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Ímpeto Tempestade
Dias nos quais a terra se move, o chão desaba afastando-nos a cada segundo do céu. As estrelam empalidecem, nebulosas ganham formas quadradas, a lua se maximiza, tudo numa resplandecente melancolia de memórias de amor de antes. Brisas frias, cabeças inclinadas, sorrisos da última lágrima sem fonte. Por onde anda o Mediador? Tudo de cabeça para baixo, e tudo ainda no mesmo espaço. Continentes sem posição central, planetas de cometas, astros sem nação, sol sem meio-dia. Gotas de cacos que não mais se resgatam, mas se juntam num assombroso mosaico. Lã sem ovelha a tecer no desamparo o fio de uma história de quilômetros sem salvação. Quem dera uma performance fosse de um único ser. Vejo somente uma infestação de parasitas a dilapidar os dons. Pobres poderes de papel e saberes de cifrão. O teu é o nosso alheio de estimados domésticos por opção. Selvagem. Tempestade impetuosa das vontades em consequência. Tensões sucedidas por indiferença. Tergiversa meu mediano, tergiversa. Chama o sagrado, a autoridade ou a nobreza. De nada adianta o desespero. Sem ação só te resta o despreparo. Pão salgado e nenhum vinho. Confundiste, repetiste: "Que jamais lhe falte a trapaça". Tinha uma brecha na tua muralha onde A palavra restava em pó. Salva, salva! Quem por hora terá músculos incorruptíveis? A guerra é vinda, é cinza, vai ser devagar ou num pulo só? Te lança no encerrado, no devastado joga um pó além. Tem de haver os meditativos nirvanas nos desertos de expressão. Substantivos mútuos, construam o arco de Íris. Filha de nuvens e mar anuncia a paradoxal Hera. Somos todos náufragos em ilhas privadas desconectadas de Gaia. Inconformes no triunfo do bom senso. Doce é a anarquia do adaptável. Observador sagaz, astuto de ocasião. Humana por definição. Nenhum revés define o fim do caminho. Sobe a poeira da rebeldia, sopra a teimosia da paixão. Cega e eleva. Cortes, dores e transformação. Temperança. Te chamam amizade, apogeu dos esperançosos agentes. Chega a hora do belo, do desigual sem equivalente. Desabrocha e não brota em mim. Notas sem corda, cordas sem nenhuma órbita. A nossa constelação transcende, mas há gravidade que a desfaça. Então sente, sente o que enlaça, o que é capaz de misturar óleo e água. A falta, o preenchido e o excesso é privilégio do amor de hoje. Mundo de sabores que se chocam, surpreendem e se provocam na prova de um tudo muito e de um muito pouco. Porque os plenos são assim, repletos de turbilhões, vazios de superfície.