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Rotinas e inter-fluxos

Posted by Eve Rojas on 6:17 AM
Acasos nunca ocorrem por acaso. As surpresas do destino, guiadas pelas vibrações intermitentes do universo, são exatas. Só causam espanto a nós, mortais, em toda nossa esnobe limitação da consciência. Expansão, atração, repulsão. Os encontros são únicos, uma combinação perfeita de movimentos. A cada segundo damos um pouco de nós, recebemos um pouco do outro. Equilibramos nossa existência. Nos encontramos, nos perdemos. Colidimos. Num instante o emergir daquele incontrolável súbito desejo impensado, por vezes proibido ou mesmo recatado. As estrelas se alinham, os passos se encontram, as palavras se tocam, as bocas se entendem, os corpos fantasiam. Êxtase. Depois de muitos cigarros, copos, garrafas e alucinógenos, a realidade se impõe na simplicidade do beijo, mas já não somos capazes de reconhecer. O passado, a dor, a mágoa, a fuga, se refugiam na escuridão ofuscando o brilho do renascer das madrugadas. Não é necessário vislumbrar futuro com o instante, mas ir além dele. Reconhecer a fugacidade da vida, se aliar a ela sem se permitir escravizar. Cada pôr-do-sol é único, embora o sol continue a nascer todos os dias. A felicidade é uma escolha solitária que só existe no compartilhar do cotidiano. Rotinas e inter-fluxos. Quero meus olhos atentos diante do caos e do irracional, quero meu espírito indignado e quero reconhecer sempre os dardos irônicos. Ah, admirável harmonia do universo! Quão ultrajante és! Enquanto te deleitas em possibilidades, nos ofereces apenas as vias do fatalismo ou do otimismo. Eu escolho a fúria de negá-las! O meu bom senso é sem razão, a minha razão é passional e minha paixão é fria. Mas sem limites, posso ser também o inverso e o verso de todas elas. Vou do infinito a unidade, da unidade a variedade, da variedade a existência completa, do todo ao nada. Talvez você precise aprender a “ser” sem precisar voltar, se perder sim, provar, continuar e vir a ser “sem novamente”. Regras são criadas para se subverter a ordem e os cortes acontecem para regenerar a pele. O antigo dá lugar ao novo mesmo sem se reinventar o mecanismo. Tua alma é ativa e perceptiva não precisa voltar diante da subversão, mas seguir a potência espontânea do melhor. A beleza do raro não precisa do inteligível, só do sensível anulando a dormência da compulsão. Um dos personagens da obra “Cândido”, de Voltaire, se questiona: “será que há algo mais tolo que querer carregar sem trégua um fardo que sempre poderíamos jogar no chão? Sentir horror pelo seu ser e estar apegada a esse mesmo ser?” E eu tenho que concordar. Chega a ser patético o ímpeto de destruição do humano preso em seus ciclos ridículos de culpa, fraqueza e auto-flagelação. Nosso tempo é tão curto e o jardim é tão grande. Cercados de grandes espíritos não há de haver espaço para a mediocridade. Saboreia o confronto, deleite-se nas possibilidades, transmute certezas em humor, incendeie os mapas e divirta-se com o desconhecido, estenda a mão ao outro e resgate a si mesmo, esbraveje, erre e amadureça. Troque a rigidez pela ternura, a culpa pelo perdão, a dor pelo aprendizado e ame! Os acasos são as vias de transformação que o destino nos reserva, disfarçados de “por acaso”, coadunados com os clichês, desnudam a sua mente e te desafiam a seguir. Siga e seja.

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