Movimento contínuo agonizante!)

Nem que eu viva cem anos, jamais esquecerei os dias que aqui passei - penso e repenso, alongo a vista pela praia imensa, plana, terna, quente... Que falta já me faz os grandes arvoredos. Se há uma opção, deixei-me e deixo-me ficar porque este é, ou, ao menos era, um lugar para ser feliz. Hoje tenho o meu destino na mão, fico à livre vontade. Dou-te a livre vontade.

Na noite em que a minha criança te deu “um fim”, dos brincos que me destes, um se perdeu. Assim como o amor que tínhamos. Um, se perdeu. Mas para cultivar a doçura do ser pueril ainda restam os chocolates em tua gaveta. Atenção, atenção! Pequeno príncipe, ou melhor, pequena principesa: Vamos ouvir e aprender mais uma lição da velha história?
Quem és tu? perguntou o principezinho.
Tu és bem bonita.
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o princípe, estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa.
Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- O que quer dizer cativar ? [...]
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa.
Significa criar laços...
- Criar laços? - Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos.
E eu não tenho necessidade de ti.
E tu não tens necessidade de mim.
Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo...
Mas a raposa voltou a sua idéia:
- Minha vida é monótona. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora como música.
E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. E então serás maravilhoso quando me tiverdes cativado. O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento do trigo...
A raposa então calou-se e considerou muito tempo o príncipe:
- Por favor, cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principe, mas eu não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não tem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres uma amiga, cativa-me!
Os homens esqueceram a verdade, disse a raposa.
Mas tu não a deves esquecer.
Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"
(Antoine de Saint-Exupéry)

Volto ao jardim com aquela certeza, com o choro da fidelidade perdida, da lealdade sacudida, com o perfume das flores de outrora. O que é preciso é ser como se já não fossemos. Quem mente para quem? Quem vai esquecer primeiro o sorriso, o gosto, o rosto, o ritmo do pulso, o olhar que diz tudo, ein? Diz-me. Quem? Ah, lamento covarde! Clarice me empreste o tom seco para expressar e ampliar o meu perturbador: “Se me distorcerem, cobro multa. Desculpem, não quero humilhar ninguém, mas não quero ser humilhada”. Não, não Clarice. Não é isso. Somos duas irônicas, mas crias da verdade. Então vamos lá mais uma vez: “Eu te amo, disse ela então com ódio para o homem cujo único crime impunível era não querê-la. Eu te odeio, disse implorando amor ao búfalo”. Melhorou. É o velho “eu te amo”, “eu te odeio”. Peço-te agora, por um instante, licença minha cara. As palavras me correm sem pudores, dispersas e emocionais: Respeito a tua liberdade, incentivo o teu direito de fazer escolhas. Compreendo a tua vontade de às vezes ficar só, reconheço que às vezes te sufoco com as minhas pressões e impressões. Ciúmes, falta de lealdade, matam. Cubro-te de afetos, aplaudo teus desejos de voar, te quero mais livre, te quero mais inteira, do que quando eras quando te conheci. Queria tão somente que a recíproca fosse verdadeira. EU TE AMO. Não preciso mais dizer que te amo.

Finaliza Clarice, com “as sem razões do amor” porque só tu poderias representar tão fielmente e de modo tão realista o amor - este ser tão desvairado. “Eu te amo porque te amo, Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo. Eu te amo porque te amo. Amor é estado de graça e com amor não se paga. Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários e a regulamentos vários. Eu te amo porque não amo bastante ou demais a mim. Porque amor não se troca, não se conjuga nem se ama. Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo. Amor é primo da morte, e da morte vencedor, por mais que o matem (e matam) a cada instante de amor”.

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